Por que a empresa de ônibus Global Green permanece no sistema de transporte coletivo de Manaus? Nos últimos 12 meses, os trabalhadores dessa empresa realizaram seis ou sete paralisações, deixando a população da zona leste, a segunda em número de habitantes, sem transporte por ônibus convencional. E por que motoristas, cobradores e outros funcionários suspenderam as atividades? Porque a empresa não cumpre a legislação trabalhista, não cumpre os acordos oficiais feitos com o Ministério Público do Trabalho, os sindicatos patronal e dos trabalhadores e passa por cima das normas da Superintendência Municipal de Transportes Urbanos.
Sempre foi assim, desde os tempos em que Alfredo Nascimento era prefeito de Manaus. A Global Green é apenas o novo nome da empresa Vitória Régia, de um empresário que vive no Rio de Janeiro, que esporadicamente vem a Manaus, mas que recebe, todos os dias, as transferências do dinheiro arrecadado nas catracas de seus ônibus em Manaus. Não tem nenhum compromisso com a cidade
A empresa muda de nome a toda licitação. Foi assim na licitação realizada na gestão de Serafim Corrêa; foi assim na licitação realizada por Amazonino Mendes. Serafim dizia à época que era muito difícil lidar com a Vitória Régia, porque o dono nunca estava em Manaus e só ele resolvia os problemas, que eram muitos e constantes. Quando a coisa apertava, ligava-se para o proprietário e ele estava em uma cadeira de sol, sob um sombreiro, nas areias de Copacabana.
O prefeito Arthur Virgílio Neto, no ano passado, declarou à imprensa que a Global devia só de Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) não recolhido à Caixa Econômica Federal a bagatela de R$ 14 milhões. Até hoje, os trabalhadores reclamam que o dinheiro não foi depositado nas contas e os demitidos encontram dificuldades para sacar um dinheiro que é deles por direito.
Na reunião desta quarta-feira no Ministério Público do Trabalho, para discutir medidas a serem adotadas pela Global Green com o propósito de evitar novas greves, ficou claro que a empresa mantém a desordem e que é a única responsável por deixar a população da zona leste sem ônibus. Mesmo assim, a sanha do prefeito se volta sempre contra o Sindicato dos Rodoviários, fazendo coro com o sindicato patronal.
O prefeito Arthur Virgílio Neto tem motivos de sobra, como outros prefeitos tiveram, para fazer uma intervenção na Global Green. Pode, ainda, como medida mais extrema, tirar a empresa do sistema e redistribuir as linhas com empresas mais sérias e comprometidas com o serviço que se propõem a oferecer à população de Manaus. As irregularidades da empresa justificariam tal medida. Se não há previsão no Contrato de Concessão para tal medida, é outra falha que o Executivo precisa corrigir.
A intervenção não é uma medida absurda. Ela ajudaria, inclusive, a Prefeitura de Manaus a se municiar de dados mais concretos sobre os custos das empresas e a acumular subsídios que possibilitem discutir a tarifa de ônibus de forma mais isenta. O trabalho do interventor duraria apenas o tempo necessário para regularizar a situação da empresa e sanar os problemas com os trabalhadores.
Por que não se faz? É uma pergunta que o Executivo municipal precisa responder. Enquanto não age, a empresa pinta e borda a fachada da Prefeitura de Manaus.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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