Por Jullie Pereira, da Redação
MANAUS – A secretária municipal de Saúde Shádia Fraxe, que recebeu a primeira dose da vacina Coronavac, disse que aceitou ser vacinada por medo de adoecer e de se afastar do cargo. Ela foi vacinada no primeiro dia de imunização, em 19 de janeiro. A secretária é médica e foi incluída entre as prioridades como ‘profissional da saúde’.
Shádia Fraxe expôs em texto enviado a amigos – e confirmado por ela ao ATUAL a veracidade do mesmo – que sofreu um acidente que deixou o movimento de suas mãos comprometido, e ela ainda se recupera de cirurgia. Por conta disso, Fraxe disse que teve medo de adoecer novamente. “Para continuar no comando do barco fiquei com medo de adoecer e ter que me afastar em momento tão delicado, pois já vinha de uma recuperação recente e dolorosa do acidente”, disse.
Fraxe afirma que pertence ao grupo de profissionais da saúde na linha de frente, pois tem feito visitas constantes aos hospitais e UBS’s, domicílios de pessoas doentes e acompanhando pacientes em UTI. “Não parei um dia sequer desde que assumimos. Sou médica, estou na linha de frente, comando um batalhão e tenho inúmeras responsabilidades de uma pasta complexa que é a Saúde!”, disse.
Fraxe afirma que não autorizou as doses que foram aplicadas “fora dos padrões”. “Nunca autorizei doses ou compactuei com absolutamente nada fora dos padrões. Nunca tive privilégios e nem usei de nenhuma prerrogativa, nunca quis me valer do que não tinha direito. Quem me conhece sabe”, disse.
Os grupos prioritários, segundo o Ministério da Saúde, inclui todos os profissionais de saúde, porém, Manaus não recebeu doses suficientes para vacinar toda a categoria. Das 101 mil doses esperadas, apenas 40 mil foram recebidas.
Após críticas sobre a falta de prioridade considerando a quantidade escassa de vacinas, o Governo do Amazonas estabeleceu que somente profissionais da saúde em linha de frente poderão receber o imunizante. Secretários não estão incluídos entre as prioridades, que foi definida no dia 22 de janeiro, após a vacinação da Fraxe.
Shádia Fraxe é mulher do deputado estadual Abdala Fraxe e tem formação em medicina há 12 anos, com especialidade em Medicina de Família e Comunidade. Além dela também foram vacinados os secretários Sebastião Reis, da Secretaria de Limpeza Pública e dois assessores da Secretaria de Saúde, Clendson Rufino Ferreira e Stênio Holanda Alves.
Por determinação judicial, pessoas que tomaram a primeira dose da vacina e não estão incluídas nas prioridades da vacinação não devem receber a segunda dosagem. Na decisão, a juíza Jaíza Fraxe rebate o argumento usado pela secretária para ser vacinada e cita seu nome.
“Visitar unidades de saúde não é estar na linha de frente. Essa magistrada tem visitado várias unidades e nem por isso ousou pedir ou receber a vacina. A Diretora da Fundação de Vigilância não ousou pedir a vacina e ontem faleceu de Covid-19”, diz trecho da decisão.
Leia o relato completo enviado pela secretária de Saúde à reportagem:
Eu me chamo Shádia Hussami Hauache Fraxe, tenho 51 anos, sou casada há 29 anos. Sou economista há 31 e médica há 12 anos, especialista em Medicina de Família e Comunidade e sou Médica de Urgência e Emergência em várias unidades de saúde da cidade de Manaus. Sou filha de imigrantes Sírio/Libanês e venho de uma família de 5 irmãos. Fomos criados dentro de princípios e valores de pessoas de bem! Tenho 3 filhas (24,23 e 16) a quem devo lições de honestidade, humildade, empatia e amor ao próximo. Trabalho desde os meus 13 anos. Sempre trabalhei!
Há 1 ano sofri um acidente onde tive lesão de nervo radial do braço esquerdo e perdi parte dos movimentos da mão. Durante esse período assistia abalada a essa grave pandemia quando fui convidada ao cargo de Secretária Municipal de Saúde.
Nunca gostei de holofotes! A princípio prometi contribuir de longe, embora a atenção primária, especialidade que escolhi, seja a razão de ter feito medicina! Sou apaixonada pela área. As coisas foram tomando caminhos que me levaram a enfrentar esse desafio. Assumi o cargo já ciente do grande trabalho que me estava sendo posto, haja visto o panorama de saúde que nos foi apresentado em meio a esse furacão.
Hoje, com 24 dias na gestão da instituição SEMSA precisei não só administrar uma secretaria com mais de 11.000 servidores municipais mas também administrar uma pandemia sem controle e sem precedentes na história da saúde pública Nacional nunca vista antes. Diante do panorama presencial, fortaleci meu compromisso público com a saúde já antes estabelecido. Fomos a campo! O município cuida de mais de 357 pontos de atenção e precisamos assumir a linha de frente com completa exposição pública ao problema sanitário existente na atenção primária. Instalamos unidades móveis, definimos prioridades ao enfrentamento da crise.
Entrava e saia de hospitais, UBS’S, domicílios de pessoas doentes sem deixar de continuar atendendo aos meus pacientes de covid domiciliares onde os acompanhei em UTI e olha que foram muitos, dos quais nas madrugadas de todos os meus dias como médica nunca me afastei. Não parei um dia sequer desde que assumimos. Sou médica, estou na linha de frente, comando um batalhão e tenho inúmeras responsabilidades de uma pasta complexa que é a Saúde!
Para continuar no comando do barco fiquei com medo de adoecer e ter que me afastar em momento tão delicado, pois já vinha de uma recuperação recente e dolorosa do acidente. Resolvi tomar a vacina TOTALMENTE DENTRO DOS PADRÕES DO QUE DIZIA A DIRETRIZ DO MINISTÉRIO DA SAÚDE. Somente 01 dia após foi decidido pelo estreitamento das prioridades. NUNCA AUTORIZEI DOSES OU COMPACTUEI COM ABSOLUTAMENTE NADA FORA DOS PADRÕES. Nunca tive privilégios e nem usei de nenhuma prerrogativa, nunca quis me valer do que não tinha direito. Quem me conhece sabe! Não podemos permitir humilhações, desmoralizações ou atos discriminatórios.
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Seguirei em frente com garra, força e fé para a melhoria da saúde do nosso Município.