Por Jullie Pereira, da Redação
MANAUS – A Lei das Sacolas Plásticas em vigor em Manaus é válida e útil, mas deve incorporar campanhas de conscientização sobre o descarte correto para que, de fato, exista um impacto social e ambiental. As avaliações são de ambientalistas ouvidos pelo ATUAL.
A lei estabelece a distribuição gratuita de sacolas plásticas por estabelecimentos comerciais até 20 de outubro de 2022. Depois disso, apenas sacolas biodegradáveis poderão ser fornecidas. A partir de outubro de 2023 será proibido o uso de sacolas de qualquer composição.
A supervisora da Agenda Cidades Sustentáveis da FAS (Fundação Amazônia Sustentável), Cristine Rescarolli, avalia que a proibição das sacolas plásticas é uma forma de impactar a sociedade, mas é uma política que exige conscientização e mais informações.
“Essa política deve ser acompanhada de campanhas de conscientização sobre o uso e descarte correto de plástico, destinando a reciclagem. Quando seu uso for essencial, é necessário reforçar informações sobre a utilização de ecobags e alternativas que sejam atrativas, além de dar clareza na informação sobre a destinação do valor arrecadado com a venda das mesmas’, explica.
O representante do grupo Igarapés Limpos, Sidney Fernandes, concorda. O Igarapés Limpos é um grupo voluntário com 300 pessoas que desenvolvem ações para reverter a poluição nos rios e igarapés de Manaus. “Vejo a lei como útil e válida, pois assim como os canudos e os copinhos plásticos, as sacolas são grandes vilãs devido sua distribuição em massa e descarte inapropriado”, diz.
Sidney, no entanto, ressalta que é necessário realizar campanhas de conscientização social para aplicar a lei, o que pode colaborar para a adaptação de todos. “Expor cada vez mais as ambições por detrás da lei, com números, gráficos e estimativas com certeza pode trazer uma adesão mais fácil por parte da população. É de se imaginar que grande parte da sociedade consiga compreender os impactos positivos da lei, mas quanto mais clareza tiver no processo, mais fluida tende ser a adaptação”, explica.
Camila Benvegnú, coordenadora de conteúdo da Menos1Lixo, organização carioca com foco na redução do lixo, critica o uso de qualquer sacola e avalia que a medida de proibí-las é efetiva. “A grande questão das sacolas biodegradáveis é que, mesmo que existam meios delas se decomporem no meio ambiente de forma mais rápida que as tradicionais, elas não acabam indo para esses locais de seguros de compostagem!”, afirma.
“E se o processo de coleta não for adequado, precisamos levar em consideração que elas também podem acabar no oceano e, com isso, prejudicar a vida marinha. Ou seja, causam danos para o ecossistema e não são tão sustentáveis como aparentam”, explica.
Camila também defende que todas essas mudanças de hábitos sejam precedidas de educação ambiental e social. “Tudo isso deve ser feito com informação, diálogo e senso crítico. Se você for pensar, tudo que compramos no mercado já vem numa embalagem, normalmente plástica, e quando colocamos as compras numa sacolinha, estamos embalando aquilo duas vezes. Ou seja, totalmente desnecessário”, afirma.
Rejeição dos clientes
Nas últimas semanas, clientes de supermercados passaram a reclamar da lei que inicialmente proibia a distribuição gratuita das sacolas plásticas, determinando apenas a venda. Os estabelecimentos começaram a vender o produto por valores que variavam entre R$ 0,3 e R$ 0,25.
As reclamações foram tantas que provocaram, em pouco tempo, adaptações na lei. Na quarta-feira (13), a reportagem do ATUAL esteve em supermercados para avaliar as críticas dos clientes. A trabalhadora de serviços gerais, Ilma Barbosa, 56, disse que estava se sentindo prejudicada. “Eu acho que tá me prejudicando, a gente chega pra comprar e não tem caixa de papelão, como que eles querem que a gente leve, eles ainda querem que a gente compre aquelas sacolas, eu acho um absurdo”, disse.
A universitária Tayla Castelo Branco, 22, alega que a medida vai ajudar apenas os empresários. “O tanto que les vão arrecadar por ano, por mês com as sacolas? Mesmo você não trazendo a sua sacola, você comprando aqui não tá contribuindo com a questão ambiental, tá contribuindo com o enriquecimento das empresas”, afirma.
Um dos clientes questionados se posicionou a favor. O barbeiro Wilson Cardoso, 59, foi ao supermercado e precisou comprar as sacolas, mas disse já estar se preparando para adiquirir sacolas retornáveis. “Tem que acabar essas coisas que poluem muito, tinha que dar um jeito de diminuir. Se for deixar pro ano que vem, pra isso e aquilo, a poluição continua, chega dá pena de ver nossos rios e igarapés”, disse.
O presidente da Amase (Associação Amazonense de Supermercados), Alexandre Zuqui, disse que os empresários aprovam a lei e entenderam que era preciso um tempo maior de adapatação, como ficou estabelcido com a revisão da norma. “O marcadista já tem ciencia da forma da lei e sabe que em outurbo vai ter que se adpatar a ela. Isso é bom porque ele não vai ser pego de surpresa. Foi uma decisão muito coerente, dessa forma a população fica com mais tempo de se adequar ao uso da sacola”, disse.
Outras cidades
Após dois anos de aplicação de lei semelhante a que foi sancionada no Amazonas, a Asserj (Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro) realizou pesquisa em que 70% clientes afirmaram não utilizarem mais as sacolas plástica para embalar as compras. De acordo com os dados, 7 em cada 10 clientes usam bolsas retornáveis ou utilizam caixas de papelão.
A Asserj afirma que os supermercados do Rio deixaram de distribuir 4,3 bilhões de sacolas plásticas neste período. O Amapá, Distrito Federal, Espírito Santo, Tocantins , Maranhão e São Paulo também proibem a distribuição do produto.
Lixo plástico
Dados da WWF (Fundo Mundial para a Natureza) mostraram que o Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico do mundo, depois dos Estados Unidos, China e Índia. Aqui, são produzidas 11,3 milhões de toneladas de lixo e apenas 1,28% desse total é de fato reciclado. A média global de reciclagem plástica é de 9%.
A Abrelpe (Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública) informou que em 2020 o volume de plástico descartado no Brasil cresceu, com 13,3 milhões de toneladas.
Em Manaus, o custo para realizar coleta e limpeza de resíduos nas margens dos rios e igarapés da capital chega a R$ 9,7 milhões por ano. Reportagem do ATUAL de junho deste ano mostou que, em média, 27 toneladas de lixo são retiradas por dia o que custa, por mês, mais R$ 1 milhão aos cofres públicos, “considerando a retirada por garis do lixo em outros igarapés da capital”.
A média diária de coleta é bem maior do que a registrada pela Semulps em 2020 para resíduos sólidos. Ano passado, foram recolhidas 731mil toneladas, com média diária de 2.395.
(Colaboraram Alessandra Taveira e Walter Franco)