Por Augusto Barreto Rocha*
O Brasil figura como o 9º país que mais investe em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). Também é o 14º país com mais publicações científicas ou ainda como o 4º em PIB/publicação, segundo levantamento do FMI. Entretanto, não se verifica na prática do cotidiano frutos expressivos desta produção, diferentemente do que se vê dos EUA, China ou Coreia. Mesmo sem este forte intercâmbio, já se constatam as maiores startups do país valendo R$ 89 bilhões (iFood, Nubank etc.), segundo pesquisa do Estado de São Paulo publicada em 03/03/2019.
A interação entre universidades e a iniciativa privada, desde a criação de empresas de alunos ainda não formados até a interação com grandes corporações por meio de professores e pesquisadores sêniores, é um celeiro para a inovação tecnológica e crescimento da tecnologia de uma economia. Grandes companhias, como a Embraer, também começaram fazendo forte uso desta interação. Entretanto, caminhar por este tema não é trivial, em especial com o ambiente extremamente regulado e pouco liberal de nossa legislação e cultura atuais.
As Universidades públicas de maneira geral têm recebido mensagens conflitantes no que diz respeito a este aspecto: por um lado há estímulos ao empreendedorismo, por outro há pouca luz sobre como fazer isso de maneira correta, somado com um desestímulo prático, quando existe uma pesada burocracia para realizar qualquer iniciativa. Quando superadas as barreiras organizacionais, as empresas parecem esperar pesquisadores como fossem consultores, pela simples falta de hábito na interação.
Empresas, pouco interessadas na burocracia pública, não compreendem o vagaroso processo decisório e contratual com os entes do Estado. Superados os acertos contratuais, as empresas também não compreendem o olhar do pesquisador, como algo diferente do olhar do consultor ou do Engenheiro já distante da universidade com lembranças boas (românticas e distantes da realidade) ou ruins (advindas de suas próprias limitações). Afinal, pesquisadores possuem aversão ao discurso vazio, buscando relações além do discurso e pesquisas primárias, o que não é exatamente a prática típica de consultores ou dos corredores corporativos, muito centrados na embalagem. Assim, começam a surgir conflitos desnecessários e pouco produtivos para ambos os lados.
A construção de uma cultura inovadora no país passará por uma ruptura na forma atual de agir das universidades, dos pesquisadores, das empresas, dos executivos e dos empresários. São diversas mudanças, mas será necessário evoluir muito a situação atual onde sobram críticas de e para todos, pelo bem da ciência e da economia. Ter acesso a pessoas muito qualificadas dentro de uma empresa pode ser muito rentável para o empresário, uma vez que normalmente não é viável ter todos os profissionais necessários a grande diversidade dos problemas empresariais. Pelo lado acadêmico, obter dados do mundo real pode ser muito produtivo para publicações científicas.
Entretanto, falta ainda criar mecanismos simples para que seja rentável financeiramente para todos: empresas, universidades e profissionais envolvidos. Afinal, quando surge uma economia de R$ 0,10 multiplicado pela escala de uma empresa pode ser algo milionário.
A Lei de Informática, a Lei de Inovação e outros mecanismos legais não são traduzidas por assessorias empresariais ou acadêmicas em forma de receita de ovo frito, onde qualquer um possa usá-la. Quando pesquisadores possuem até 10h por semana para fazer pesquisa já é uma vitória. Diluir este tempo mínimo para entender regulamentos, portarias e leis vai transformar aquele cientista brilhante em um pesquisador desatualizado. É necessário que empresas e universidades desenvolvam áreas ágeis e especializadas nesta interação, com bons olhos para esta ação, onde os pesquisadores e os executivos principais não percam tempo com a burocracia necessária para a cooperação. Enquanto isso não for feito será impossível verificar muitas interações entre as universidades e as empresas no Brasil, pois hoje um está de costas para o outro, por mais que tenhamos alguns razoáveis indicadores macro, precisamos ver isso de maneira ampliada, para mudar o cenário desolador da indústria e da economia local e nacional.
*Augusto Barreto Rocha é professor d Ufam e empresário.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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