Por Saadya Jezine, da Redação
Com 4.042 placas concedidas, o sistema de transporte por táxi em Manaus é uma “bagunça”, reconhecida até pelo diretor-presidente da SMTU (Superintendência Municipal de Transportes Urbanos), Pedro Carvalho. Mas o sistema controlado pela SMTU, responsável por conceder as licenças e fiscalizar o serviço vai além da bagunça e chega a um nível de exploração dos trabalhadores que se aventuram na praça de Manaus.
Conforme depoimentos de taxistas ouvidos pelo AMAZONAS ATUAL a categoria sofre diariamente os efeitos de ações consideradas “exploratórias” na execução da atividade. Questionado sobre a veracidade das informações fornecidas por esses profissionais, Pedro Carvalho confirma. A considerada mais recorrente e grave, até mesmo pelo impacto econômico que gera aos taxistas que optam por essa situação, é a da venda de automóveis com placas de taxistas. Empresários e pessoas físicas que possuem a concessão da placa vendem os automóveis por até seis vezes mais que o valor de mercado.
Por exemplo, um automóvel modelo prisma, ano 2015, que custa no mercado R$ 25 mil para taxista (com os descontos a que tem direito), quando comprado nesse comércio “negro”, o valor chega a R$ 150 mil. “Eu dei R$ 9 mil de entrada e pagava R$ 125 de diária para quem me vendeu. Parcelei em 40 vezes. Somando, eu pagaria pelo carro R$ 150 mil. Digo pagaria porque ficou muito oneroso para mim e resolvi devolver o automóvel. Perdi todo o dinheiro investido”, disse Cosme Silva, ex-taxista, que resolveu abandonar a atividade essa semana.
Silva explica que as diárias são pagas duas vezes por semana. Os que não conseguem pagar têm o sistema do carro bloqueado em 10 dias após a constatação da inadimplência. Logo após, o inadimplente tem o veículo recolhido pelo “ex” proprietário e perde todo o investimento feito. Cosme Silva afirma que essas transações são realizadas sem documentação, apenas verbalmente ou através de recibos. O AMAZONAS ATUAL teve acesso a áudios e mensagens de texto que comprovam atuação rigorosa dos donos das concessões aos novos proprietários dos veículos.
Diárias abusivas
Outra situação é o aluguel do carro em que o proprietário – dono da licença expedida pela SMTU – cobra diárias consideradas exorbitantes aos motoristas que escolheram o aluguel. “Em média, eles (locatários) cobram a diária entre R$ 120 e R$ 150. Isso significa que mensalmente precisamos desembolsar em torno de R$ 4,5 mil só para poder usar o carro. É um dinheiro livre para eles. Para nós, além desse valor, temos gastos com combustível, rádio e outras despesas”, afirma João Carlos Bentes, um dos taxistas que escolheu essa opção.
Outra situação é a comercialização apenas da placa. O valor médio dela, segundo relatos de taxistas é R$ 70 mil. “E a compra pode ser efetuada somente a vista. Não existe parcelamento”, disse Cosme. Além desse gasto, o taxista arca com o valor do novo automóvel.
A Lei Municipal nº 2.088, de 30 de dezembro, de 2015, estabelece que cada permissionário tem direito a um auxiliar para se revezar na atividade. “E há possibilidade do permissionário passar a concessão de uso para um auxiliar, desde que esse auxiliar comprove que desenvolve a função no mínimo por dois anos”, explicou Pedro Carvalho. Mas, segundo Pedro Gomes Filho, taxista com 15 anos de trabalho, “O que acontece é que quem adquire a concessão da placa não é um permissionário, porque nunca trabalhou no ramo, e sim uma pessoa que negocia a venda da placa ou aluga. Há pessoas que vendem até por R$ 120 mil uma placa ou cobra aluguel entre R$ 100 a R$ 140 a diária”.
Os rigores da lei
Roberto Ramos, taxista há 25 anos, foi notificado pela SMTU a se explicar. “Eu tenho 15 dias para apresentar a minha defesa. Eles alegaram que recebi a notificação porque tenho outro emprego, no Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urência). Mas não há nada na legislação que me impeça de ter outro emprego, tanto é que faço isso há mais de 12 anos”, disse o motorista.
A bagunça é tanta que trabalhar na legalidade desanima motoristas como Pedro Gomes. Ele afirma que “não há fiscalização e para entrar na legalidade é muito oneroso também. Só para transferirmos a concessão é R$ 7 mil”, disse o taxista, que atribui as dificuldades do sistema à burocracia. “É certo que alguns empecilhos que a SMTU impõe acabam contribuindo para que algumas pessoas recorram à prática ilegal, como essa situação aí que somos explorados pelos empresários”, afirmou.
Das 4.042 concessões, 8% – 322 licenças – são de “propriedade” de 14 empresas que, segundo a SMTU, têm o direito adquirido por operarem no serviço desde antes de 2002. Alex Veículos, Sila Veículos, Vicar Veículos e a W.S.B Veículos são as que detêm o maior número de placas: 40 cada.
Cobrança
O defensor público Carlos Alberto de Almeida Filho disse que o aluguel de placas é ilegal. Ele cobrou explicações à SMTU, porém, apenas sobre as notificações a taxistas que trabalham com táxi, mas têm outro emprego de carteira assinada. A SMTU informou que a concessão da licença é para quem vive exclusivamente do trabalho de transporte particular de passageiros. “Não procuramos reduzir a quantidade de taxistas, mesmo porque trabalhamos com o que determina a lei que é uma placa para cada 500 habitantes”, disse Pedro Carvalho, ao revelar que 70 licenças individuais foram canceladas. Para empresas, uma concessão foi cassada e três estão em processo na Justiça.
A SMTU já notificou 527 taxistas. “Temos diferentes situações, muita coisa que precisa ser solucionada. Está uma total desorganização”, disse Carvalho. “A intenção não é prejudicar o profissional que usa essa atividade para sustentar a sua família. Pretendemos o oposto: tirar do mercado as pessoas que por algum motivo têm a concessão do uso da placa, mas vende ilegalmente”, afirmou Carvalho.
Boa terde meu nome é Marcos Antônio,sou taxista a 28 anos sempre existiu esse mercado negro no sistema de táxi, tudo que foi dito é verdade, também quero ressaltar que no serviço de táxi o motorista chega a trabalhar até 24 horas ou mais, tem coso que alguns colegas se expõe ao perigo com uma carga horária dobrada pra pagar as diárias altíssimas, com detalhe, se nenhuma carga tributária aos imprensário, acho que todo taxista teria que ter uma carga horária de trabalho no máximo de 12 horas porque trabalha transportando vidas, cabe ao órgão gestor do sistema regularizar o horário para que o motorista desenvolva sua atividade.
E a lei que o prefeito Arthur assinou, não tá valendo que a diária séria de 70 reias como ficar?