A transmissão online de jogos chegou para ficar. A possibilidade de transmissão de evento virtualmente não é inédita, mas tem assumido um papel central na vida dos espectadores esportivos.
Se tecnologias como Chatroulette e Twitcam eram acessíveis a indivíduos para transmissões pontuais, elas passaram a outro nível em 2018, quando o Facebook comprou os direitos de transmissão da Copa Libertadores da América de 2019 a 2022 em 10 países da América do Sul, dentre os quais o Brasil.
Embora não transmita todos os jogos do campeonato, a rede social de Mark Zuckerberg avançou sobre um mercado tipicamente dividido apenas entre empresas de TV aberta e de canais televisivos fechados. O meio escolhido para isso foi o Facebook Watch, uma plataforma interna de exibição de vídeos.
A plataforma online anunciou ter alcançado boa audiência em 2019, atingindo um pico de audiência de 1,04 milhão de pessoas simultâneas no jogo do Flamengo contra o San José, da Bolívia, em abril.
A vantagem que o Facebook tem sobre as mídias convencionais se acentua em eventos bastante populares, como a Libertadores: é uma gigantesca estrutura publicitária mundial. Assim, além de transmitir o torneio em vídeo, a plataforma coleta dados dos espectadores.
Esses dados são bastante detalhados e utilizados para conectar cada pessoa a anúncios de marcas que tenham a ver com seu perfil.
Essas são as chamadas “métricas”, que dão ao Facebook informação apurada, que custaria a qualquer canal de TV ou rádio contratar pesquisas de público a peso de ouro ou tentar engajamento online com ferramentas digitais.
Transmissões popularizadas
A possibilidade de coletar dados de audiência é o triunfo de grandes plataformas digitais como o Facebook Watch ou o YouTube. Por isso, elas estimulam a participação dos usuários, com seus próprios vídeos. Além de serem um espaço gratuito, as plataformas permitem a quem transmite ter acesso a dados de audiência.
Esses dados permitem ter um “raio-X” do conteúdo e entender o que funciona e o que não dá certo com os espectadores. Também permite entender melhor quem é o público-alvo, por idade, sexo, localização no mundo, entre outros dados.
Por isso, atualmente, o streaming é uma ferramenta fundamental para transmissões de jogos ao vivo, oferecido tanto por gigantes digitais quanto pelo ESC online e outras plataformas. Nos últimos anos, houve uma radical redução de custos para filmar e transmitir imagens e som em alta qualidade e, com isso, as plataformas de transmissão estão em franca expansão.
Tanto isso é verdade que muitos times de futebol já investem em aplicativos e plataformas próprias para transmitir seus jogos. A recente Medida Provisória 984 trouxe alterações nas normas de negociação dos direitos de imagem dos clubes esportivos: abriu-se margem para que os times possam ter maior poder de barganha em relação às empresas de rádio e televisão.
Assim, a tendência à descentralização atingiu o futebol em cheio nesse momento. No entanto, há modalidades de jogos que já cativaram uma enorme audiência nativa digital – os esportes eletrônicos.
O queridinho dos “gamers”
Se o streaming está apenas começando no futebol e muitos espectadores ainda enfrentam problemas técnicos para sintonizar nos jogos, os esportes eletrônicos já têm audiências que usam como principal acesso aos torneios o YouTube e o Twitch.
O caso do Twitch merece ser comentado: essa rede social de transmissões de vídeo especializada em videogames nasceu em 2011, como um desdobramento da plataforma Justin.tv. No entanto, a criatura cresceu e engoliu o criador – a Justin.tv fechou em 2014 para se dedicar a desenvolver o Twitch.
Atualmente, o Twitch é uma empresa subsidiária da gigante de tecnologia Amazon. A média de espectadores no Twitch em abril de 2020 foi de 2,48 milhões. No mesmo mês, foram transmitidas 67,4 milhões de horas de vídeos na plataforma. Na lista da Alexa, que ordena as páginas mais visitadas no mundo, a plataforma ficou em 34º lugar em abril.
Tanto os jogadores amadores quanto os organizadores de torneios de esportes eletrônicos consideram o Twitch seu “lar”, com uma audiência bastante segmentada e acostumada com a dinâmica da rede. Porém, no caso das competições o potencial para atrair anunciantes para uma vitrine dessas não tem comparação.
Por esse motivo, empresas como o Facebook investem em interações que vão muito além dos “textões”, vídeos e compartilhamento de fotos e memes. Os gigantes de tecnologia disputam zonas de influência nesse grande mercado e as transmissões esportivas estão em franca transformação.