

Por Renato Machado, da Folhapress
BRASÍLIA – A senadora Simone Tebet (MDB) participa de sua primeira corrida presidencial como uma das apostas para tentar romper a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
Mulher considerada combativa e com experiência política tanto no Legislativo como em cargos executivos, Tebet busca convencer os eleitores de que representa o novo – apesar de integrar as filas de um dos partidos mais tradicionais da política brasileira. Ela também enfrenta o desafio de crescer em meio aos rachas internos e dissidências que marcam o MDB e sua coligação.
Chega à semana final do primeiro turno em quarto lugar, com 5% das intenções de voto na mais recente pesquisa Datafolha. Alguns aliados, porém, já consideram uma vitória se ela se tornar o emedebista com melhor desempenho em um pleito presidencial, superando os 4,74% de Ulysses Guimarães em 1988.
Biografia
Tebet entrou na política por intermédio de seu pai, Ramez Tebet (1936-2006), político influente em Mato Grosso do Sul e que chegou à presidência do Senado. Advogada e professora universitária, ela migrou para a vida pública e ocupou quatro cargos ao longo de sua trajetória. Foi deputada estadual, prefeita de Três Lagoas (MS) por dois mandatos, vice-governadora e agora conclui seus oito anos no Senado.
Sua campanha ressalta a reeleição como prefeita, com mais de 70% dos votos, como exemplo de sua qualidade de gestão. Como senadora, foi uma das vozes a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016. Apoiou o governo de seu correligionário Michel Temer (MDB), em particular as reformas econômicas, como a implantação do teto dos gastos e a reforma trabalhista.
Tornou-se presidente da Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante do Senado. Também enfrentou seu partido e buscou se lançar duas vezes à presidência da Casa que seu pai presidiu. Desistiu de uma delas e foi abandonada pelo MDB na segunda tentativa, derrotada por Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Mesmo sem ser membro efetivo, participou da CPI da Covid e ganhou destaque durante as audiências da comissão, apontando irregularidades em documentos, extraindo declarações comprometedoras dos depoentes e reagindo ao ataque machista do ministro Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União).
Tebet e o MDB
A senadora sempre foi filiada ao MDB. Em suas falas, ressalta a história do partido e o exemplo de nomes como Ulysses Guimarães e Franco Montoro. No entanto, tem um passado e um presente de conflitos com a legenda, tanto em seu estado como em nível nacional. Emedebistas críticos sempre destacam que ela ingressou na sigla “protegida” por ser filha de um quadro respeitado e bateu de frente com caciques.
Em 2018, Tebet se recusou a disputar o governo de Mato Grosso do Sul, após a prisão do ex-governador André Puccinelli (MDB), de quem havia sido vice. Ela pouco teria a perder, uma vez que ainda estava na metade dos seus oito anos de mandato no Senado, mas alegou problemas pessoais e declinou.
Neste ano, seu marido, o deputado estadual Eduardo Rocha (MDB), integrou o governo de Reinaldo Azambuja (PSDB), ao qual o MDB local se opõe. Não à toa, ela teve apertos com palanques em sua base.
Tebet também desafiou o senador Renan Calheiros (MDB-AL) e chegou a lançar uma candidatura avulsa à presidência do Senado em fevereiro de 2019. Depois abriu mão de concorrer para aumentar as chances de derrotar seu correligionário. Ela declarou voto em Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que venceu a disputa.
Dois anos depois, foi a escolhida do partido para disputar a chefia da Casa. Porém, enfrentou resistência para angariar votos e foi abandonada pelo MDB, que preferiu negociar cargos na Mesa Diretora.
Agora candidata à Presidência da República, vê Renan e a ala lulista do MDB declararem apoio para o candidato do PT. Assim, passou por dificuldades com palanques nos estados. Além disso, em alguns estados o MDB também debandou para o lado de Bolsonaro.
Equilibrismo
A candidatura de Tebet busca tirar votos dos dois polos da corrida presidencial, mas a tentativa de não desagradar os extremos virou motivo de queixas de aliados nos bastidores. Críticos avaliam que ela evita tomar posições mais contundentes em temas importantes. A equipe dela e aliados rebatem essa visão, apontando uma tentativa reducionista de discutir política e de tentar enquadrá-la em certas posições.
Sua campanha explora o fato de ela ser mulher, mas uma das principais agendas do movimento feminista, a legalização do aborto, foi tema mais tratado por Lula e principalmente por Bolsonaro durante o período eleitoral. Ela afirma ser contrária à legalização do procedimento, com exceção dos casos atualmente previstos na Constituição. Defende, entretanto, que ocorra o debate sobre o assunto.
Tebet montou uma equipe econômica de caráter extremamente liberal. Defende o teto de gastos e privatizações, com exceção da Petrobras e de bancos públicos. Tem, ainda, dificuldades para explicar como manterá benefícios sociais nessas condições. Aponta que será com o fim das emendas de relator, recursos do Orçamento distribuídos com base em acordos políticos costurados pela cúpula do Congresso.
Pautas conservadoras
Tebet se tornou uma das principais adversárias de Bolsonaro, mas uma análise do seu histórico de votação mostra certa proximidade ideológica. Ela votou junto com o governo em praticamente todas as questões econômicas -com a exceção mais notória da privatização da Eletrobras.
A senadora considera a política ambiental do presidente um desastre, mas chegou em alguns momentos a mostrar simpatia com algumas medidas. Defensora do agronegócio, agradou o ex-ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) ao afirmar a ele, numa sessão do Senado, que o “Ibama multa muito e multa mal”.
Como presidente da CCJ, articulou derrotas ao governo na questão dos decretos que flexibilizam regras sobre armas. Por outro lado, defende a proposta que permite a posse em propriedades da zona rural.
Tebet e o combate à corrupção Tebet foi uma apoiadora da Lava Jato e segue dizendo que a operação cumpriu papel importante. Hoje afirma que houve excessos, mas usa suas descobertas para criticar a corrupção em gestões do PT.
Também defendeu a prisão em segunda instância, mas se mostrou contra uma CPI para investigar o Judiciário. Sua equipe ressalta que ela é ficha limpa e não responde por episódios de corrupção. Chegou a ser alvo de ações de improbidade durante seu mandato como prefeita, mas os casos foram arquivados.
Tebet também critica a política do “toma lá, dá cá” e a falta de transparência, mas concordou em indicar municípios para receber recursos ao combate à Covid, numa cota que o governo destinou para aliados.