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MANAUS – Durante a gravidez, o corpo da mulher passa por transformações profundas, algumas das quais podem ser surpreendentes ou até estranhas. Um dos comportamentos mais curiosos é o desejo de ingerir itens não alimentares como tijolos, gelo, areia ou até sabão.
Esses comportamentos inusitados são mais comuns do que se imagina e têm explicações. O distúrbio alimentar é conhecido como picamalácia – ou Pica, e refere-se ao desejo persistente de consumo de substâncias não alimentícias, como terra, tinta ou outros objetos. Embora esse comportamento possa ocorrer em qualquer pessoa, ele é mais frequente durante a gravidez.
Segundo a obstetra e ginecologista Isabel Botelho, esses desejos podem ser um sinal de deficiências nutricionais ou de alterações hormonais relacionadas ao período gestacional. “Pode ser um indicativo de que algo não está funcionando adequadamente no organismo da gestante”, diz.
Os motivos exatos para o surgimento do distúrbio ainda são investigados, mas há algumas explicações como deficiência de ferro ou zinco; anemia ferropriva, que é uma condição comum durante a gestação. “Durante a gravidez, o corpo da mulher exige mais ferro devido ao aumento do volume sanguíneo e às necessidades do bebê”, explica a obstetra.
As alterações dos hormônios da gestação também podem modificar os sentidos de gosto e olfato, favorecendo tais desejos. Estresse, ansiedade e até influências culturais podem contribuir para o desenvolvimento do distúrbio.
“Curiosamente, um dos desejos mais comuns é o consumo de gelo, que pode ser uma tentativa inconsciente de aliviar os sintomas da anemia, como cansaço e boca seca”, avalia a médica.
Conforme Isabel Botelho, esses desejos, aparentemente inofensivos, podem trazer sérios riscos à saúde, como: intoxicação; lesões gastrointestinais; e problema nutricional.
Isabel enfatiza que é fundamental que a gestante procure ajuda ao perceber esses desejos para que se possa investigar as causas e tratar qualquer deficiência nutricional subjacente.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico é clínico e baseia-se na avaliação dos sintomas relatados pela gestante. Exames de sangue podem identificar deficiências nutricionais, como níveis baixos de ferro ou zinco.
Porém, o tratamento geralmente é multidisciplinar e pode envolver reposição nutricional, suplementação de ferro, zinco e outras vitaminas essenciais. Também é preciso identificar se há fatores emocionais, mas a orientação é garantir uma dieta equilibrada e rica em alimentos que atendem às necessidades da gravidez.
“É importante compreender que esse comportamento é um sinal de que o corpo está exigindo atenção. A gestação exige cuidados individuais e integrais, e cada sintoma deve ser observado com atenção”, diz a ginecologista, que insiste que “nenhum sintoma deve ser ignorado”, pois cada gesto do corpo é uma forma de comunicação que merece cuidado e acompanhamento”.