Da Redação
MANAUS – A quantidade de casos de rabdomiólise, síndrome associada à “doença da urina preta”, notificada este ano já supera a registrada nos surtos dos anos de 2008 e 2015, informa a FVS-AM (Fundação de Vigilância em Saúde).
Nesta terça-feira (21), o cenário de rabdomiólise no Amazonas, no período de 21 de agosto a 20 de setembro, foi de 78 casos suspeitos, sendo 63 (81%) em investigação epidemiológica e 15 (19%) descartados.
Em 2008, foram notificados 27 casos compatíveis, principalmente no mês de setembro, em três municípios do
estado. Foram 20 pacientes (74%) em Manaus, 5 (19%) no Careiro e 2 (7%) em Itacoatiara. Em 2015, foram notificados 74 pessoas com a doença, principalmente em agosto e setembro, em cinco municípios. Em Manaus, foram 55 (74%) casos e em Itacoatiara, 13 (18%).
Cenário atual
Dos nove novos casos em investigação epidemiológica, cinco são de Itacoatiara, três de Manaus e um de Itapiranga. Os pacientes de Manaus são dois homens (de 18 e 39 anos) e uma mulher (de 30 anos). Já os de Itacoatiara são três homens (28, 32 e 43 anos), e duas mulheres (46 e 33 anos). O paciente de Itapiranga é um homem (de 27 anos).
Dez pessoas estão internadas, sendo nove de Itacoatiara e um de Itapiranga. Todos os pacientes estão estáveis.
O boletim da rabdomiólise no Amazonas informa que os peixes mais consumidos e envolvidos nos casos de suspeita da síndrome investigados são: pacu (40%), tambaqui (37%) e pirapitinga (30%). Ainda conforme o boletim, dos peixes consumidos 85% são de rios e 9% procedentes de lagos.
“A ciência não chegou ainda a uma conclusão sobre o que realmente causa a rabdomiólise. Então, é preciso entender que a investigação não é rápida”, explica a diretora-presidente da FVS Tatyana Amorim.
O registro dos casos informados ao Cievs (Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde) da FVS aponta que os novos pacientes apresentaram CPK (creatinina-fosfoquinase) elevados, mialgia, náuseas, nucalgia, fraqueza muscular, dor abdominal e urina escura, após ingestão de peixes.
Segundo a coordenadora do Cievs, Liane Souza, os pacientes apresentam alguns desses sintomas. Por isso, é importante que a investigação seja minuciosa. “Desses novos casos, apenas dois apresentaram urina escura. Estamos monitorando todos os casos individualmente”, disse.
Distribuição
Dos casos compatíveis com o perfil de rabdomiólise, 15 estão distribuídos em cinco núcleos familiares. Os demais casos são isolados. Os pacientes do sexo masculino representaram 57% (36 de 63) dos casos compatíveis e os maiores de 40 anos foram os mais acometidos, totalizando 57% (36 de 63) dos casos, seguido da faixa etária entre 20 a 39 anos, com 25% (16 de 63).
Dentre os 63 casos compatíveis, 60% dos casos ocorreram no município de Itacoatiara, 10% em Parintins, 10% em Manaus e 6% em Urucurituba. O boletim destaca que Itacoatiara (a 176 quilômetros de Manaus) foi o município que mais registrou casos e onde foi aplicada restrição de consumo de pescado no dia 1º de setembro, por meio de comunicado de risco da FVS.
Em Itacoatiara, houve redução de 69% dos casos, comparando-se a última semana (14/9 a 20/9) com a semana anterior à restrição (25/8 a 30/8). A diminuição foi observada após intervenção de restrição do consumo de pescado.
Causas
A rabdomiólise é uma síndrome clínico-laboratorial que decorre da lesão muscular com a liberação de substâncias intracelulares para a circulação sanguínea. A doença pode ser causada por diversos motivos, incluindo a ingestão de peixes.
A síndrome ocorre normalmente em pessoas saudáveis, na sequência de traumatismos, atividade física excessiva, crises convulsivas, consumo de álcool e outras drogas, infecções e ingestão de alimentos contaminados que incluem o pescado. O quadro clínico da doença pode incluir elevações assintomáticas das enzimas musculares séricas (creatinina-fosfoquinase – CPK).