Por Valter Calheiros, especial para o AMAZONAS ATUAL
Neste 22 de dezembro de 2015, o senador Evandro Carreira nos deixa com uma história de intensa vida política, de presença social junto aos movimentos sociais e de uma vida pública que em sua representação lutou pela Amazônia como poucos.
Que seu legado de ensinamentos, apego, afeto e responsabilidade pelo mundo amazônico nos despertem para um dia alcançarmos a realização do Inventário Amazônico, um das lutas que cravou em sua história como senador e cidadão da Amazônia.
Compartilho com os amigos uma foto do senador Evandro Carreira, deliciando seu café regional com tucumã e tapioca no café do Pina.
A foto foi feita em 2 de maio de 2015, após o senador participar do Projeto Jaraqui, na Praça do Polícia – Centro de Manaus. Neste encontro ele nos presenteou com uma cópia do seu artigo “O Inventário da Amazônia e o embuste do desenvolvimento sustentável”, versão datada de junho de 1974, que transcrevo abaixo.
Vereador e senador Evandro Carreira, somos gratos por sua pulsante voz e ações em favor de nosso povo!
Descanse em Paz!
Valter Calheiros
O Inventário da Amazônia e o embuste do desenvolvimento sustentável
O INVENTÁRIO DA AMAZÔNIA é a única providência racional, científica e verdadeiramente honesta a se tomar em relação ao sublime arabesco HIDROHELIOFITOZOOLÓGICO, urdido pela Consciência Cósmica no Universo – a AMAZÔNIA.
É inacreditável, é absurdo, que se professore sobre DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA AMAZÔNIA, MANEJO DA FLORESTA AMAZÔNICA, ECONIMICIDADE DA AMAZÔNIA, com projetos de toda sorte, sem termos um INVENTÁRIO da floresta amazônica.
É de sabença universal, é consenso absoluto que o mais estúpido planejador ou projetista, jamais assume a responsabilidade de realizar um plano, um projeto, sem ter a sua disposição um INVENTÁRIO MINUCIOSO DO OBJETO, da COISA, a ser planejada. A estupidez dos GOVERNADORES E PREFEITOS NA AMAZÔNIA, insiste em obedecer a orientação do CAPITALISMO SELVAGEM, que impõe um falso progresso, idolatrando o consumismo e o imediatismo suicidas.
Somente o inventário: Quem é Quem? – a identificação de todos os indivíduos, poderá nos levar a quem ama quem, quem odeia quem, quem ajuda quem ou rejeita quem na AMAZÔNIA e, assim descobriremos a HOMEOSTASIA, a CATÁSTASE AMAZÔNICA, o segredo da sua sinfonia biológica. Cada nicho biológico, cada ecossistema tem a sua música, o seu equilíbrio.
A AMAZÔNIA é um ciclópico ecossistema, resultado de milhões de ecossistemas menores e talvez em escala: são milhões, talvez bilhões de acordes, de músicas, de sinfonias, que resultam num imenso rendilhado HIDROHELIOFITOZOOLÓGICO, agasalhando bilhões de espécies vitais, que se entrelaçam, interagindo, configurando a HIDROESFINGE, cujo mistério, a Espécie Humana desvenda, ou desaparece do Planeta Terra.
Há uma interação, um sinergismo tão intenso, complexo e profundo entre os seres vivos na AMAZÔNIA, que resulta na mais soberba e eloqüente lição SOCIALISTA ditada por Deus ao homem e ao universo: O TODO É MAIS IMPORTANTE QUE A PARCELA!
O individualismo tem cabimento até o momento em que o indivíduo se organiza em grupo. Depois o interesse coletivo assume absoluta relevância. É o caso específico da Amazônia, onde a destruição de um indivíduo pode desequilibrar uma CATÁSTESE fragilíssima e provocar o desmoronamento de todo um arabesco HIDROHELIOFITOZOOLÓGICO desconhecido.
