Acabou o processo eleitoral. Que bom para alguns e que pena para outros. Escrevo este texto sem saber do resultado, mas acredito que ele nos trará alegrias e tristezas. Todo o processo decisório é difícil, mas tenho confiança que nós votamos querendo acertar. Chegará em breve para os eleitos e está em curso para vários outros brasileiros a atividade diária de gestão, pois seguimos tendo que produzir, realizar, pagar contas, pagar impostos e contribuir para a construção de um mundo melhor. Disse “mundo”, porque fronteiras são meras abstrações, pois somos habitantes de um planeta, mas em geral interferimos realmente na nossa rua ou na nossa cidade.
O trabalho de gestão é normalmente um trabalho silencioso. Gosto de ver gestores silenciosos e que realizam. Odeio ver gestores silenciosos ou barulhentos que não realizam ou que fazem decisões erradas. Pelo meu papel de professor, gosto de professar as minhas crenças, ou seja, de declarar publicamente algumas coisas que fazem parte de meu minúsculo campo do conhecimento. Faço isso em salas de aulas, auditórios, textos e onde mais queiram me ouvir. Nestes contextos, uma das maiores chateações é apontar coisas erradas. Isso é o que mais faço nos últimos dez anos sobre o trânsito de Manaus. Entretanto, também apontando alternativas e saídas para a encrenca em que a cidade se encontra. Contudo, com a consciência de que o problema é muito, muito complexo. Sei que a solução certamente passa por muitas mentes combinadas e o que cada um de nós sabe sobre o tema é pouco frente ao desafio, por isso não paro de falar, por mais que normalmente nem seja ouvido por quem deveria ouvir.
Os criticados não gostam de receber sugestões. É uma pena. Eles perdem e eu perco o aprendizado do lado deles. É um jogo triste, de perda total. Por outro lado, é necessário perceber e professar quando observamos acertos, para manter o mínimo equilíbrio para meu interesse de um mundo melhor, evitando a leseira da crítica pela crítica. Criticar é chato e elogiar é maravilhoso. Este texto é para dizer que estou vendo um conjunto de acertos. O órgão de trânsito de Manaus voltou a acertar. E fazia tempo que isso não acontecia de maneira sistemática. Desde o reacender das faixas de pedestres na cidade, que não tínhamos ações efetivas para a melhoria no trânsito da cidade. Mas isso mudou. Paramos de piorar e vemos melhoras. Parabéns!
Não tenho a menor ideia de quem seja o responsável, mas parabenizo o time que fez. Afinal ninguém faz nada sozinho. O que vem melhorando silenciosamente? Faixas de pedestre ganharam iluminação e foram recuperadas. Vê-se isso em curso por toda a cidade. A mesma iluminação ganha as passarelas. Observam-se pinturas e sinalizações de paradas de ônibus. Há uma vestimenta mais apropriada para os agentes de trânsito (agora podemos vê-los, com o maior contraste possível – preto e amarelo, conforme aprendi com os meus alunos do Mestrado em Design).
Notei que havia alguém raciocinando meses atrás, com uma melhoria expressiva: o ajuste de sinalização em confluências de vias e faixas de rolamento. Para citar apenas um dos lugares realizados: o viaduto na Av. Mario Ypiranga / Av. Maceió / Av. Ephigênio Sales. Com um cuidado de projeto, raspagem de faixas velhas e alguns galões de tinta, a pintura eliminou um conjunto expressivo de erros que geravam retenções inúteis. Um show. Completamente silencioso e necessário. Um erro de execução de projeto que se arrastava por anos e causava uma enorme retenção naquela localidade. Não sei quem fez, mas quem fez merece congratulações! Isso me obrigará a pensar novos exemplos de erros, pois este problema eu apontei para a minha primeira turma de Sistemas de Transporte uns nove anos atrás. Se o time vier a ler este texto: façam mais disso pela cidade, pois há vários outros casos semelhantes.
Há muito por ser feito? Certamente. Gestão é isso: não acaba nunca. Como disse Jaime Lerner, uma cidade é uma obra eternamente inacabada. O problema é pensar ao contrário, que ações isoladas resolvem definitivamente algo. Dói elogiar? De maneira alguma. É muito mais agradável elogiar do que criticar. É muito mais simples. Entretanto, criticar por criticar, sem propor saídas e alternativas é ainda mais simples, porque não falta no mundo em que vivemos problemas para apontar. Neste dia de esperança, com novos eleitos, quer gostemos deles ou não, teremos o desafio de construir um mundo melhor. Fica o convite para seguirmos em críticas que destruam problemas, mas que verdadeiramente ajudem na construção de um mundo melhor. E, para o engenheiro anônimo do Manaustrans, fica a minha singela mensagem de congratulações, estendida a tantos outros gestores anônimos que fazem o país funcionar. Precisamos unir as forças de quem quer verdadeiramente construir um país melhor. No dia em que fizermos isso, teremos um mundo melhor. A verdadeira evolução virá de cada um de nós e do esforço conjunto de cooperação para a construção. Não será fácil, pois não dá para terceirizar.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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