Nos dias 9 e 10 de outubro, o Papa Francisco lançou oficialmente a convocação para Sínodo Mundial da Igreja Católica. Com o lema ‘Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão’, as dioceses de todo o mundo iniciaram o processo sinodal no dia 17 de outubro. A celebração da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2023, será, co certeza, o maior evento eclesiástico do pontificado do Papa Francisco.
Estrategicamente, o Sínodo Especial para a Amazônia foi um ensaio do novo processo sinodal proposto pelo líder católico, orientado pelo Documento Episcopalis communio lançado em 2017. O documento propõe uma igreja baseada na sinodalidade. Trata-se de um conceito que não é novo na Igreja Católica. Os primeiros cristão viviam a sinodalidade na sua mais profunda radicalidade: “eles tinham tudo em comum… e não haviam necessitados entre eles”.
A sinodalidade das primeiras comunidades vem sendo cada vez mais recuperada nos processos sinodais do pontificado do Papa Francisco. O Sínodo representa um espaço de escuta, reflexão e tomada de decisão de forma coletiva, participativa. Significa “caminhar juntos/as”. Cada vez mais, os caminhos sinodais têm resultado numa reflexão profunda sobre os principais desafios da Igreja e numa tomada de decisões coletivas, de modo participativo.
É uma mudança profunda na metodologia pastoral e eclesial.
O Sínodo vem se configurando nesse espaço de reflexão sobre temas complexos na tradição da Igreja. Temas que precisam de atualização e retomada como a participação das mulheres nos ministérios ordenados ou as novas ministerialidades que ser fazem necessárias em certas regiões da Igreja Católica.
No ensaio geral realizado através do Sínodo Especial para a Amazônia, foram tratados temas importantes na atual conjuntura internacional como a questão da Ecologia Integral proposta na Encíclica Laudato si’ (2015) que subsidiou o debate
teológico e pastoral do processo sinodal numa tomada de consciência da necessidade de uma nova convivência com a Amazônia, com o modo de serde seus povos (o Bem Viver), com seus recursos de uso coletivo compartilhados num modo de vida não capitalista adotado e assimilado milenarmente.
O processo sinodal contribuiu também para ajudar o povo a se posicionar numa atitude de defesa da Amazônia, seu bioma e seus povos ameaçados em seus territórios, injustiçados, expulsos de suas terras, torturados e assassinados nos conflitos agrários e socioambientais, humilhados pelos poderosos do agronegócio e dos grandes projetos econômicos desenvolvimentistas e economicistas. Projetos estes que empurram o povo para as periferias das grandes cidades negando-lhes os direitos básicos de acesso à saúde, educação, segurança e condições de sobrevivência com dignidade em toda Pan-Amazônia.
Ao relacionar a Amazônia ao debate proposto na Laudato si’ o Papa Francisco traz à tona os problemas e contradições do modelo de sociedade vigente com uma crítica contundente ao projeto capitalista de sociedade que se deixa caracterizar pela concentração da riqueza, pelas desigualdades e injustiças sociais.
A sinodalidade foi o fio condutor da Assembleia Sinodal e o caminho do discernimento sob a orientação do Papa Francisco, para escutar a realidade, discernir os possíveis caminhos a serem trilhados e promover ações que venham de encontro com as necessidades da região pensada a partir das particularidades de seu bioma, da diversidade sociocultural de seus povos e da posição estratégica que ela ocupa no planeta.
Orientadas pela metodologia da sinodalidade, todas as dioceses dos nove países da Pan-Amazônia realizaram inúmeras atividades em preparação às Assembleias Territoriais que recolheram e sistematizaram, de forma transparente e participativa, inúmeros relatórios das mais diversificadas atividades que promoveram ampla participação de toda comunidade católica neste processo denominado pelo documento preparatório de “escuta sinodal” conforme prevê o Art. 6 – Consulta do Povo de Deus, do documento Episcopalis communio. Todo esse processo se repetirá, agora em nível macro, nas dioceses do mundo inteiro.
Por isso, embora na sua composição se configure como um organismo essencialmente episcopal, o Sínodo não vive separado do resto dos fiéis. Pelo contrário, é um instrumento adequado para dar voz a todas as comunidades católicas recuperando a expressão eloquente da sinodalidade como dimensão constitutiva da Igreja.
No Sínodo da Amazônia, a metodologia participativa foi caracterizada pelo debate em torno da busca coletiva dos ‘novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral’, tema central do Sínodo. Dessa forma, os itinerários da sinodalidade retomaram as orientações de uma teologia encarnada na vida e na história do povo católico (e de todos os povos de boa vontade), materializada na experiência da sinodalidade com bases e fundamentos na tradição das primeiras comunidades cristãs.
A sinodalidade é expressa por meio de uma construção literário-teológica, que reflete e estimula uma práxis, um modo de ser e agir que interpela o modelo de sociedade consumista, individualista/egoísta, promovido pelo capitalismo ao longo dos últimos séculos.
A Igreja em saída proposta pelo Sínodo exige rupturas, de modo especial com as práticas neocolonialistas e com o conservadorismo que distancia a Igreja das causas sociais e do próprio evangelho. Nesta perspectiva, o sínodo dá continuidade ao processo de descolonização da atuação pastoral da Igreja que passa pelo discurso e pelas práticas religiosas e pastorais. Entretanto, trata-se de uma tarefa difícil porque a descolonização implica também em mudanças profundas no pensamento da Igreja. Descolonizar a mente e o coração da Igreja foi o apelo central do Documento Preparatório e do Instrumentum Laboris (Documento de Trabalho) do Sínodo da Amazônia, retomado agora em nível macro por toda a igreja.
Descolonizar implica abrir mão de valores etnocêntricos que não respeitam as demais culturas e seus valores. Implica reconhecer os saberes, as ciências e as espiritualidades de outros povos com suas línguas, costumes e culturas. Em poucas palavras respeitar o outro na sua diferença e não o nivelar numa cultura hegemônica como a proposta pelo capitalismo que não se encontra apenas no aspecto econômico, mas, incide também com grande força na produção do pensamento, da religião, da moral, da ética e da política. Temas estes que não interessam apenas à Igreja Católica, mas, a todas as pessoas que se sentem impelidas a outo modo de vida, a outro mundo possível.
Marcia Oliveira é doutora em Sociedade e Cultura na Amazônia (UFAM), com pós-doutorado em Sociedade e Fronteiras (UFRR); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia, mestre em Gênero, Identidade e Cidadania (Universidad de Huelva - Espanha); Cientista Social, Licenciada em Sociologia (UFAM); pesquisadora do Grupo de Estudos Migratórios da Amazônia (UFAM); Pesquisadora do Grupo de Estudo Interdisciplinar sobre Fronteiras: Processos Sociais e Simbólicos (UFRR); Professora da Universidade Federal de Roraima (UFRR); pesquisadora do Observatório das Migrações em Rondônia (OBMIRO/UNIR). Assessora da Rede Eclesial Pan-Amazônica - REPAM/CNBB e da Cáritas Brasileira.
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Basta lê a bíblia para saber que existem regras desde do começo da humanidade, pro se faz quê, temos os 10 mandamentos, onde muitos fazerem questão de não lê, por isso acho que tudo na vida tem limite, minha maneira de vê a vida não pode interferir na maneira do outro, porém eu TB tenho direito de me expressar da minha maneira , desde que não seja de maneira ofensiva, religião não salva ninguém, mas temos regras a cumprir..
Um abraço..