Os venezuelanos pedem socorro e agonizam com as sequelas do desamparo de seus líderes, populistas, autoritários, demagogos e indiferentes à tragédia humana que se abateu naquele País. Gestão incompetente e inconsequente que os levou, ricos e prósperos, há apenas três décadas, à destruição de hoje, com taxas do PIB reduzida à metade no espaço de dois anos.
Fuga em massa de um regime que só oferece regalias a seus protegidos. São 40 mil migrantes por mês em direção ao Brasil e à Colômbia. Um volume equivalente ao ponto mais crítico de desembarque de refugiadas da Síria e adjacências, pelo mar Mediterrâneo, em direção à União Europeia, há dois anos.
A pergunta que não quer calar: Estamos preparados para acolher o fluxo migratório sem expor mais nossas feridas?
Esta é a segunda vez, em curto espaço de tempo, sem qualquer planejamento, como foi o caso da vinda dos haitianos, em condição completamente diferente da Venezuela. Naquele momento, houve a mobilização de várias organizações, entre elas, a Igreja Católica, e os problemas foram minimizados, de forma que, hoje, os haitianos estão completamente inseridos na vida brasileira.
Roraima, consequentemente Boa Vista, sofre com o fluxo migratório, incompatível com a capacidade de gestão do Poder Público local. As pessoas estão amedrontadas e impotentes. Essa situação sem controle tem despertado na população sentimentos nunca antes experimentados, como xenofobia, racismo e discriminação, com consequentes atitudes de barbárie.
O Brasil está preparado para disponibilizar a essas pessoas saúde pública, educação e segurança, se não consegue oferecê-las aos próprios brasileiros?
Diferentemente do Haiti, que fora arrasado por um desastre natural, a Venezuela sofre pela escolha política da população. Será que os brasileiros terão o mesmo ânimo para recebê-los?
Só agora o Governo Federal decidiu reconhecer o problema e anunciar as intenções de praxe. A questão, porém, é mais ampla e desafiadora. Estamos diante da equação fundamental da Justiça, amparada e assumida pela Constituição de 1988, que antepõe ao Direito a Fraternidade.
Os avanços de nossa História devem-se, principalmente, aos momentos em que abrimos nossas fronteiras a migrantes em busca de refúgio. O que ganhamos com isso? Além da credencial humana e moral do gesto, que expande a decência e a dignidade de quem acolhe, o Brasil não apenas ganhou ao acolher migrantes, quase todos degredados. Podemos dizer que o Brasil, como civilização, não passa do somatório desses grandes gestos de acolhimento e fraternidade. Se assim não fosse, não seríamos um Japão maior do que o país original acolhe em seu território, com todas as bênçãos que isso representa.
Aqui no Amazonas, nossa História inspira-se na presença nipônica e traduz-se com ela. Não teríamos, também, Itália, Espanha, Portugal, os irmãos árabes e judeus com sua preciosa e decisiva colaboração para construir este Brasil fraterno.
Para que esta Fraternidade aconteça de forma equilibrada, seria fundamental que todos os Estados da Federação estivessem preparados para receber os venezuelanos e, em consequência, esta situação não ser suportada unicamente por Roraima e pelo Amazonas.
Mas os venezuelanos devem estar conscientes de que buscamos a construção de um País decente em todos os aspectos e, se chegarem para somar nesta construção, serão bem-vindos.
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boa tarde
Sou um Viuvo, Advogado, Moro sozinho em Nilópolis /RJ, gostaria muito de poder ajudar a acolher venezuelanas.