Por Felipe Campinas, do ATUAL
MANAUS – Em meio à seca severa no Amazonas, cerca de 62 mil metros quadrados da floresta do Clube do Trabalhador Sesi, na zona leste de Manaus, foram derrubados, conforme imagens registradas no local no dia 24 deste mês. A floresta, que está em “regeneração florestal” devido a ações de desmatamento ao longo dos anos, tem 52 hectares e abriga dezenas de espécies arbóreas, principalmente palmeiras.
As imagens, registradas pelo fotógrafo Chico Batata, mostram a dimensão do desmate. O “buraco” na floresta é cortado por um córrego que ficava “escondido” sobre as árvores. Segundo pesquisas da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), trata-se de um igarapé que por muito tempo foi usado para banho por moradores das proximidades.
O ATUAL consultou o Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas) sobre a existência de licença para derrubada das árvores, mas nenhuma resposta foi enviada até a publicação desta matéria. No site da autarquia estadual, onde são publicadas as autorizações, não consta nenhuma licença para intervenção na floresta do Sesi.
A área do Clube do Trabalhador foi criada em 1946 pela Confederação das Indústrias, conforme relata a pesquisadora Jéssica Cancelli Faria Gotinjo, da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), em pesquisa publicada em 2008. Inicialmente, ela seria usada para loteamento de casas para funcionários e construção de uma universidade, mas o projeto emperrou.
“Os projetos não foram em frente e houve a tentativa de transformá-la em ‘bosque ecológico’ para funcionários do Distrito e alunos de educação ambiental. Foram construídos em 2005 um chapéu de palha, duas pontes e três mirantes, mas posteriormente foram depredados por usuários da área. Atualmente a área não é destinada a nenhuma atividade específica”, diz Gotinjo.
A área sofreu impacto das invasões feitas por pessoas vindas do interior do estado e de famílias de baixa renda de Manaus, que formaram o bairro São José Operário, na década de 1970. O pesquisador Rodrigo Tacioli Serafini, da Ufam/Inpa, também relata em estudo de 2007 que “o fragmento florestal sofreu processo de invasão em 1993, sendo praticamente todo desmatado por fogo”.
Imagens históricas de satélite do Google Earth mostram a expansão ao redor da floresta a partir de 1970. As únicas intervenções na floresta visível nas imagens naquele ano e agora são um campo de barro que, segundo as pesquisas, era usado pela população de forma recreativa, e uma estrada de barro. Os registros atuais revelam que o campo foi abandonado.
Nos últimos anos, a floresta do Sesi, cujo acesso é livre pelas laterais, tem sido utilizada para diversas atividades, incluindo a caça de cutia e preguiça, extração de açaí, buriti e tucumã, pesquisa, cultos religiosos, uso de drogas, despejo de lixo e até prática de sexo ao ar livre, conforme descreveu a pesquisadora Jéssica Gotinjo.
A pesquisadora relatou, naquele ano, que a água do igarapé no Sesi foi utilizado para banhos, “apesar de serem áreas poluídas por despejo de esgoto doméstico e industrial, ou água servida, galerias de águas pluviais e outras fontes. “A população de usuários desconhece os riscos a que está exposta, ou usa os recursos por falta da opção e ignora qualquer advertência”, relatou.
Outro lado
Em resposta aos questionamentos do ATUAL, que só chegou depois da publicação da reportagem, a Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) informou que a área foi desmatada por pessoas alheias ao Sesi e à federação, mas não informou quem promoveu o desmatamento da área.
De acordo com a entidade, o desmatamento foi constado pela direção do sistema Fieam no dia 8 de agosto e “determinada a imediata paralisação das atividades e retirada de equipamentos do local”.
A Fieam não explica como os vigilantes que atuam no Clube do Trabalhador 24 horas por dia não foram capazes de perceber as máquinas promovendo o desmatamento a tempo de evitar a destruição de uma área tão grande.
A entidade diz ter comunicado a Semas (Secretaria Municipal de Meio Ambiente) e o Ipaam e que está fazendo tratativas “adequação da área, revisão dos procedimentos e legalização ambiental”.
Por fim, a Fieam adotando providências para elaborar projeto ambiental e arquitetônico “visando à recuperação da área e adequação às normas ambientais”
Abaixo, a nota enviada pela Fieam:
“Prezado jornalista, em resposta ao seu questionamento, informo que no dia 8 de agosto deste ano foi constatada, pela alta direção do Sistema FIEAM, a execução irregular de um desmatamento na área do Clube do Trabalhador, sendo determinada a imediata paralisação das atividades e retirada de todos os equipamentos.
Em ato contínuo, esta Federação entrou em contato com a SEMMAS-Clima e IPAAM para informar sobre o ocorrido e a paralisação de qualquer ação, bem como sobre as tratativas internas para adequação da área, revisão dos procedimentos e legalização ambiental, uma vez que todas as nossas ações sempre se pautaram no estrito cumprimento dos dispositivos legais.
Por fim, esclareço que o Sistema FIEAM está adotando todas as providências administrativas para elaboração de projeto ambiental e arquitetônico, com a consultoria de técnicos especializados, visando à recuperação da área e adequação às normas ambientais”.
Renée Veiga – Chefe de Gabinete e Gerente de Assessoria Técnica e de Sustentabilidade do Sistema FIEAM