CURITIBA – O presidente da Construtora Norberto Odebrecht, Marcelo Odebrecht, foi preso na manhã desta sexta-feira, 19, pela Polícia Federal, nas mais recente fase da operação Lava Jato. Também foi detido Otávio Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez. A ação da PF em duas das maiores empreiteiras do Brasil também prendeu os executivos Márcio Farias, Alexandre Alencar e Rogério Araújo, da Odebrecht.
Todos os detidos estão sob suspeita desde setembro do ano passado, quando foram citados pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras como responsáveis pelo pagamento de US$ 23 milhões de propina da Odebrecht para uma conta aberta na Suíça.
Batizada da Operação Erga Omnes, a nova fase cumpre 59 mandados judiciais em quatro Estados – 38 mandados de busca e apreensão, nove mandados de condução coercitiva, oito mandados de prisão preventiva e quatro mandados de prisão temporária. Cerca de 220 policiais federais participam da operação. Os presos serão levados para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde permanecerão à disposição da Justiça Federal.
Propina no exterior
Em entrevista na sede da Polícia Federal, integrantes da força-tarefa da Lava Jato explicaram a mais recente fase da operação, que teve como alvo as empreiteiras Andrade Gutierrez e Norberto Odebrecht. Segundo o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, as prisões foram motivadas por pagamentos de propina no exterior via empresas off shore, principalmente a integrantes das diretorias de Abastecimento e Serviços da Petrobras.
As prisões desta sexta-feira foram feitas após delatores indicarem o recebimento de propina no exterior, segundo o procurador. Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco citaram a Odebrecht, mas Carlos Fernando disse que há outras provas dos pagamentos, além das delações. O procurador defendeu que havia elementos para os pedidos de prisão e que a etapa deflagrada na manhã de hoje é uma continuação da 7ª fase. Para ele, as empreiteiras Andrade Gutierrez e Norberto Odebrecht capitaneavam o esquema de cartel na Petrobras.
O delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula disse acreditar que os principais executivos das empresas sabiam do esquema e não combateram as práticas internamente. Bernardo Freiburghaus, que deixou o Brasil e foi morar na Suíça, sendo considerado foragido, foi apontado como o operador da Odebrecht no esquema.
A força-tarefa estimou em R$ 200 milhões o valor das propinas pagas pela Andrade Gutierrez no esquema da Petrobras. O valor da Odebrecht é ainda maior, R$ 510 milhões. Os investigadores disseram que a denúncia do caso Petrobras deve ser concluída até o final do ano e que a força tarefa espera apenas o término dos trabalhos do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Andrade Gutierrez
A empreiteira Andrade Gutierrez emitiu nota oficial nesta sexta-feira, 19, e declarou que ‘não tem ou teve qualquer relação com os fatos investigados pela Operação Lava Jato’. O presidente da empreiteira, Otávio Azevedo, e os executivos César Ramos Rocha e Flávio Lúcio Magalhães, também da empresa, estão entre os presos da 14ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada pela manhã. Há ainda outro executivo da empreiteira com mandato a ser cumprido pela Polícia Federal.
“A Andrade Gutierrez reitera, como vem fazendo desde o início das investigações, que não tem ou teve qualquer relação com os fatos investigados pela Operação Lava Jato, e espera poder esclarecer todas os questionamentos da Justiça o quanto antes”, diz trecho da nota. “A empresa informa ainda que está colaborando com as investigações no intuito de que todos os assuntos em pauta sejam esclarecidos o mais rapidamente possível. Este tem sido, inclusive, o procedimento da companhia desde o início das investigações, atendendo a convocações da Justiça ou comparecendo voluntariamente para apresentar documentos e prestar esclarecimentos, causando estranheza as prisões.”
Azevedo será levado ainda hoje para Curitiba, sede das investigações. A expectativa é que todos os presos cheguem a Curitiba às 18h.
Segundo o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, a empreiteira Andrade Gutierrez pagava propina ao PMDB e ao PP em contratos da sua área, por meio do lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano – preso desde dezembro de 2014, em Curitiba.
Em declaração prestada aos delegados federais da Operação Lava Jato, Costa afirmou que o suposto operador peemedebista chegou a manter US$ 4 milhões à sua disposição no exterior.
“Deste montante, entre US$ 2 milhões e US$ 2,5 milhões eram oriundos de valores pagos pela Andrade Gutierrez”, afirmou Costa em depoimento no dia 5 de setembro de 2014.
(Estadão Conteúdo/ATUAL)