Conclui-se obviamente que é CHANTAGEM DO CAPITALISMO SELVAGEM, afirmar que é possível derrubar árvores seletivamente, isto é, manejar o arranjo HIDROHELIOFITOZOOLÓGICO, sem o INVENTÁRIO DA AMAZÔNIA, sem o mapeamento MINUCIOSO do arabesco divino da Amazônia, tão divino quanto a tessitura genética do HOMO SAPIENS, que estamos decifrando com o projeto genoma.
Aliás, em 1644, uma das maiores celebrações da humanidade, René Descartes, dizia no seu “Princípio da Filosofia”, um aforismo inexcedível: “A NATUREZA NUNCA FAZ POR MAIS, O QUE PODE FAZER POR MENOS”, a primeira Lei Ecológica, enunciada há anos. E o homem não a compreendeu, com exceção dos Panteístas, sob a batuta genial de Spinoza. Contudo, o mais grave, em pleno século XX, quando HAECKEL já houvera criado a Ciência ECOLOGIA, no último quartel do século XIX, A BESTA HUMANA CONTINUA A CONTRARIAR A NATUREZA, principalmente na BIOTA AMAZÔNICA, onde o fenômeno vital é mais intenso e mais complexo que em qualquer outra parte do PLANETA TERRA.
Para a realização desse INVENTÁRIO, urge um concurso ecumênico. Todas as nações devem participar! O PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE deve localizar-se em Manaus, Belém, Tefé, Humaitá, Boa Vista (Roraima), Porto Velho (Rondônia), Rio Branco (Acre), Macapá (Amapá), Santarém ou em qualquer lugar da Amazônia que ofereça apoio logístico.
O primeiro grande passo seria a INSTALAÇÃO DA UNIVERSIDADE BIOLÓGICA DA AMAZÔNIA, ocupando-se imediatamente do INVENTÁRIO FITOZOOLÓGICO DA HILÉIA, com as faculdades de Zoologia – Fitologia – Ecologia – Medicina Tropical – Farmácia – Odontologia – Genética – Ictiologia – Entomologia – Veterinária Tropical – Bioquímica – Biofísica – Fisiologia de Solos – Engenharia Florestal e Limnologia, etc, etc. Embora o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), pudesse realizar este INVENTÁRIO, com toda EFICIÊNCIA, SE O ANALFABETISMO BIOLÓGICO DOS GOVERNADORES E PARLAMENTARES DO AMAZONAS, não fosse tão grande a ponto de defenderem a ESTUPIDEZ DE UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA AMAZÔNIA, com base num MANEJO FLORESTAL que a Ciência Fitológica desconhece e recomenda com muita cautela, o aproveitamento agrícola das várzeas, a criação de peixes e da Fauna Silvestre.
Qualquer preocupação científica que tenha como objeto um fenômeno vital, terá agasalho num currículo. E, sobretudo, acima de tudo, prioridade máxima para ENERGIA SOLAR! Desvendar, esvurmar, por a nú todo o fenômeno FOTOSSINTÉTICO. Saber o que acontece nas folhas das árvores, nos estômatos, nas seivas, no PARÊNQUIMA, qual o papel da CLOROFILA e da LUZ SOLAR no fenômeno VIDA.
Precisamos fazer no laboratório, o que a CLOROFILA faz nos estômatos com a Energia Solar. O que acontece no PARÊNQUIMA das arvores? Esse é o verdadeiro caminho para o desenvolvimento da Amazônia.
EVANDRO DAS NEVES CARREIRA
Manaus, junho de 1974.
Ótima homenagem!
Vejam: https://www.youtube.com/watch?v=qXxrIJjvrf8
Tive o privilégio de receber em mãos, a obra parlamentar de Evandro Carreira, Senador da República, na qual tenho forte embasamento para lutar em defesa da floresta amazônica brasileira (considere as pessoas viventes desta floresta multicultural)!