Por Rubens Valente, da Folhapress
SÃO PAULO-SP – A divulgação, em 31 de março, de um vídeo que defendeu o golpe militar de 1964 em um canal oficial da Presidência da República foi um erro de servidores motivado pela ‘sobrecarga de trabalho’ e eles não tiveram ‘dolo nem culpa’, afirmou a Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) do Palácio do Planalto.
O
vídeo distribuído pela Secom mostrava o ator Paulo Amaral declamando um texto
que comemorava o golpe que derrubou o então presidente João Goulart. O texto
dizia que o Exército salvou os brasileiros.
O vídeo, que não continha logomarca do Planalto ou de outro órgão do governo,
foi divulgado no mesmo dia por um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, o
deputado federal Eduardo (PSL-SP), em suas contas em redes sociais.
A divulgação pela Secom provocou reação de historiadores, que o consideraram uma distorção de fatos históricos de 1964. O empresário da BendSteell, do ramo de estampados de metais, Osmar Stábile, que também é conselheiro do Corinthians, admitiu ter financiado o vídeo.
A nota da Secom foi enviada à reportagem em resposta a um pedido formulado pela Lei de Acesso à Informação. O órgão não informou os nomes e cargos dos servidores que teriam cometido o erro nem detalhou o que seria ‘sobrecarga de trabalho’. Segundo a Secom, Stábile não recebeu recursos públicos para o vídeo.
A divulgação “ocorreu por erro procedimental em conta institucional” mantida pela Secom no WhatsApp. “Não houve dolo nem culpa dos servidores envolvidos no caso, ao contrário (sic), são pessoas de reputação ilibada e que diante da sobrecarga de trabalho se equivocaram ao veicular um vídeo privado, supostamente achando que fora produzido internamente pela Secom/PR”, diz a nota atribuída ao diretor substituto do Departamento de Estratégia e Monitoramento da Comunicação Digital da Secom, cujo nome não consta da resposta.
A Secom afirmou ainda que “todas as ações de comunicação” da secretaria “contêm a marca do governo federal, em estrito cumprimento” do artigo da Constituição que veda o anonimato. A nota diz ainda que “a obrigatoriedade dessa identificação é reforçada” por instrução normativa da Secretaria de Governo.
Procurada por jornalistas após a divulgação do filme, e durante duas semanas, a Presidência se recusou a explicar a origem e a divulgação do vídeo. Somente no último dia 16, quando foi prestar depoimento a convite da Câmara, o general Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo, à qual está vinculada a Secom, afirmou que ocorreu um “incidente operacional de serviço”.
Segundo o ministro, um funcionário da Secom recebeu o vídeo na noite do sábado, 30 de março. No dia seguinte, 31, outro servidor viu o vídeo, se confundiu, pensando que era um material institucional, e o “disparou” pela conta oficial. O servidor, de acordo com Santos Cruz, trabalha há 26 anos no governo federal.