Do ATUAL
MANAUS – Os vereadores Amom Mandel (Cidadania) e Rodrigo Guedes (Republicanos) trocaram acusações na reunião desta segunda-feria (31) na CMM (Câmara Municipal de Manaus). Amom acusou Guedes de manter um ‘gabinete de ódio’ contra parlamentares do Amazonas usando recursos do cotão e prometeu pedir providências na Comissão de Ética da Casa. Guedes rebateu a acusação e disse que Amom lhe ofereceu ajuda em processo de prestação de contas no TCE (Tribunal de Contas da União).
Guedes foi secretário de Esportes. Amom é enteado de um conselheiro do TCE que já exerceu a presidência do tribunal. Os vereadores são da bancada de oposição e apresentaram inúmeras propostas conjuntas.
O embate entre os parlamentares ocupou quase toda a sessão desta segunda-feira, e começou durante a análise de requerimentos convidando o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), a explicar na Câmara as denúncias de acordo político com facções criminosas na campanha eleitoral de 2020. Na semana passada, o prefeito disse que as acusações são falsas.
Amom Mandel, que apresentou requerimento com o mesmo objetivo, afirmou que o documento de Guedes foi “mal escrito”, e não tinha objetividade. Afirmou que parecia ser um jogo de cartas marcadas, para possibilitar que o prefeito de Manaus pudesse responder o que bem entendesse, caso aceitasse o convite. “Parece uma jogada ensaiada”, disse Amom.
Após a derrubada dos dois requerimentos, Guedes protestou contra Amom. “Qualquer ilação que eu tenha conversado com vereador da base do prefeito, combinado alguma coisa, é de uma falta de caráter que eu nunca vi na minha vida. Eu faço todos os dias denúncias, cobranças, fiscalização de forma independente, correta e digna”, disse Guedes.
“Eu tenho honra, eu tenho diginidade. Eu denuncio sem ter qualquer retaguarda para me proteger. Eu não tenho ciência se outro requerimento vai ser analisado também. Peço que me respeitem. Sou uma pessoa honrada. Eu nunca faria jogo ensaiadinho, com quem quer se seja”, acrescentou.
“Não existe senhor da razão. Eu nunca vi uma situação dessa, tentar se mostrar, ‘nossa, só eu presto, ninguém mais presta, só eu. Todos os outros são bandidos, ladrões, combinam voto’. Que história é essa?”, cobrou Guedes.
“Todos os dias eu faço denúncias aqui, contra a Câmara, contra os vereadores, contra o prefeito. Não sou o único que presta e nem nunca vou me insinuar desse jeito”. “Não tenho segurança, não tenho família poderosa”, afirmou Rodrigo Guedes.
Amom respondeu imediatamente. “Quando eu digo que esse requerimento parece uma jogada ensaida, é com base em fatos passados. Como pode um requerimento de informações que não requer informação nenhuma?”
Em seguida, Amom acusou Guedes de usar a Ceap (Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar) para pagar uma empresa que produz notícias falsas contra os próprios vereadores.
“O vereador que me acusou de jogo sujo paga, com o seu cotão, uma empresa chamada Onde Manaus, localizada no Dom Pedro. Essa empresa é responsável por prestar suposta consultoria técnica. O problema é que o endereço dessa empresa é o endereço de uma rede de fake news que espalhava informações falsas sobre os próprios vereadores. Uma empresa paga pelo cotão”, disse Amom.
Ele leu em plenário uma “postagem de cunho difamatório contra o vereador Diego Afonso”, de acordo com ele, produzida pela empresa paga por Rodrigo Guedes. “Falam de mim, deputada Joana Darc, Diego Afonso, Adjunto Afonso, Cabo Maciel, Silas Câmara, Bolsonaro, Wilson Lima, Capitão Carpê, Alberto Neto, Débora Menezes, Roberto Cidade, dentre vários outros”.
“Tem outra empresa, de um familiar ligado a essa empresa Onde Manaus, com outro CNPJ e outro proprietário, pago também com dinheiro do cotão, pelo mesmo vereador, para prestar o mesmo tipo de serviço. Descobrimos que o endereço dessa outra empresa, LBZ, é o mesmo da Onde Manaus. Ou seja, paga para duas empresas instaladas no mesmo endereço, que são parentes”, acusou.
Amom também afirmou que Rodrigo Guedes mantem em seu gabinete, utilizando recursos públicos, membro do MBL-Manaus e MBL-Amazonas. “Curiosamente, o único político elogiado pelo perfil do MBL é o vereador cujo assessor é ligado ao MBL, vereador Rodrigo Guedes”.
“Eu sou o primeiro a criticar todo político desse Estado. É inadimissivel utilizar esse discurso vitimista. Sou e sempre serei o primeiro a denunciar qualquer um. E não admito jogo sujo por parte dos políticos para cima de mim”, afirmou Amom.
“Estou levando à Comissão de Ética pedido para apurar desvio da Ceap para financiar rede de ódio, rede de fake news”, disse Amom, que prometeu encaminhar as informações também ao Ministério Público.
Na réplica, Rodrigo Guedes reconheceu que contratou as empresas para prestar serviços em redes sociais, mas disse não ter conhecimento que elas produziam fake news. E fez acusações contra Amom. “Eu poderia aqui jogar o mesmo jogo e fazer acusações seríssimas. Mas não sei se deveria”.
Se dirigindo a Amom, Guedes disse: “Eu quero seu bem, eu não vou falar aqui do que conversamos, lá no restaurante. Tudo o que você conversa com alguém no pessoal, tem que ser preservado.” Em seguida, abriu o bico, e insuou que o colega de parlamento exerce tráfico de influência no Tribunal de Contas do Amazonas.
“Vossa excelência andava não sei se ainda anda com uma lista de processos do Tribunal de Contas no seu celular. Não faça essa cara que vossa excelência apagar né? É simples, e vossa excelência, duas vezes; uma vez no restaurante lá no Vieiralves, olhou uma lista de processos e falou do meu processo do Tribunal de Contas, que todo secretário presta contas”, denunciou Guedes, que já foi secretário de Esportes. “Vossa excelência falou, se quiser ajuda no processo eu te ajudo, a gente pode conversar”.
Vereador no exercício do quarto mandato, Marcel Alexandre (Avante) disse que se sentiu constrangido com o embate entre dos colegas. “Nunca vi isso na Câmara. Esta Casa tão na lama”.