Do ATUAL
MANAUS – A maioria das mulheres vítimas de violência doméstica em Manaus é contra a prisão do marido. Elas alegam dependência financeira, mostram dados dos Juizados Especializados no Combate à Violência Doméstica e Familiar do Amazonas.
Das 419 vítimas atendidas em 2023, 45,8% (192 mulheres) preferem que os agressores recebam tratamento psicológico, enquanto 20,9% (87 vítimas) optam por palestras e cursos sobre violência doméstica em vez da prisão.
A assistente social Rafaela Ramos, uma das coordenadoras do estudo, disse que a proteção dos filhos também é citada pelas vítimas para evitar a prisão do agressor.
“Com base nos dados, direcionamos a intervenção para os grupos de mulheres mais vulneráveis à violência. Embora se sintam mais seguras, uma pequena parcela acaba revogando a medida protetiva por questões sociohistóricas, como a dependência financeira, emocional e a preocupação com os filhos”, disse Rafaela Ramos.
Celi Cristina Nunes Cavalcante, que atua na equipe multidisciplinar do 1º e 4º Juizado Maria da Penha, disse que mesmo contra a prisão, a maioria das mulheres (65,8%) se sente mais segura ao buscarem medidas protetivas. Outras 11,2% informaram que o autor da violência melhorou o comportamento com elas após a agressão.
As vítimas são mulheres que trabalham informalmente e têm baixa ou nenhuma remuneração. O estudo mostra que 80,4% se autodeclaram pardas e 4,6% pretas.
Outro aspecto relevante do estudo é a constatação de que 82,3% das vítimas possuem filhos, o que, muitas vezes, as impede de se separarem dos agressores, pois temem não conseguir sustentar os filhos sozinhas. Destas, 53,3% não têm acesso à moradia formal, vivem de aluguel, em imóvel cedido ou na casa de parentes. No item escolaridade, 78,7% têm o ensino médio.
Entre os efeitos da violência doméstica, 32,7% adquiriram ansiedade, 11,7% sofrem de depressão. Distúrbios alimentares (9,5%), dor de cabeça e dor no peito (22,9%).
Apenas uma pequena parcela das entrevistadas (13,2%) relatou não sofrer consequências da violência.