MANAUS – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, no depoimento à Polícia Federal, no dia 4 de março, que será candidato a presidente da República em 2018. Ao responde a uma pergunta sobre a participação de João Vacari Neto no pagamento de propina na Petrobras, o ex-presidente, em tom de desabafo, faz uma série de críticas à atuação dos investigadores e do Ministério Público e diz que no Brasil, desde o Mensalão, não precisa ter provas para condenar alguém.
Em seguida, ele afirma: “É o que estão tentando fazer comigo agora, só que o que estão tentando fazer comigo vai fazer com que eu mude de posição, eu que estou velhinho, estava querendo descansar, vou ser candidato à Presidência em 2018 porque acho que muita gente que fez desaforo pra mim, vai aguentar desaforo daqui pra frente. Vão ter que ter coragem de me tornar inelegível”.
Em outro trecho da sexta parte do depoimento, Lula diz que se a Polícia Federal busca mesmo a verdade, como diz o delegado que o interroga, deveria mandar prender o procurador que investiga o caso do apartamento do Guarujá. “Se você está atrás da verdade, você mande prender um cidadão do Ministério Público, que diz que o apartamento é meu, mande prendê-lo”.
A sexta e última parte do depoimento é comandado pelo delegado Ricardo Hiroshi. Que diz ter uma última pergunta para Lula, depois de outro delegado conduzir os questionamentos. Segue o trecho:
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA – PARTE 6
Delegado da Polícia Federal:- Doutor Hiroshi?
Delegado da Polícia Federal:- Tenho, mas é rápida. Conversando com o Vaccari Neto, tentando ver se a gente podia, se ele ia se declarar sobre todas as acusações que pesam sobre ele, e ele se colocou na postura bem firme, e eu respeito isso acima de tudo, que ele ia manter o silêncio dele, que é um direito constitucional. Eu trabalho atrás da verdade, é o que me motiva no trabalho da polícia. Tive oportunidade de ouvir alguns desses colaboradores ou delatores, não importa o nome que se dê na situação, e muitos deles realmente colocaram e atribuíram uma determinada responsabilidade ao João Vaccari Neto pra recebimento de valores decorrentes de fechamento de contrato de percentual. Isso é assunto da justiça, vai ser provado com as provas que tem. A minha pergunta para o senhor: o senhor tinha conhecimento disso, nunca teve conhecimento disso, acredita que isso é possível sem o conhecimento do senhor?
Declarante:- Eu tinha conhecimento que o Vaccari era um companheiro extraordinário, foi um grande dirigente sindical e foi um grande dirigente do PT. Eu não acredito que o Vaccari tenha acertado percentual com empresa pra receber, não acredito, não acredito. Acontece que no Brasil nós estamos vivendo um período, desde o Mensalão, que as pessoas não tem que ser culpada, ele não será condenado pelo julgamento apenas, ele será condenado pelas manchetes dos jornais. As manchetes dos jornais amedrontam a Polícia Federal, amedrontam o Ministério Público, amedrontam a Suprema Corte, amedrontam todo mundo, todo mundo. Você vê gente dar declaração que votou contra tal coisa porque passou uma faixa na porta da casa dele dizendo isso. Você entra com um processo defendendo um cidadão, que ainda não foi julgado, portanto ainda não é criminoso, a rede social amedronta a pessoa, ligando, passando coisa pra família. É esse país que a gente está vivendo. Então, o que eu acho que nós estamos vivendo, nós estamos vivendo uma situação em que as pessoas são condenadas antes de serem julgadas. No caso do Mensalão porque não tinha prova, veja, começou com a maior denúncia de corrupção da história da humanidade, terminou com 175… com alguns milhões da Visanet, que não era empresa pública e que o dinheiro foi pago por meio de comunicação. Mas como tinham adotado a teoria da lei do domínio do fato, que foi utilizada para punir (incompreensível) na Alemanha, era preciso condenar. Então o José Dirceu e outros companheiros estavam condenados mesmo que fossem liberados, estavam condenados. Não poderiam entrar num restaurante, não poderiam sair na rua, não poderiam ir pra lugar nenhum. É o que estão tentando fazer comigo agora, só