Do ATUAL
MANAUS – O cantor e compositor Xauim lança a música “Maria Felipa” e o clipe da canção em que retrata a luta dos escravos no Brasil. A ênfase é Bahia e a data simbólica de 2 de julho. Na música, o cantor exalta a resistência e coragem dos negros.
“Na minha visão, Maria Felipa é a personificação das histórias que resistem nas margens, que não foram incluídas no projeto oficial de nação, mas que permanecem vivas e pulsantes na cultura popular. Por isso, essa música vai além de ser um tributo a essa heroína; é também uma homenagem a todas aquelas que, como ela, foram excluídas da narrativa oficial, mas que desempenharam um papel fundamental na construção da resistência e da verdadeira identidade do Brasil”, disse o cantor.
“ Quando eu falo ‘Marielle [Franco] vive em Maria Felipa’ e inverto a ordem natural da cronologia delas, estou apontando para essa força de representação que coexiste no passado, presente e futuro. Parafraseando Glauber Rocha, eu diria: ‘as crianças brasileiras não devem acreditar em uma independência às margens do Ipiranga. Close em Maria Felipa, a verdadeira imagem do povo brasileiro’”, acrescenta o artista.
Na canção, Xauim mescla afro house e kuduro enfatizado no clipe gravado em Saubara, a 103 km de Salvador. A data de 2 de julho é celebrada na madrugada pelas ruas de Saubara onde ocorre uma procissão de mulheres vestidas com lençóis brancos, armadas com facões e espingardas, carregando panelas de mingau. A representação é em homenagem às ancestrais que alimentaram os combatentes durante as batalhas pela libertação.
“Neste clipe, pude propiciar o encontro de duas forças populares pelas quais tenho profunda admiração e que participaram da mesma guerra. Reuni a heroína Maria Felipa de Itaparica com as Caretas do Mingau de Saubara. Existem algumas interseções entre elas; vou destacar duas. A primeira é a força e a habilidade popular de subverter e lutar com as armas que possuem. A segunda é o fato de que essas duas potências da história baiana foram marginalizadas e até hoje lutam em outro campo de batalha para serem reconhecidas”, explica Xauim.
“Me considero um observador. A maior parte do que faço vem desse lugar de observação mais do que de uma vivência profunda. Eu observo os hábitos e a história do meu lugar, procuro saber sobre minha genealogia, e isso me nutre de forma suficiente para querer colocar para fora uma visão de mundo”, diz o artista.
“Embora eu sinta que faço parte desse caldeirão, não me vejo como um representante da cultura; estou mais na posição de quem assiste e é tocado intensamente por tudo ao redor, desejando contar essas experiências. Talvez eu seja mais como um griô moderno, que presenciou uma aventura e depois a conta ao seu povo. Assim, a observação do mundo e a reflexão que surge a partir disso são a minha fonte de inspiração para fazer música,” conclui Xauim.