Estou cansado de ouvir que há potenciais em nossa região. Potencial para fármacos, potencial para bionegócios, potencial para turismo, potencial para pesca, potencial para fruticultura, potencial para mineração e por aí vai. Enquanto falamos de potencial, não realizamos o potencial. Seria muito mais interessante a realização de qualquer destes potenciais de maneira competente do que ficar se vangloriando da presença de potencial ou criticando o passado pela não realização dos potenciais.
Há uma emergência adormecida pela realização deste potencial. Não há mais tempo para esperar. O Brasil está mergulhado em uma crise sem precedentes e a discussão é sobre como destruir o pensamento do outro e não sobre como fazer. Quem contrapõe ideias sobre como fazer, não propõe alternativas, mas apenas aponta erros. Há uma necessidade de aprendermos e reconstruirmos uma dialética para fazer.
Dificilmente se discute no país a nossa produtividade. Em qualquer área não há uma disposição para debater a produtividade. Fala-se em reforma tributária, mas na pura busca de vantagens e não na simplificação da operação ou no aumento da produtividade do recurso ou do tempo empregado para controlar a arrecadação. A recente publicação de uma Lei para a Liberdade Econômica parece criar mais um conjunto de normas e deixa a liberdade para órgãos definirem prazos para licenças. Por que a Lei não estabeleceu prazos? Temos dificuldade no estabelecimento de metas, como se elas fossem perigosas.
Prazos ajudam na execução e na busca de produtividade. Alunos em universidades começam a trabalhar quando o prazo está acabando e parece que este hábito está entranhado em toda a gestão do país. Deixar para depois faz parte da cultura nacional. Afinal, como temos um enorme potencial, sempre adiamos e deixamos para depois o que deve ser feito hoje. Tudo é conduzido como se não houvesse uma urgência e um prazo curto. Típico de quem tem a barriga cheia e a cabeça vazia.
A atuação fora da percepção sistêmica é o que trava o Brasil. Paul Krugman (Prêmio Nobel de Economia em 2008) assevera “o que trava o crescimento do Brasil é a falta de infraestrutura”. Em um estudo apresentado na última semana na FIEAM, onde fui um coautor, em conjunto com Farid Mendonça, Osiris Silva e Sandro Breval, apresentamos uma proposta para um Marco Estratégico para o Desenvolvimento do Amazonas, tendo como base a produção científica sobre a Amazônia. Desta busca, emergiram três vetores: Infraestrutura, Produção e Ciência & Tecnologia.
Uma das reações contrárias mais interessantes e emblemáticas é a eterna desculpa que não há recursos. Ora, como retirar resultados sem investimentos? Há um desejo intrínseco no comportamento nacional que pode ser obtido resultado do nada. Como se não fosse necessário trabalho ou investimento para auferir resultados. A cada dia que passa nos distanciamos de metas de realizações, estabelecendo sonhos sem construções. Não dizemos de maneira clara para as pessoas que é necessário estudar e se desenvolver para a criação de capacidade de realizações.
Não haverá algum país estrangeiro querendo nos desenvolver. Não levaremos o desenvolvimento para o interior. Entretanto, é necessário dotar o Amazonas e a Amazônia de condições que oportunizem o desenvolvimento pela realização das pessoas. Enquanto isso não for feito, seguiremos a vender ilusões e a patinar na capacidade de geração de riquezas, colocando a sociedade na condição de serviçais de uma elite construída e alimentada pelo imposto, sem a capacidade de produzir.
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Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.