EDITORIAL
MANAUS – Arthur Virgílio Neto desceu ao fundo do poço. Lamentável decadência de um político que já teve momentos memoráveis no Congresso Nacional. No domingo (25) participou emocionado da manifestação convocada por Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista. Mas o mais deprimente foi comparar o ato bolsonarista às manifestações das Diretas Já.
Arthur Virgílio abraçou o bolsonarismo em 2022, durante a campanha eleitoral polarizada entre Lula e Bolsonaro. No segundo turno, foi ao Palácio do Alvorada declarar apoio ao então presidente, que concorria à reeleição. O apoio de Virgílio foi surpresa para muitos, depois de, durante a pandemia de Covid-19, ter sido xingado por Bolsonaro por abrir valas no Cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus, para sepultar os mortos pela doença.
Desde outubro de 2022, Arthur Virgílio se empenha em demonizar Lula e seus aliados. No primeiro ano do novo governo Lula, se dedicou a fazer análises sobre todos os assuntos, sem enxergar qualquer ponto positivo, como um autêntico bolsonarista.
O ex-social-democrata se transformou em uma figura irreconhecível, ao adotar o estilo Roberto Jefferson. Durante à invasão e quebradeira das sedes dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023, Virgílio Neto ficou do lado dos vândalos. Aplaudiu os atos golpistas, que ele tratou como manifestação.
Nos meses em que o STF passou a condenar os golpistas, o ex-senador clamou pelo perdão às pessoas “inocentes” que fizeram a algazarra no 8 de janeiro, e passou a tratar tais condenações como atentado à democracia.
Diante das revelações da Polícia Federal, após a Operação Tempus Veritatis, o ex-prefeito de Manaus mais uma vez mostrou os dentes para o STF (Supremo Tribunal Federal) e classificou a investigação sobre a tentativa de golpe de ataque ao Estado Democrático de Direito.
Talvez concorde com o discurso de Bolsonaro, que na Paulista, afirmou que não houve tentativa de golpe, porque para isso precisaria de tanques nas ruas e de armas em punho. Justificou a trama para a decretação de um Estado de Sítio, detalhou como seria feito e lembrou que para ser concretizado precisaria da aprovação do Congresso Nacional. Faltou Bolsonaro dizer que para propor Estado de Sítio, o presidente da República precisa de um motivo.
O Artigo 137 da Constituição Federal diz que o presidente da República só pode solicitar do Congresso Nacional a decretação de Estado de Sítio em dois casos: I – comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa; e II – declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira. Nenhuma dessas condições estavam presentes em 2022.
O que Bolsonaro e seus aliados queriam era uma virada de mesa. Sabiam da iminente derrota nas eleições e tramavam um plano para manter o então presidente no poder. Não há outro termo para classificar aquelas ações senão tentativa de golpe.
E os atos de 8 de janeiro foi a última tentativa de buscar apoio das Forças Armadas. Mais uma vez, o plano falhou. Mas Arthur Virgílio não consegue enxergar qualquer maldade nem no plano de golpe e nem no vandalismo na sede dos Três Poderes. Por isso, foi à Paulista, defender o Estado Democrático de Direito, e enxergou na manifestação dos fanáticos semelhança com as Diretas Já. A única semelhança do ato de domingo é com as manifestações pró-ditadura militar, em 1964, senhor Arthur Virgílio.