A ideia que caminha para a materialização me causa fadiga só de pensar. Michel Temer jamais chegaria à Presidência da República pelo voto popular. Está esfregando as mãos com a possibilidade de sentar-se na cadeira ocupada por Dilma Rousseff. Flerta com os Tucanos derrotados nas urnas, os mesmos que na campanha de 2014 tentaram desqualificar o governo do qual o PMDB fez parte desde 2003, quando Lula ascendeu ao poder.
Mas quem é Michel Temer? O vice-presidente da República é advogado, foi secretário em diversas pastas do governo de São Paulo, na década de 1980, se elegeu deputado em 1986 para a Assembleia Nacional Constituinte e depois foi eleito deputado federal por seis mandatos por São Paulo. Nesse tempo, foi presidente da Câmara dos Deputados por três vezes. A primeira vez que tentou ser vice foi na disputa pela prefeitura de São Paulo, em 2004, quando concorreu na chapa encabeçada por Luiza Erundina. Perdeu aquela eleição. Em 2010, foi o nome escolhido pelo PMDB para ser vice de Dilma Rousseff, e em 2014, novamente se elegeu vice, junto com a presidente.
Isoladamente e vista de cima, a história de Temer não o desabona. Nada há contra ele que o impeça de ser presidente da República. O problema é que ele é a cara do PMDB, um partido que este articulista sempre tratou como “a grande prostituta de Brasília”. O partido da negociata, do toma-lá-dá-cá. Por ser grande, sempre pressionou governos por cargos e benesses para os seus. O comportamento de Eduardo Cunha, o presidente da Câmara denunciado pelo Ministério Público por corrupção na Petrobras, é apenas a exacerbação da chantagem que o partido sempre fez com quem governa o Brasil. Por ter maioria no Senado e quase maioria na Câmara dos Deputados, o partido dita as regras para quem está à frente do Poder Executivo: “ou dá o que queremos ou nada é votado no Congresso”.
O PMDB também é o partido que comanda o Ministério de Minas e Energia desde 2005, quando Lula colocou no cargo o engenheiro eletricista Silas Rondeau. Em maio de 2007, Rondeau foi denunciado no âmbito da Operação Navalha, da Polícia Federal, que visou desbaratar esquemas de corrupção relacionados à contratação de obras públicas feitas pelo governo federal, e teve que deixar o governo. Depois de uma passagem rápida de Nelson José Hubner Moreira no cargo, o ministério passou ao comando de Edison Lobão, que, todos sabem, era o ungido de José Sarney. Foi no período de 2003 e 2012 que atuaram os diretores da Petrobras denunciados na Operação Lava Jato. Não é apenas o PT quem está atolado até o pescoço em corrupção no governo. O PMDB é parte do mesmo esquema, com um agravante: tem poucos nomes confiáveis.
Esse partido, que nunca contribuiu para que o País crescesse e melhorasse econômica e politicamente, porque seus membros sempre usaram sua influência para tirar proveito, para barganhar, para enriquecer e para barrar as reformas necessárias para Brasil, agora se articula com forças que desde as eleições gerais de 2014 tentam ganhar no tapetão. Não há outra palavra para definir o que quer o PMDB e seus aliados: é golpe.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.