Calma! falo de turismo, vocação natural que sustenta números irrisórios diante do patrimônio colossal disponível. Cores, sons, aromas e paladares fazem parte do nosso dia a dia. São geralmente corriqueiros, emoções que jamais poderiam ser reproduzidas pela toda poderosa Walt Disney Company, a menos que estivessem aí com um belo parque temático, que aliás, já foi estudado por seu competente time, que abortou o projeto por motivos óbvios (infraestrutura). Temos um diamante de um milhão e meio de quilômetros quadrados, impossível de esconder. O mundo quer conhecer de perto, tocar e desfrutar desta joia, desejada por todos.
Quando olhamos com mais atenção para os números do turismo mundial, fica claro que o apresentado em resultado é um insulto. Temos números irrisórios muitas vezes. O diagnóstico é relativamente simples, a solução complicada, mas precisamos reagir e fortalecer todo este patrimônio. Para comparar, tomemos como exemplo Cancun. Essa belíssima cidade que conta com apenas 23 quilômetros de praias em mar aberto, recebeu, ano passado, mais de 17,5 milhões de turistas, e é considerado turismo Eco Friendly (nem vou traduzir ); possui mais de 170 hotéis e resorts com grandes redes hoteleiras como, Intercontinental, Sheraton, Hilton, Meliá e outros.
O nosso Amazonas recebeu 1,16 milhão de turistas no ano passado, já computado 22% em função da Copa do Mundo, 1/3 do fluxo proveniente de São Paulo. O polo industrial, com certeza, é o maior contribuinte do chamado turismo de negócios.
O mercado internacional de turismo é hoje a mais poderosa indústria, alavanca todas as outras numa escala de progressão geométrica. A Costa Rica, com 52.000 km², é do tamanho em área do município de Apuí. Lá faz-se um belo e eficaz exemplo de turismo ecológico. Pura Vida, se diz por lá; o mundo paga preços razoáveis por isto.
Qual novaiorquino já se deparou com uma árvore linda, de 30 metros de altura? E quem deles ousaria não admirar? Temos o produto quase acabado, temos o cheiro da terra, temos a brisa abafada do verão, e para nosso deleite podemos saborear uma banda de tambaqui assada. É um paraíso vivo e dinâmico, coisa que nem Hollywood poderia criar com tal perfeição.
Então, o que falta? De novo, meu inconformismo se revela. Não posso crer que não sejamos capazes. A Costa Rica tem fauna e flora semelhantes à nossa, e em quatro horas é possível, por suas boas estradas, cruzar da costa do Atlântico à costa do Pacífico, de carro, mesmo sendo do tamanho do município de Apuí, receberam 2,5 milhões de estrangeiros.
Meu incômodo é também o de outros, pois não há, no mundo, outra atividade tão rentável e sustentável quanto o turismo. Atrai e realiza outros investimentos de tal importância que isso se confunde com sua atividade fim.
Walt Disney não teve tanta fortuna como temos. Quando acordaremos? Que será preciso para abrir mentes e corações e, enfim, nos servirmos de tal riqueza, oferecendo ao mundo, momentos sublimes da vida, mesmo que não estejamos diretamente envolvidos? Se faz necessário a união de esforços, incluindo uma ação coletiva dos players de mercado envolvidos, a divulgação maciça e coletiva nos mercados alvo, muito mais eficaz do que se tem realizado individualmente, mesmo princípio dos shoppings, a soma de produtos ofertados, como hotéis, restaurantes, barcos hotéis e de pesca esportiva deveriam estar juntos num esforço de criação da massa crítica, para, juntos, oferecer para a humanidade um pouco do paraíso.
Faturar, gerar milhares de empregos qualificados, formar uma grande legião de trabalhadores bem instruídos, fazer dinheiro honestamente e repassar aos nossos, em forma de emprego, trabalho, e desenvolvimento.
Apenas como comparativo, temos um aeroporto meio ampliado e mal maquiado com capacidade máxima de 6 milhões de passageiros, uma pista operacional; o aeroporto de Cancun tem capacidade para 27 milhões de passageiros. Já deveríamos ser um dos principais hub de passageiros oriundos do Caribe e Norte América.
Para se fazer turismo precisamos de segurança, saúde decente e uma infraestrutura capaz de atender com qualidade e atrair investimentos de grande porte, que podem gerar enormes recursos para a melhoria contínua das condições e sustentabilidade de negócios do nosso povo. Um projeto de grande magnitude requer pensamento republicano, não se faz turismo de mandato.
É preciso uma politica de Estado, atração de investimento externo, politica tributária favorável. Muitos conhecem o Premium Outlets do Simon Group, espalhado por todos os EUA. Nenhum da rede pagou por seu terreno; todos, sem exceção, foram doados para que ali empreendessem e gerassem empregos.
De todo modo, temos crescido na área, muito mais pelo que temos naturalmente, e a capacidade individual do empresariado, do que por investimentos públicos ou politicas de desenvolvimento para área. Somente o Texas tem mais de 3 milhões de pescadores esportivos cadastrados em associações, inúmeras revistas especializadas em pesca esportiva com circulação superior à maior revista Brasileira, ainda há muito o que fazer e muito que crescer.
Várias Zonas Francas habitam nosso Estado. Temos uma capital/estado como Manaus e sua capacidade de consumo se limita à população local. Imaginem se Manaus ostentasse números de visitantes, compatíveis com os da pequena Cancun, que tem pouco mais de 700.000 habitantes e recebe 17,5 milhões de estrangeiros. São 25 vezes sua população. Que consumo extraordinário estaríamos comemorando! A crise estaria tão distante quanto o tamanho do Amazonas ou do quanto a saudade grita que estou longe da minha terra.
Eduardo Couto da Cunha, empresário, reside e trabalha nos Estados Unidos.