Por Rosiene Carvalho, da Redação
MANAUS – O uso do Caixa 2 ainda é uma prática entre candidatos nas Eleições Municipais de 2016. A afirmação é do presidente do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Amazonas, desembargador Yêdo Simões, em entrevista exclusiva ao AMAZONAS ATUAL. Na entrevista, Yêdo Simões também criticou o amadorismo dos candidatos e dos partidos; e as injustiça do sistema político, que não permite a renovação. O magistrado condenou as propagandas eleitorais, garantidas a partir de recursos públicos, distanciadas da realidade do eleitor e usadas como canais de exibição de brigas entre candidatos.
O Caixa 2 é uso de dinheiro não declarado e nem controlado pela Justiça Eleitoral nas campanhas. “Essa é uma campanha sem recurso. Mas quem me diz que não há o Caixa 2? Porque ele deve sobreviver. Não tem outra forma”, afirmou Yêdo Simões.
A prática está no centro dos mais recentes escândalos de corrupção no País, como o caso do Mensalão, quando chegou até ser minimizado por advogados dos réus e apresentado como tese de defesa para o dinheiro que circulou no esquema de corrupção. É alvo de investigações da Operação Lava Jato, realizada em conjunto com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. E também é tema central nos julgamentos que o TRE do Amazonas conduz sobre as denúncias de compra de votos e abusos do poder econômico e político no Amazonas nos processos que pedem a cassação do governador José Melo (Pros).
Fundo partidário
Para Yêdo Simões, o sistema político deveria definir uma forma brasileira mais justa de divisão do Fundo Partidário.
“Nesta eleição, quem são os candidatos que vão levar a melhor? São aqueles que são políticos conhecidos; quem é novo e não tem recurso, não tem como chegar à população. Não tem outra forma. O que poderia ser feito era fortificar os partidos por meio do fundo partidário”, afirmou.
Para ele, seria justo que partidos maiores com melhores condições de captação dividissem metade de tudo que arrecadam com os partidos menores. “Se mantivesse o financiamento pelas pessoas jurídicas, se tivesse uma regra. Um limite de R$ 1 milhão. A metade tinha que ir para o fundo partidário para ser distribuído entre os partido menores. Se não tiver uma divisão igualitária, é complicado. Deveria se pensar nisso num modelo brasileiro apropriado para a nossa realidade”, afirmou.
Amadorismo
Sobre os problemas que os candidatos têm com a Justiça Eleitoral, Yêdo Simões afirmou que não há respeito às leis. “Porque na verdade os candidatos e partidos políticos não respeitam a legislação. Só se organizam para o dia do pleito. O candidato se elege e não quer saber de partido. Não se profissionalizam. Eu acho que partido político deveria ser igual a uma empresa. Ter sua porta aberta, arquivo e computadores. Para isso serve o fundo partidário. Mas tem registros indeferidos porque não prestam conta, não têm contador”.
Propagandas
Yêdo Simões afirmou que teme um alto número de abstenção nas eleições de domingo por causa do formato que deu menor tempo de campanha e, consequentemente, menor envolvimento do eleitor.
“Pode ser que tenha abstenção alta porque a propaganda não alcança todo mundo, tem gente que ainda não tem candidato, que não está nem se tocando que vai ter eleição domingo. A propaganda está restrita. Não há uma propaganda educativa, é mais essa briga toda, então ela não alcança o eleitor”, avaliou.
Para o presidente do TRE-AM, esse tipo de propaganda não altera o interesse do eleitor pela política ou pelo voto. “Essa propaganda não chega ao eleitor que está mais preocupado com o filho que vai para a escola, com o almoço de amanhã. Não está preocupado em quem vai votar. Muitas vezes ele decide em cima da hora. Ainda mais numa cidade como Manaus com uma porção de pobreza muito grande”, disse.
Ele afirmou que não há neste contexto uma forma de oferecer candidatos que tenham linhas diferentes de contato com o eleitor. “Não há um meio seguro de se oferecer candidatos de confiança porque o sistema de propaganda eleitoral tem muita dificuldade e também a forma como é feita essa propaganda não traz nenhuma informação para o eleitor. Não existe uma divulgação de quem é a pessoa o que ela faz. Os partidos negociam os horários. Não tem candidatas mulheres. É só para colocar alguém para preencher”, criticou.
Yêdo Simoes afirmou que esse tipo de lógica distancia “pessoas de bem” da política. “As pessoas que podiam participar da vida politica, uma pessoa que é um empresário bem sucedido não quer saber. Vai jogar o nome dele numa coisa dessas?”, questionou.
No interior, o desembargador teme abstenção por causa da vazante. “No interior, o problema é a vazante. O deslocamento é um custo alto para quem não tem dinheiro nem para comer”, disse.
Voto consciente
Yêdo Simões acredita que, apesar do atual contexto do sistema político, a única forma de transformação do País. “Essa é uma eleição diferenciada. O Brasil está sendo passado a limpo. Nós só podemos mudar esse pais pelo voto, elegendo pessoas comprometidas com o País. Não podemos continuar nessa política de eleger aqueles que vem para saquear o País porque vamos sofrer as consequências disso. Somente com o voto consciente podemos mudar esse estado de coisas”, declarou.