Os professores da Rede Estadual de Ensino estão desde ontem em vigília dentro da Secretaria de Educação do Estado (Seduc), em ato ordeiro e pacífico, reivindicando seus direitos em conversar com o secretário de Educação pelo retorno seguro às aulas.
De acordo com o Sindicato dos Professores, quatro ofícios foram enviados e uma greve foi deflagrada, mas ainda assim o secretário de Educação, Luiz Fabian, se recusa a dialogar com os professores. Pergunto: o que está por trás dessa atitude, afinal? Representar a categoria é o papel do Sindicato e o secretário, como gestor, deveria, no mínimo, ouvi-los.
Pela urgência do tema, pois a cada dia surgem informações de professores ou alunos acometidos por Covid-19, os professores decidiram aguardar o retorno do secretário dentro da própria Secretaria, mas sem energia e sem direito à água, à alimentação e a remédios. Um ato que deve ser recriminado por todos e todas.
Ontem, o secretário foi à imprensa denunciar que os professores haviam depredado a sede da Seduc e agredido uma servidora. Essa denúncia foi desmentida pelos professores. Estive lá, com o horário avançado da noite, e fui impedido de entrar. Mas retornarei hoje para ver a forma como estão sendo tratados esses trabalhadores e trabalhadoras que lutam, repito, pelo direito de serem ouvidos e de um retorno seguro ao seu ambiente de trabalho.
Já denunciei ao Ministério Público que o retorno às aulas presenciais não teve o aval do Conselho Estadual de Educação e não há garantias de seguranças aos professores, técnicos e alunos. De acordo com dados da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), desde o dia 10 de agosto, quando iniciaram as aulas presenciais da rede estadual de ensino, 342 profissionais da educação já testaram positivos para a Covid-19. Ainda não se tem registro oficial sobre a contaminação entre alunos e seus familiares, porque não estão sendo testados em massa, porém, é grande a suspeita de que podem estar ocorrendo contaminações por conta do “volta às aulas”, com as constantes falhas nas prevenções sanitárias, denunciadas pela própria comunidade escolar.
Os números apresentados tanto pelo Sindicato dos Professores e Pedagogos de Manaus (Asprom) quanto pelo Sindicado dos Professores em Educação do Estado do Amazonas (Sinteam), que fazem monitoramento diário dos profissionais de educação, só aumentam o alerta: já seriam mais de 100 escolas com casos confirmados de Covid. O Amazonas foi o primeiro Estado a retornar às aulas presenciais nas escolas públicas, mesmo sem ter consultado o Conselho Estadual de Educação, e pode ser o primeiro a “matar” pessoas da comunidade escolar, quando coloca os envolvidos sob riscos desnecessários de contaminação e morte.
Denunciarei também essa atitude antidemocrática do secretário ao Conselho Estadual e Federal de Educação, ao próprio governador, à Comissão de Educação da Câmara Federal e ao Ministério Púbico do Estado, para que tomem as medidas judiciais e administrativas cabíveis. Irei responsabilizá-lo, se algum dos professores tiver problemas de saúde, pela forma como estão sendo tratados.
Não ouvir os profissionais da educação, que estão ali, defendendo a sua saúde, sua vida e a vida de milhares de estudante, é atitude intransigente. Defendemos a imediata suspensão das aulas presenciais, dando prosseguimento ao ano letivo com aulas remotas, até que se criem condições seguras para os alunos estudarem, evitando assim novas mortes.
Com certeza, em nenhum lugar do mundo, o rendimento escolar será o mesmo por conta dessa pandemia, mas isso pode ser resgatado. Vidas perdidas jamais se recuperam. Minha solidariedade a todos os profissionais da educação!
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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