![Espaço no Bumbódromo de Parintins para pessoas com deficiência: exceção em eventos no Amazonas (Foto: SEC-AM/Divulgação)](https://amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2024/06/Espaco-bumbodromo.jpg)
Por Milton Almeida, do ATUAL
MANAUS – O Espaço Acessível possibilita ampla visão da arena do Bumbódromo de Parintins (a 369 quilômetros de Manaus) por pessoas com deficiência física, como cadeirantes, e mental. No Sambódromo de Manaus, uma plataforma de madeira é construída para permitir também a boa visão dos brincantes de escolas de samba no carnaval.
São exceções. No geral, até há a acessibilidade a eventos artísticos ou culturais em Manaus, mas não há inclusão. Isto é, uma fila e espaços específicos para pessoas com deficiência.
A representante comercial Ruth Carvalhedo, que é autista e tem mobilidade reduzida, enfrenta essa barreira. Ao prestigiar um show musical na Casa de Praia, na Ponta Negra, encarou fila comum para entrar no local. Reivindicou o acesso prioritário e conseguiu. Uma vez lá dentro, ficou entre os demais frequentadores.
“Nos eventos deve ter uma fila de prioridade e não simplesmente de preferência para qualquer pessoa portadora de deficiência. E uma vez que nós adentremos, deve haver um lugar específico e adequado onde possamos visualizar e disfrutar do evento. E não temos”, disse Ruth. A opção era “esticar” o pescoço para ver o cantor ou ficar na ponta dos pés, uma dificuldade a mais.
Essas barreiras geram experiência da desigualdade de condições. “Manaus ainda não está adaptada para atender os cadeirantes, pessoas com paralisia cerebral e pessoas com deficiência física. O que vemos é muita publicidade na televisão, mas a realidade é diferente”, diz Cristiane da Silva Melo, presidente do Instituto Amor Especial, que que auxilia mães de crianças com necessidades especiais [paralisia cerebral].
A inclusão social em eventos é apenas uma das barreiras enfrentadas pelas pessoas com deficiência. “Há ônibus que circulam com o elevador quebrado, não há adaptação em veículos de aplicativos, em locais de eventos, em lugares turísticos. O que deveria ser prioritário não existe, você tem acesso, mas se sente excluído”, diz Cristiane.
A LBI (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência 13.146/2015), também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, define barreira como “qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão…”.
“Ainda sofremos discriminação por parte da sociedade. Dificultam o acesso aos medicamentos e às consultas, sofrem as crianças e também as mães, e os responsáveis pelas crianças. Então, é muito difícil que haja uma inclusão de uma pessoa nesses locais turísticos e de eventos. Não são pensados para essas pessoas (PCDs), não há suporte para elas”, afirma Cristiane.
Ainda conforme a LBI, há seis tipos de barreiras relacionadas à vida das pessoas com deficiência: as barreiras urbanísticas, existentes em vias e espaços de uso coletivo; as arquitetônicas, encontradas em edifícios; aquelas presentes nos meios de transportes; as de comunicação e informação; as atitudinais, que dizem respeito a atitudes e comportamentos; e as barreiras que dificultam ou impedem o acesso da pessoa com deficiência às tecnologias.
O censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revela que no Amazonas há 4.023 pessoas com deficiência, de dois anos ou mais de idade. Mais da metade desse total está em Manaus, com 2.231 mil.
![Cristiane Melo: falta de inclusão gera experiência de desigualdade social (Imagem: PWM TV/YouTube)](https://amazonasatual.com.br/wp-content/uploads/2024/06/Cristiane-Melo.jpg)
Para além da prioridade
“As crianças (com deficiência) fazem gestos, movimentos, olhar de que não estão à vontade, de que não se sentem acolhidos. Como mãe eu percebo que as pessoas discriminam com o olhar, com gestos. As pessoas acham que a criança com paralisia cerebral é doida e retardada. As crianças têm uma deficiência física e motora, eles não têm problemas intelectuais”, diz Cristiane.
A presidente da Casa Azul Amazônia, que cuida de pessoas com deficiência motora, Elaine Costa, defende que o acesso a eventos culturais e locais públicos vá além de uma fila exclusiva. “Os locais de eventos (físicos) devem passar por uma adequação, pensada para as pessoas com deficiência. Somente o acesso não é suficiente. A PCD deve se sentir acolhida, que ela possa visualizar o evento e possa se divertir”, diz.
A LBI diz no Artigo 44 que “nos teatros, cinemas, auditórios, estádios, ginásios de esporte, locais de espetáculos e de conferências e similares, serão reservados espaços livres e assentos para a pessoa com deficiência, de acordo com a capacidade de lotação da edificação, observado o disposto em regulamento.§ 1º Os espaços e assentos a que se refere este artigo devem ser distribuídos pelo recinto em locais diversos, de boa visibilidade, em todos os setores, próximos aos corredores, devidamente sinalizados, evitando-se áreas segregadas de público e obstrução das saídas, em conformidade com as normas de acessibilidade.
Acessibilidade gera empregos
O produtor cultural Leandro Tapajós opina que na hora de montar um evento, os organizadores devem pensar que o público é diversificado, com necessidades diferentes. “Primeiramente, temos de pensar na pessoa. A gente tem que se colocar no lugar do outro. Quando você escolhe o local para o evento, você tem que pensar na pessoa. E eu vejo que ainda há carências por espaços acessíveis em eventos de entretenimento. Temos que pensar na pessoa que caminha e na pessoa que não caminha”, diz.
O respeito à acessibilidade traz vantagens, lembra o produtor, porque é capaz de gerar outro mercado e dar emprego nos eventos. “Em eventos você precisa de monitores, de tradutores de libras, seguranças, etc. tudo isso para garantir a qualidade do evento. Isso tem que estar no orçamento”, diz Leandro.
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