Na semana passada, postei neste espaço um texto a respeito da declaração de voto do jornalista, argumentando que não há liberdade suficiente nas redações e nas empresas de comunicação em geral para manifestações livres sobre candidatos durante o processo eleitoral. Afirmei que a empresa de comunicação, quando não consegue manter o equilíbrio na cobertura dos fatos que envolvem as eleições, deve, sim declarar apoio ao seu candidato, para bem informar o leitor sobre suas intenções na cobertura jornalística. Ao jornalista, no entanto, há restrições para manifestação parecida, principalmente se o candidato escolhido não for o mesmo do veículo em que trabalha.
Foi mais ou menos isso o que aconteceu na semana passada com o jornalista Xico Sá, colunista do caderno Ilustrada, da Folha de S. Paulo, que pediu demissão depois de ser proibido de publicar artigo em sua coluna em que declarava apoio à candidata Dilma Rousseff (PT), que disputa a reeleição para Presidente da República. A Folha ofereceu a Xico Sá o espaço da página 3 (Tendências e Debates), mas ele recusou, e argumentou que boa parte dos colunistas do jornal manifesta-se a favor da candidatura de Aécio Neves (PSDB) em suas colunas diárias ou semanais.
Xico Sá erra por tratar o caso com certa ingenuidade ou má-fé. Primeiro, porque uma empresa de comunicação, como qualquer empresa, é formada de subordinados e chefes, os que obedecem e os que mandam; e o jornalista, por mais que tenha prestígio, às vezes precisa submeter-se às regras ou imposições da empresa. E neste aspecto, o pedido de demissão foi uma medida acertada. Segundo, Xico Sá erra ao querer fazer declaração de voto em um espaço em que poderia, como os demais colunistas, analisar e puxar brasa para sua candidata sem precisar colar o adesivo dela no texto.
Não sejamos ingênuos de achar que a Folha de S.Paulo é isenta. A própria Ombudsman do jornal (profissional que faz a crítica editorial) questionou o posicionamento da direção. Um veículo que se diz democrático e defensor da liberdade de expressão jamais poderia proibir a publicação de um texto de apoio a um ou outro candidato, desde que feito dentro das normas legais.
No entanto, a realidade é bem diferente. Aos que defendem que o jornalista deve declarar voto nas eleições, falta, talvez, a compreensão dessa realidade, que muitas vezes impede os profissionais de redação até de manifestar-se nas redes sociais usando seus próprios perfis. Por isso, mais vale ao jornalista usar as informações que dispõe de forma inteligente para ajudar o eleitor a decidir em quem votar.
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