MANAUS – Um grupo de pais de alunos da Escola Municipal Professor Waldir Garcia, no bairro São Geraldo, zona centro-sul de Manaus, vem se reunindo com a direção da escola para evitar que ela desapareça do mapa. Eles temem que uma obra do Prosamim para a construção de 1.500 unidades habitacionais leve à retirada da escola do local ou a torne inviável depois de o governo do Estado concluir os trabalhos.
A obra já prejudica a escola, e foi isso que mobilizou parte da comunidade. A diretora Lúcia Cristina Cortez de Barros Santos, afirma que o esgoto, em dias de chuva, fica comprometido. “A água está voltando”, diz. O aterro feito em frente pela construtora Etam, responsável pela obra, está no nível da entrada do portão principal e as áreas mais baixas do terreno já estão abaixo do aterro.
Do lado de dentro do terreno da escola, marcações foram feitas pela construtura. A professora do curso de Geografia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Adorea Rebelo, que fez um estudo sobre o impacto da obra na escola, afirma que as marcações mostram o nível que o aterro da obra chegará. “Do jeito que está já obstruiu a rede de drenagem pluvial e a rede de esgoto da escola”, afirma a professora.
O pátio da escola, uma área de lazer para as crianças e uma área social (cobertura em forma de chapéu) já estão comprometidas. Os banheiros da área social não podem ser usados e o local foi desativado. “Essa área social era usado também pela comunidade para a realização de eventos, mas deixamos de ceder o local porque está alagando”, conta a diretora Lúcia Cristina.
Duranta e enchente deste ano, a água do Igarapé da Cachoeira Grande, que passa a cerca de 200 metros do muro da escola, chegou a invadir as áreas mais baixas da escola. “Isso nunca havia acontecido antes do aterro”, disse a diretora. Nesse período, os alunos chegavam de canoa na escola. Por conta do aterro, os alunos precisam lavar os sapatos com água de uma mangueira, na entrada da escola.
No início deste ano, Adorea Rebelo preparou um parecer técnico sobre o impacto da obra, que a diretora encaminhou para a Secretaria Municipal de Educação (Semed), mas até hoje não houve resposta. No parecer, a professora afirma que a obra é um equívoco, porque precisará ser elevada a um nível ainda mais alto para evitar alagações futuras.
A escola
A escola Waldir Garcia ficou com nota 5,8 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o que motivou a diretora a colocar uma faixa de parabenização à “equipe de sucesso”. Mas os 617 alunos que existiam antes do início da obra do Prosamim foram reduzidos a 220 este ano. “A maioria das famílias que tinham crianças aqui foi retirada da comunidade”, explica a diretora.
A escola também atende a crianças haitianas, acolhidas pela Pastoral do Imigrante da Igreja de São Geraldo. São 27 crianças matriculadas e que passam o dia na escola. “Aqui oferecemos almoço para essas crianças e na nossa escola nunca faltou merenda escolar”, diz a diretora.
As informações são confirmadas pelo militar aposentado Tiago Almeida, que tem uma filha na escola. Ele mora na comunidade há 29 anos e diz que tema pelo impacto ambiental da obra. “A gente ver que não vai dar certo. A saída da escola seria uma grande perda, porque é uma escola muito boa”, disse.
A autônoma Sigride Bispo, que também tem uma filha na escola, afirma que outros três filhos estudaram na Waldir Garcia. “Minha preocupação maior é a escola sair, porque ela foi e é muito útil”, disse.
A diretora afirma que não sabe qual será o futuro da escola Waldir Garcia. “O pessoal da obra, que começou há dois anos, nunca disse nada sobre o que realmente vão fazer. Já pedi informações da Semed e também não tivemos resposta. Tudo foi feito sem consultar a comunidade e a escola”, diz Lúcia Cristina.
O que diz a Semed
A Secretaria Municipal de Educação (Semed) informou que uma equipe do setor de engenharia do órgão vai até a unidade escolar, nesta terça-feira, 21, para averiguar as denúncias feitas pelos pais de alunos, referentes as obras no entorno da escola. A Semed comunica, ainda, que o Prosamim informou que a estrutura da escola não será afetada pela obra.
A seguir imagens da escola e da obra