Por Teófilo Benarrós de Mesquita, do ATUAL
MANAUS – Um ano após o desaparecimento da farmacêutica Leude Suelem de Figueiredo Gonçalves, então com 23 anos, a família mantém as buscas para encontrá-la viva. De acordo com a mãe dela, Shirlene dos Santos Figueiredo, 42 anos, a última informação da Polícia Civil do Amazonas é que a investigação está parada e só será retomada se houver nova pista. O MP-AM (Ministério Público do Amazonas) foi acionado pela família para também acompanhar o caso.
“Infelizmente, nesses casos, a gente precisa da população, a gente precisa da mídia para fornecimento de novas informações, porque a policia não investiga casos de desaparecimento”, diz Shirlene.
Na noite do desaparecimento, em 5 de outubro de 2022, a mochila com os pertences de Leude Suelem foi encontrada na ponte Rio Negro, que liga Manaus a Iranduba (distante 27 quilômetros da capital amazonense).
“Para a polícia, o caso não está encerrado, está parado. A família foi informada que a polícia só voltará a fazer alguma coisa, alguma investigação, se houver pista ou informação nova”, disse Shirlene ao ATUAL, na véspera de completar um ano do desaparecimento da jovem.
A mãe de Leude Suelem, que mora em Macapá, diz que a família continua a procura em Manaus, mas fica sujeita à ações investigativas da polícia. “O serviço público é muito lento. Não tem ferramentas, às vezes, para trabalhar. As ferramentas são muito poucas. Eles falam com relação a isso, para a gente ter um pouco de paciência e esperar”.
“Tem também a falta de informação. Quando a gente chega [no órgão público], está sem informação, eles estão sem carro, sem combustível, sem servidor disponível. Tudo isso é frustrante para a família, que só tem a polícia e o Ministério Público para recorrer”, acrescenta. “Se a gente contrata uma pessoa para fazer o trabalho particular, ela também é parada nessa parte burocrática, porque a polícia não fornece nada do que tem [de informação]”.
Apesar das dificuldades, Shirlene afirma que “a família jamais desistirá”. “Se a gente não correr atrás, se a gente não buscar informação ou ficar cobrando do poder público, a gente fica no esquecimento”.
O desaparecimento
Ano passado, Shirlene disse ao ATUAL que a filha tomava remédios controlados e teve um surto no início de 2022. Mas não acreditava que Leude tenha pulado da ponte, onde foi encontrada sua mochila.
A família, com ajuda de imagens de câmeras de segurança de estabelecimentos comerciais, recompôs o dia da estudante. A investigação da própria família tem como última referência o embarque de Leude, na Avenida Autaz Mirim, zona leste, em um ônibus da linha 016, que tem como parte do itinerário o bairro da Compensa, onde fica a ponte.
As ações realizadas pela família incluem consultas às imagens das câmeras de segurança do Ciops (Centro Integrado de Operações de Segurança), da SSP-AM (secretaria de Segurança Pública do Amazonas). Essas imagens não registram a entrada de Leude na ponte, a pé ou de moto.
“Os responsáveis pelas câmeras de segurança da ponte já olharam mais de seis vezes o vídeo. Não tem nenhum momento em que identificam ela entrando, andando e nem de moto”, disse Shirlene ao ATUAL em 18 de outubro do ano passado. A mãe de Leude Suelem informou na ocasião que também assistiu às imagens, e não há sinal da filha entrando na ponte.
Pessoas desaparecidas
“As pessoas que passam por isso [desaparecimento de parentes] precisam ter um órgão nacional que trabalhe com isso. Se tivesse um departamento, uma delegacia, que trabalhasse interligando o Brasil, seria bem melhor”, diz Shirlene, sem saber da existência de uma lei com esse objetivo, que nunca saiu do papel.
A lei 13.812, de 2019, instituiu a Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas e criou o Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas. O cadastro, porém, nunca entrou em funcionamento.
De acordo com o site do Ministério da Justiça e Segurança Pública, o cadastro “está em construção e, quando em funcionamento, será composto tanto de informações públicas, destinadas a auxiliar a população em geral no fortalecimento das ações de busca de pessoas desaparecidas, quanto de informações sigilosas, direcionadas às instituições governamentais de segurança pública, com informações como impressões digitais e dados genéticos, igualmente importantes nas ações de localização de pessoas”.
Para Shirlene, “se tivesse todas as informações em um banco de dados, que todo o Brasil tivesse acesso, seria muito mais fácil, e não tratar o desaparecido como ‘só mais um'”.
“O que eu percebi muito, quando a gente precisou, é que o desaparecimento da minha filha ‘é só mais um; amanhã já tem outro caso’ e o caso da minha filha já ficou esquecido”, desabafa Shirlene.
“Mas a família jamais vai deixar de buscar alguma resposta, alguma notícia. Aonde há vida, há esperança. E a gente crê que nossa filha está em algum lugar. Só não sabe aonde. Mas a gente tem essa fé, que nós move todos os dias, para levantar e encarar e venceu mais um dia”, afirma Shirlene.
Polícia Civil
O ATUAL solicitou da Polícia Civil do Amazonas informações sobre as investigações do desaparecimento de Leude Suelem. Em nota, foi informado que os trabalhos continuam.
Confira a íntegra da nota da PC:
“A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), por meio da Delegacia Especializada em Ordem Política e Social (Deops), informa que o Inquérito Policial (IP) do desaparecimento de Leude Suelen Figueiredo Gonçalves, 23, foi encaminhado ao Poder Judiciário. No entanto, as investigações continuam.
Na época do desaparecimento, foram solicitadas imagens de câmera de segurança de um shopping center no bairro São José Operário, zona leste, onde a jovem foi vista pela última vez, no dia 5 de outubro de 2022. Também foram analisadas imagens obtidas por meio do Cerco Inteligente, para verificar o percurso feito por ela ao sair do estabelecimento comercial.
Além disso, familiares e pessoas próximas a Leude Suelen foram ouvidas, bem como a pessoa que encontrou a bolsa de Leude Suelen na ponte Jornalista Phelippe Daou, bairro Compensa, zona oeste”.