O excesso, a exacerbação e o exagerado apelo informacional, principalmente daquele que manipula a agressividade, os instintos e as emoções das pessoas, possuem imprevisível potencial entorpecedor, afetando a qualidade da cognição humana e da autonomia da vontade do indivíduo.
Uma vez que se confere aos meios de comunicação, aos veículos de mídia, de imprensa e de publicidade um espaço maior ou mais influente para “marionetizar” os instintos e as emoções dos indivíduos, desde as crianças a desavisados adultos, pode-se obviamente promover a manipulação de pessoas, precarizando-lhes o discernimento, viciando a cognição e criando condições para domesticar-lhes as vontades, o entendimento e forjar supostas “convicções”. Desse modo, fica mais fácil manipular as escolhas e as decisões de indivíduos e de certos grupos quanto ao que consomem, ao que almejam, ao que fazem, em quem votam, como vivem etc.
A manipulação informacional de impulsos e tendências naturais, fisiológicas e cognitivas das pessoas tem conseqüências no processo de socialização e na vida social, contribuindo significativamente para levar indivíduos e alguns grupos ao viciamento sensorial, químico, político, cultural, econômico e ideológico. Trata-se, em certa medida, daquilo que Milton Santos chamava de “confusão dos espíritos”. É o fenômeno do viciamento informacional.
Não há como deixar de reconhecer a singularidade do obscurantismo da época atual. Se antes, na idade média, um dos principais fatores do obscurantismo teocrático era atribuído à restrição ou mesmo à proibição ao acesso à informação, às bibliotecas e à educação, atualmente, essa confusão ou entorpecimento cognitivo dá-se também pelo excesso de informação. Ainda mais num contexto de informação de menor qualidade, especialmente naquela voltada com fins de manipular desejos, emoções e instintos dos indivíduos, com vistas a adestrá-los econômica, política, cultural, religiosa e ideologicamente.
Nesse cenário, o exacerbamento ou a quantidade de informação disponível não é sinônimo de liberdade nem da promoção de valores democráticos, tais como a justiça, a solidariedade, a educação, o esclarecimento, dentre outros. Pelo contrário, a enxurrada de informação, por si só, não é garantia de segurança nem de desenvolvimento, podendo na realidade até mesmo colaborar para levar as sociedades a um novo tipo de obscurantismo. Embora abundante, a informação pode ser alienante, entorpecedora e manipuladora, capaz de formar comunidades continentais de lixo simbólico, cujo resultado acaba sendo o chamado obscurantismo informacional.
Esse tipo de lixo simbólico, que se expressa sob variadas formas e produz consequências impactantes à vida social, ocupa grande parte do espaço da programação dos veículos de mídia, de imprensa, de publicidade, além de aparelhos de tecnologia da informação (celulares, computadores, tablet’s), expandindo-se celeremente no espaço virtual das chamadas redes sociais e aplicativos que possibilitam interatividade de comunicação em tempo real.
O obscurantismo informacional contribui assim para fomentar esse vício típico da sociedade da informação: o viciamento informacional, por meio do qual o excesso de informação produz fatiga e entorpecimento geral. Desse modo, a própria informação é empregada de uma maneira que não contribui para combater os vícios, tratar dos viciados e atenuar os efeitos do processo de viciamento econômico, político, religioso, cultural e químico que incide massificadamente sobre a sociedade.
Nesse sentido, é que o obscurantismo informacional, além de se constituir em fator de violência e de criminalidade, impacta sobremaneira e nocivamente a articulação dos instrumentos de cidadania, principalmente na medida em que compromete o discernimento, precariza a cognição e limita a participação cívica. O viciamento informacional é também reflexo e modalidade de viciação cultural.
Trata-se de compreender a dimensão do viciamento humano atual e dissipar a nova era de medievalização em curso, agora marcada não mais pela escassez e proibição do acesso à informação, mas pela enxurrada de informação, principalmente aquela manipuladora dos instintos e emoções dos indivíduos, e pela excessiva permissividade ao lixo simbólico, ao consumismo delirante, à incitação ao naniquismo político e outras práticas viciadas que obscurecem o espírito humano, longe de fortalecê-lo com a lucidez, a autonomia e o discernimento essencial à vida em sociedades livres, justas e solidárias.
Enfim, o enfrentamento a realidade do viciamento informacional requer métodos e meios, não mais de censura e de repressão, já empregados anteriormente, mas sobretudo uma nova abordagem do problema, na qual são essenciais a orientação ética, a educação, o respeito à saúde mental e ao desenvolvimento emocional das pessoas, associado ao aprimoramento da qualidade da programação, que se tem acesso em veículos de comunicação, e da massa informacional disponibilizada a todos.
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