que o que estão tentando fazer comigo vai fazer com que eu mude de posição, eu que estou velhinho, estava querendo descansar, vou ser candidato à Presidência em 2018 porque acho que muita gente que fez desaforo pra mim, vai aguentar desaforo daqui pra frente. Vão ter que ter coragem de me tornar inelegível. Porque, é o seguinte, eu tenho uma história de vida, eu tenho uma história de vida, a minha mulher com 11 anos de idade já trabalhava de empregada doméstica e minha mulher prestar um depoimento sobre uma porra de um apartamento que não é nosso?! Manda a mulher do procurador vir prestar depoimento, a mãe dele. Por quê que vai minha mulher? Por que as pessoas não levam em conta a família que está lá, a molecada frequenta escola. Então, eu quero te dizer o seguinte: eu ando muito puto da vida, muito, muito zangado porque a falta de respeito e a cretinice comigo extrapolou. E olha que eu tenho me comportado, tenho tentado manter a linha, vou cumprir tudo que eu acho que tem que ser cumprido, porque nesse país ninguém cuidou mais de fazer lei pra coibir a corrupção do que nós, ninguém, ninguém. Ninguém. Eu lembro que quando houve a denúncia das Ilhas Cayman, o diretor da polícia foi afastado, imediatamente. No nosso caso, no nosso caso, duvido que um delegado tenha sido afastado pra investigar, e tem que ser assim, por isso é que eu defendo instituição séria. Agora, eu acho que era importante que todo mundo assistisse um pouco “Doze Anos de Escravidão”, pra ver como é que se constrói uma mentira e se condena um inocente.
Delegado da Polícia Federal:- Por isso que eu estou perguntando sobre o Vaccari, que eu humildemente…
Declarante:- Eu sou amigo do Vaccari, gosto de Vaccari. Não, agora veja, qual é a tese? A tese da compulsão, que é a tese que está prevalecendo na delação premiada, a tal da advogada que ganhou não sei quantos milhões na delação premiada, está em Miami agora. Os empresários estão numa situação muito confortável, eu chego lá falo o seguinte “Olha, eu não tenho nada, foi o X que me forçou, ele que me pediu, ele que não sei das quantas.” Está condenado o cidadão. Qualquer bandido que for prestar delação premiada fica manchete de jornal. Não tem lá um tal de Fernando Baiano que vocês citaram aqui, que foi lá e falou “Porque não sei que disse que o José Carlos Bumlai deu 2 milhões e 400 pra nora do Lula” E eu tenho quatro noras e agora eu quero saber quem foi que pegou esse dinheiro. Então, esse depoimento do Delcídio ontem, essa delação premiada, ou seja, nós estamos vivendo que situação nesse país? Ou seja, não existe mais a política, não existe mais a justiça, ou seja, existe uma quantidade de mentiras.
Delegado da Polícia Federal:- Eu, pessoalmente, presidente, eu estou atrás da verdade pessoalmente. Ouvi todos os colaboradores…
Declarante:- Se você está atrás da verdade, você mande prender um cidadão do Ministério Público, que diz que o apartamento é meu, mande prendê-lo.
Delegado da Polícia Federal:- Eu ouvi uma grande quantidade de colaboradores e fui ouvir João Vaccari. Quando gostaria de pedir que o João Vaccari me explicasse sobre essas situações ele falou: “Não vou falar nada” E eu respeito isso, de verdade. Eu acho mesmo que o Estado é que tem que provar, eu concordo com isso. Se da parte do senhor, ex-presidente, falou: “Olha, eu não tinha conhecimento e não acredito que ele tinha”, eu vou respeitar essa posição, não é a tese que, pessoalmente, acredito, mas é a tese que eu vou respeitar.
Declarante:- Está ótimo. Eu espero que quando terminar isso aqui alguém peça desculpas. Alguém fale: “Desculpa, pelo amor de Deus, foi um engano”.
Delegado da Polícia Federal:- O que estiver errado dos meus atos…
Declarante:- Porque, veja, um picareta de um deputado do PSDB, vai ao Janot e faz uma entrega com denúncias e, ao invés de você ter alguma conversa, a primeira coisa que você faz é aceitar? Não, eu, sinceramente, eu acho bom que seja pra cima de mim, eu acho bom que…
Defesa:- Deixa eu só fazer uma pergunta, está encerrado já, né. Já falou tudo já…
Declarante:- Já está encerrado, aqui é só desabafo mesmo.
Delegado da Polícia Federal:- Não, senhor. Está gravando ainda.