Da Redação
MANAUS – O site de notícia Poder 360, de Brasília, dirigido pelo jornalista Fernando Rodrigues, estampa na página inicial, reportagem sobre a estratégia do presidente Michel Temer (PMDB) para conseguir maioria no Senado na votação da reforma trabalhista: a distribuição de cargos. O exemplo do site vem do Amazonas. O jornalista Gabriel Hirabahasi, que assina a reportagem, diz que um dos votos que Temer conseguiu reverter foi o do senador Omar Aziz (PSD-AM), em troca da nomeação de Appio da Silva Tolentino para a Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus).
A votação que ocorre nesta terça-feira, 6, na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), os senadores devem aprovar o relatório do projeto de reforma trabalhista. Na semana passada, Omar Aziz fez discurso no Senado posicionando-se contra a reforma trabalhista. Em um vídeo no divulgado no Facebook, afirmou estar disposto a “não votar contra a história dos trabalhadores” e emendou: “Discordo dessa reforma trabalhista e deixei isso claro no Senado”.
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Ao ATUAL, na noite de segunda-feira, 5, Omar disse que não votaria nesta terça-feira, o relatório da reforma trabalhista na CAE. “Estou em Manaus e tenho compromissos aqui amanhã. Não irei a Brasília. Não vou votar”, disse, ao ser questionado sobre a informação do Poder 360 de que ele votaria a favor da reforma de Temer.
Omar também disse que não se posicionou contra a reforma, mas contra pontos da reforma trabalhista. “Existem pontos importantes na reforma que precisam ser aprovados”, justificou.
O Poder 360 diz, sobre a Suframa: “O presidente Michel Temer desistiu do senador Eduardo Braga (PMDB-AM), que tem criticado o governo, e demitiu sua indicada à Suframa. Na última 6ª feira (2.jun), nomeou, no lugar, 1 indicado de Aziz”.
O senador Omar Aziz tem negado, desde que Rebecca Garcia foi demitida da Suframa, que tenha qualquer envolvimento com a troca de comando da autarquia. Ele nega que Appio Tolentino seja indicado dele.
Omar não merece os maiores votos que recebeu no Amazonas e está dentre aqueles vendedores de alma a que se refere Aldo Fornazieri.
Uma manchete considerada à altura de estado democrático de direito é a que se segue:
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Com alguns pormenores da entrevista realizada pelo Brasil de Fato com Carlos D’Incao, historiador e especialista em mercado financeiro internacional, sobre a reforma trabalhista:
(…) Outro ponto muito criticado é a chamada prevalência do negociado sobre o legislado. Na prática, o que pode acontecer com o trabalhador?
Esse ponto é uma gigantesca anomalia porque o texto é claro quando abre inúmeras possibilidades de se negociar inclusive aspectos garantidos na Constituição. Logo, na prática, o próprio Direito Constitucional estará sendo lesado com essa reforma. No fim, tudo estará nas mãos das grandes empresas que, auxiliados por um bom departamento jurídico, poderão fazer uma série de manobras jurídicas.
Na prática será possível se extinguir os direitos constitucionais mais elementares como o 13º salário e as férias acrescidas de 1/3. Isso tudo sem contar o fato de que a própria possibilidade de se estabelecer a chamada “livre negociação” entre trabalhadores e empresários é por si só uma grande farsa. Essa reforma quer retroceder os trabalhadores às condições análogas ao século XIX.
Um dos argumentos do governo para votar a reforma é que ela irá gerar emprego. Qual a sua avaliação sobre isso?
Ao contrário do que o governo proclama, essa reforma tem a tendência de, a curto prazo, precarizar as condições atuais de trabalho e, a longo prazo, aumentar o desemprego. Trata-se de uma relação lógica: se a reforma trabalhista permite aos empresários explorar sua mão de obra por mais tempo e de maneira mais abusiva, haverá cortes e não mais contratações, como alega o governo.
O governo diz que os empresários não contratam porque os custos dos trabalhadores são muito altos. Ao que parece Temer e os tucanos estão observando os trabalhadores de outro país, talvez os trabalhadores franceses… Porque a mão de obra brasileira é uma das mais baratas do mundo… Além disso, é importante salientarmos que essa reforma ocasionará um aumento significativo da rotatividade da mão de obra, uma vez que demitir se tornará um processo ainda mais barato.
A base aliada de Temer tem dito que as reformas previdenciária e trabalhista são importantes para dar um sinal ao mercado financeiro. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, deixou isso bem claro. Como você vê um governo preocupado com o mercado em detrimento dos direitos dos trabalhadores?
Se havia alguma dúvida de que esse governo tinha como principal meta atender aos interesses do mercado, parece bem claro que ela já foi há tempos dirimida. A questão é que o suposto “sinal” para o mercado financeiro não atende a todo o capital existente no planeta. Na verdade, é um sinal para um tipo específico de capital financeiro que aposta em um Brasil “mexicanizado”, onde o custo-trabalho se torna muito baixo. Trata-se de um capital volátil que não pensará duas vezes antes de se retirar de nossa economia caso haja qualquer possibilidade de mudança dessa atual conjuntura.