Por Patrícia Borges, da Redação
MANAUS – A performance como arte visual tem no artista Emerson Munduruku um representante amazônico dessa manifestação cultural, que pode ser conferida em fotos, vídeos e instalações na exposição ‘Uýra, a árvore que anda’. A mostra será aberta nesta sexta-feira, 26, na Galeria do Largo, a partir das 19h e o acesso é gratuito. A exposição integra a programação da Virada Sustentável 2019 e fica em exibição até 30 de outubro.
As peças compõem o acervo de Emerson como a drag queen Uýra Sodoma, personagem que o paraense de Santarém criou em Manaus. O acervo mistura elementos da floresta e urbanos. “Nós trazemos a diversidade da floresta, mas também a diversidade da cidade em sons e formas. Trazemos os processos de beleza e também de feiura da cidade misturados ao encanto da biodiversidade. É uma espécie de corpo e alma, floresta e cidade”, disse Munduruku.
Emerson diz que Manaus oferece essa dicotomia urbana. “Manaus é essa capital industrial, tecnológica, rica, urbana, que se orgulha do seu asfalto e é também uma cidade, exatamente, na Amazônia central. Uma cidade que vive uma negação identitária enquanto ancestralidade afro-indígena e essa negação é algo muito crítico e muito explícito. A exposição parte dessa identidade negada, desses corpos que estão nas ruas nesse universo de sons, fluxos e processos híbridos entre a floresta e a cidade”, define.
São com as performances de Uýra Sodoma, a personagem, que o artista expressa temas como a preservação ambiental e a interferência humana na natureza. Uýra teve trabalhos divulgados na França, Estados Unidos e Inglaterra.
O artista é também biólogo e mestre em Ecologia pelo Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e afirma que a arte é fundamental para o debate sobre a temática ambiental. “A gente está vivendo um desmonte de direitos conquistados com muito trabalho, esforço e sacrifícios. Uma normalização do ódio. São narrativas que desrespeitam, violam e invisibilizam os direitos das populações e de grupos minoritários. O meu trabalho parte da beleza, da diversidade, mas também das violências buscando visibilizá-las e estimular reflexão e, principalmente, a ação”.
Para Emerson, a exposição chega como instrumento social de luta contra discursos de ódio em relação a grupos minoritários. “Estamos lutando pelo óbvio enquanto país desigual, racista, misógino, lgbtfóbico, que tenta por meio de um governo federal invisibilizar essas violências, dizer que elas não existem, negá-las. A exposição vem também como uma contra narrativa a esse discurso de ódio, ela vem pra mostrar também a violência às florestas, à cidade, aos nossos corpos”, afirma.
O artista comemora a exposição, mas pontua que este ainda é um espaço reservado a grupos sociais seletos. “Quando criança eu pensava em arte, artista e galeria como algo muito distante de mim e continua sendo assim para muitas crianças da periferia. Ocupar a galeria é ocupar um espaço privilegiado que não tinha sido nosso, mas que agora é”.
As obras da exposição também serão expostas em lambes (pôster afixados em espaços públicos). “É na rua que existem as violências e os sorrisos, então é importante que essa exposição esteja na rua porque também quero alcançar pessoas da periferia, pessoas diversas. Propor uma exposição na cidade precisa ser para a cidade e não para um grupo menor e seleto. Para nós é muito importante ocupar, simultaneamente, esses dois espaços”, disse.
Além da exposição, a Virada Sustentável terá também atividades educativas como a roda de conversa ‘Arte, gênero, raça e periferia’, será no dia 15 de agosto com a presença de Keila Serruya (produtora, artista visual e realizadora audiovisual), Emerson Munduruku e Maria Morais (artista e educadora social). A oficina de maquiagem ‘Morfose, criação de seres em Si’, ministrada por Emerson Munduruku, será realizada no dia 16 de agosto.
‘Uýra, a árvore que anda’ é uma realização da produtora manauara Picolé da Massa em parceria com a Virada Sustentável de Manaus e São Paulo, Fundação Amazonas Sustentável, com apoio da Secretaria de Cultura do Amazonas, Lei Rouanet e parceiros.
Programação com acesso gratuito:
Exposição ‘Uýra, a árvore que anda’
Data de abertura: 26 de julho
Data de encerramento: 30 de outubro
Ações educacionais e culturais da exposição:
Colagens de Lambes
Roda de conversa sobre “Arte, gênero, raça e periferia” – Keila Serruya, Emerson
Munduruku e convidados: 15 de agosto
Oficina Morfose de Maquiagem – Emerson Munduruku: 16 de agosto
A Galeria do largo fica na Rua Costa Azevedo, 290 – Centro. A curadoria da mostra é de Keila Serruya e comunicação visual de Balaclavo e Mendes Auá. A galeria dispõe de acesso a cadeirantes e as obras serão acessíveis a pessoas com deficiência auditiva e visual, com vídeos em Libras e obras de texto audiodescritas.