Da Redação
MANAUS – Com o terceiro pior IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) do país entre as regiões metropolitanas, Manaus está longe de alcançar metas da ONU (Organização das Nações Unidas) em relação a erradicação da pobreza, construção de comunidades e cidade sustentável, segundo estudo do Projeto Amazônia Legal Urbana.
A capital amazonense, cuja população é estimada em 2.219.580 pessoas, tem IDHM de 0,74. Considerando a densidade territorial, o estudo mostra que o espaço delimitado urbano da cidade corresponde a uma área de 881 km² com uma população de 1.792,877 habitantes que corresponde à alta densidade populacional de 2.035 hab/km².
Os dados compõem a pesquisa intitulada “As desigualdades urbanas e a metrópole regional em tempos de mudanças climáticas: Uma análise socioespacial de Manaus (AM)”, que será apresentada na próxima quarta-feira, 28, pelo Projeto Amazônia Legal Urbana.
De acordo com os pesquisadores, em Manaus as condições de vida e saúde são afetadas por diversos contextos, entre eles as mudanças climáticas por meio de uma série de mecanismos, como o aumento do calor, a má qualidade do ar e eventos climáticos extremos, e também através de mudanças (enchentes, por exemplo) que alteram doenças transmitidas por vetores, reduzem a qualidade da água e aumentam a insegurança alimentar.
O estudo indica que a segregação socioespacial da cidade, local onde vive a maioria da população, é impactada por ocupações insalubres, falta de rendimentos, má qualidade da água e do ar e insegurança alimentar, tornando os habitantes ainda mais vulneráveis aos eventos climáticos extremos.
“Essas vulnerabilidades, mediadas pelo racismo, pobreza, condições geográficas e culturais, diferem de acordo com os grupos raciais e étnicos, repercutindo no aprofundamento das desigualdades de gênero, em especial em países de baixa e média renda, como o Brasil”, afirmam os pesquisadores.
Em Manaus, a população indígena e a negra são as que apresentam a menor proporção de acesso adequado à água, com rede geral com canalização, e a maior proporção de não acesso à água, com uso de poços ou nascentes com canalização interna. Este último quesito apresenta também uma proporção desigual entre os gêneros, com piores indicadores para as mulheres.
“Nossa pesquisa se realiza pela coleta, sistematização e análise de dados secundários dos perímetros urbanos para a análise socioespacial do ordenamento territorial do município de Manaus (e de outras cidades da Amazônia Legal) diante dos compromissos com as Mudanças Climáticas”, explica o pesquisador Diosmar Filho.
O estudo joga luz sobre as desigualdades étnicas, raciais, sociais e de gênero, revelando as dimensões das mudanças climáticas no ordenamento territorial urbano das cidades interdependentes da Amazônia Legal. A iniciativa, que conta com apoio institucional do ICS (Instituto Clima e Sociedade), tem como objetivo contribuir com a revisão ou elaboração dos planos diretores urbanos da capital do Amazonas e de outras quatro capitais: Belém (Pará), Macapá (Amapá), São Luís (Maranhão) e Rio Branco (Acre).
O levantamento será apresentado no dia 28, das 10h às 12h30, no debate pela internet “Análises Socioespaciais sobre Mudanças Climáticas na Amazônia Legal Urbana: Manaus”, que contará com a participação da equipe de pesquisa do projeto, além de representantes de organizações sociais do município, entre elas Francimar Santos Junior (Francy Junior), historiadora e articuladora do Movimento de Mulheres Negras da Floresta – Dandara. O debate será transmitido online pelo canal do iCS no Youtube.