Por Valmir Lima, da Redação
MANAUS – A Polícia Federal mudou uma letra na transcrição do diálogo da presidente Dilma Rousseff com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em ligação interceptada na tarde de quarta-feira, 16, e deu outro sentido à conversa. Ao transcrever o diálogo, a PF escreveu “USA” no lugar de “USE”, como fica claro no áudio também divulgado na tarde de quarta-feira pelo juiz Sérgio Moro, responsável pelo processo da Operação Lava Jato, em Curitiba, e que determinou o grampo no telefone do ex-presidente Lula. Ouça no vídeo acima.
A versão transcrita da PF serve para sustentar a tese de Sérgio Moro e da oposição de que a presidente Dilma tentava, com o termo de posse de Lula para ministro-chefe da Casa Civil, evitar uma suposta prisão do ex-presidente. Eis a transcrição, com o USA grifado de vermelho:
DILMA: LULA, deixa eu te falar uma coisa.
LILS: Fala querida. “Ahn”
DILMA: Seguinte, eu tô mandando o “BESSIAS” junto com o PAPEL pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o TERMO DE POSSE, tá?!
LILS: “Uhum”. Tá bom, tá bom.
DILMA: Só isso, você espera aí que ele tá indo aí.
LILS: Tá bom, eu tô aqui, eu fico aguardando.
O juiz Sérgio Moro, a Polícia Federal, a imprensa e a oposição entenderam que Dilma dizia que era para Lula usar o termo de posse caso fosse necessário – no caso de mando de prisão, por exemplo. Sendo ministro, Lula seria poupado de prisão porque passaria a ter foro por prerrogativa de função, o chamado foro privilegiado, e só poderia ser preso por ordem de um ministro do Supremo Tribunal Federal.
Outra versão
Na versão do Palácio do Planalto e da presidente Dilma, ela enviou o termo de posse para que Lula assinasse porque não havia certeza de que ele pudesse estar em Brasília nesta quinta-feira, 17, para a posse com outros ministros.
O diálogo e a palavra “USE” corrobora essa versão no contexto da frase: “Eu tô mandando o ‘BESSIAS’ junto com o PAPEL pra gente ter ele, e só use em caso de necessidade, que é o TERMO DE POSSE, tá?!”
A frase pode ter duas interpretação: “pra gente ter ele, e só use” pode ser entendido que o “uso” seria feito “pela gente”. Outra versão, de entendimento mais complicado no contexto da frase, seria “para a gente ter ele [o termo de posse], e você só use em caso de necessidade. Neste caso, o “para a gente ter ele” precisaria incluir o próprio presidente no substantivo coletivo “a gente”, mas o documento ficaria com uma parte ou com outra, porque Lula estava em São Paulo e Dilma, em Brasília.
Outro detalhe na transcrição da Polícia Federal é a vírgula colocada depois da frase “pra gente ter ele”. No áudio, Dilma faz uma pequena pausa, mas na versão que deu ao diálogo, a vírgula seria desnecessária. “Pra gente ter ele e só use em caso de necessidade”.
O aúdio pode ser ouvido com mais nitidez na publicação da Folha de S.Paulo.
Abaixo, a transcrição da Polícia Federal (LILS são as iniciais de Luiz Inácio Lula da Silva)