
MANAUS – Os órgãos de controle e os políticos dementes têm apresentado um discurso de vitimização dos gestores de municípios do interior do Amazonas. Passam a mão na cabeça daqueles que deixam de prestar contas do dinheiro público, alegando dificuldades de técnicos capacitados para fazer o serviço contábil e cumprir as exigências do Tribunal de Contas.
Nessa esteira, defendem mais e mais cursos de capacitação e menos e menos punição aos infratores. Por isso, foram criaram as escolas de contas, escola disso, escola daquilo em todos os órgãos públicos, que, analisando friamente, servem de cabides de emprego.
Na ponta, os gestores não estão interessados em melhorar a qualidade da gestão e do gasto público. Se assim fosse, contratariam pessoas competentes para realizar os serviços. Mas a prioridade de contratação são os parentes, os amigos e os membros dos partidos que participaram da campanha eleitoral.
São raros mandatários do Poder Executivo Brasil afora que realmente querem melhorar as condições de vida no seu município.
No Amazonas, por exemplo, há uma choradeira geral de falta de recursos, mas os prefeitos e seus assessores mais próximos exibem carrões, compram casas novas, apartamentos e outros bens nos primeiros anos da administração.
Colocam parentes nos cargos chaves da prefeitura, muitas vezes sem a mínima competência para o cargo. Incham a máquina administrativa com pessoal desnecessário apenas para atender a pedidos de amigos e autoridades, e para o prefeito se sentir poderoso.
Nos contratos, o sobrepreço sempre é um elemento embutido, porque se criou a cultura da propina no Brasil. Não se contrata sem garantir um pagamento mínimo de propina, velado sempre, com o uso de terceiros ou por transferências em dinheiro vivo.
E se tudo fosse diferente? Se os gestores deixassem de pagar propina e enxugassem os valores dos contratos? E se contratassem apenas pessoas competentes para ocupar os cargos chaves e os cargos comissionados, dando eficiência à administração?
Quanto o município economizaria se não precisasse acomodar os parentes, amigos e conjugados em cargos comissionados?
E se as obras fossem iniciadas e concluídas no prazo? Se as unidades de saúde fossem equipadas adequadamente e tivessem os profissionais necessários para o atendimento ao público?
Não sobraria mais dinheiro para, por exemplo, se investir em saneamento básico de verdade e reduzir o número de pessoas doentes que buscam os serviços de saúde?
E para finalizar… Essas coisas não são feitas porque os gestores não tiveram cursos de especialização ou treinamento nas escolas de contas da vida? Não!
O que se precisa é de uma mudança de postura. De pessoas de bem na administração pública. Precisamos sepultar a “cultura” do “se eu tivesse oportunidade, faria o mesmo”, a “cultura” do “eu também roubaria” o dinheiro do contribuinte se tivesse no lugar dele.
Se há dinheiro para ser desviado, roubado, teria como se fazer muito mais nos municípios se os gestores e o eleitorado tivessem uma mudança de postura.
*Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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