Ao ocupar sorrateiramente a Crimeia, Vladimir Putin, lustra o nacionalismo russo, revive a nostalgia da superpotência e testa os limites do Ocidente. Mas até onde ele é capaz de ir?! Vamos especular?
O ex-Secretário de Estado americano Henry Kinsseger diz em seu livro que o soviético Josef Stalin usou a Guerra da Coreia (1950-1953) para testar os limites das democracias mundiais, mas que quando chegava ao ponto de iniciar um confronto direto com os Estados Unidos, sabia que era hora de recuar. Em 1952 quando americanos e soviéticos ainda se enfrentavam na Península Coreana em uma guerra por procuração, Stalin sinalizou uma abertura diplomática para redefinir as áreas de influência na Europa.
Segundo Kinsseger, as palavras de Stalin bastavam para que seus camaradas, enquanto eram mantidos os objetivos de expandir a esfera de influência soviética e suspender a pressão bem antes da guerra. Boa tática, inteligente e quase neurótica. Coisas que Stalin tinha em sua personalidade moldada, em grande parte com as experiências da Segunda Guerra Mundial e com os vários exílios na Sibéria na juventude quando era apenas um ativista soviet. Acontece que lá ele lia muitos livros… Afinal não havia muito o que fazer, e fugir significava a morte numa temperatura de quase 50° C negativos.
Bom, Putin foi lá, deu uma de Hitler do século XXI e usado táticas semelhantes as do austríaco, anexou à força a Crimeia, só para não perder algumas bases militares importantes para a Rússia e acesso maior ao Mar Negro, e ainda tentar evitar a aproximação do Ocidente às fronteiras da Rússia. Foi ousado, mas não foi bom… nesta semana um acordo histórico foi firmado entre a Ucrânia e a União Européia.
Um acordo histórico assinado entre União Européia e Ucrânia confirma que o Primeiro-Ministro Arseny Yatsenyuk, os dirigentes europeus Herman van Rompuy e José Manuel Barroso e líderes dos 28 países da UE assinaram os artigos principais do Acordo de Associação durante a Cúpula da UE que aconteceu em Bruxelas, na Bélgica. Há uma foto que gostaria de mostrar a vocês, aliás, duas: uma de Putin, desembarcando em São Petersburgo com seus principais assessores; e outra de Obama chegando à Casa Branca de helicóptero e chega a dar uma risada do ato de Putin… Tão previsível! Já esperava por isso, disse Obama.
Eu já disse várias vezes que no dia em que o mundo não precisar mais de armas para as pessoas se sentirem mais seguras eu só vou falar do Evangelho. Prometo. Mas por enquanto, a realidade é outra e vale o que disse Thomas Hobbes, em Leviatã: “O Estado é uma serpente marinha gigante”. E como isso se aplica à Rússia. Outro… que agora esqueci o nome, disse: “A guerra é o estado natural do homem”. Terá sido Jean-Jacques Rousseau?! Deu um branco agora!
Fato é que Putin tem todas as características que qualquer historiador sabe de ousado, nacionalista e disposto a ir mais longe se não for dado um chega pra lá no cara enquanto é tempo. A anexação da Crimeia e a incapacidade do Ocidente de dar uma resposta imediata e fazer frente ao expansionismo russo enviam duas poderosas e perigosas mensagens ao mundo: A primeira é que aliar-se com as democracias ocidentais não dá garantias contra a violação das leis internacionais por vizinhos autoritários.
A segunda é a confirmação da ideia de que, apesar de toda a retórica pacifista, não há nada melhor para manter os inimigos afastados do que possuir uma bomba nuclear. Na década de 90, com o desmantelamento da antiga URSS, a Ucrânia herdou 1.240 ogivas nucleares e 176 mísseis Intercontinentais (ICBMs), em números totais, só perdia para os EUA e para a Rússia. Temerosos do rumo que a nova nação poderia dar às armas, Estados Unidos, Rússia e Inglaterra negociaram o seu desarmamento. Em 1994, a Ucrânia assinou o acordo no qual abria mão das armas nucleares em troca de garantias de proteção e integridade territorial.
Mas colocar o lobo para tomar conta do galinheiro nunca foi uma boa ideia. Ah! Se a Ucrânia tivesse essas 1.240 ogivas nucleares ainda. Vocês acham que Putin teria feito o que fez na Crimeia. Ele pode até ser burro, mas não é doido, nem mesmo se tomasse umas doses a mais de Vodka. Afinal Moscou fica só a algumas centenas de Km de Kiev. O tempo de impacto seria de uns 3-4 minutos. Mas Putin não pagaria para ver se os ucranianos fariam isso, nem sonhando.
Outro fato interessante, que este episódio mostrou é que, de imediato, a aparente fraqueza do Ocidente pode incentivar países como o Irã. O país persa tem enganado os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica. Recentemente os iranianos fecharam um acordo provisório com a Comunidade Internacional, que breve deveria ser trocado por outro definitivo, comprometendo-se a congelar seu Programa Nuclear com fins militares.
A principal arma contra a Rússia nem chega a ser os Minnuntemans (lançados de silos em terra) americanos ou os Tridents II D-5 (sistema complementar de mísseis balísticos intercontinentais lançados dos submarinos da Classe Ohio). O Departamento do Tesouro dos EUA é a mais eficaz arma contra a Rússia, e Obama sabe disso. O comércio da Rússia com a União Europeia representa 50% do comércio russo; a Rússia representa 1% do comércio americano e da UE, apenas 9,6%.
Mas o que resolve mesmo é logo fazer um teste com um míssil Intercontinental Trident II D-5 no Atlântico Norte ou um Minnunteman. Isso daria um recado direto à Rússia: Calma lá! Ainda estamos aqui, e o que aconteceu no passado, não permitiremos mais que aconteça novamente. Afinal, todas as pessoas têm direito à vida, à liberdade e à procura da felicidade. Ninguém deve ser oprimido ou ter pavor de uma “Superpotência” militar que usa suas armas como intimidação… E trocando em miúdos, se a Rússia quer ser parte apenas do Oriente, eles que fiquem por lá. Pelo Oriente. Desde Pedro, o Grande, Imperador de todas as Rússias, os russos vivem essa indefinição entre Ocidente e Oriente.
E por enquanto a Rússia e Vladimir Putin brincam de anexar os supostos russos daqui e da li. Nem sempre o Presidente dos EUA será um ganhador do Prêmio Nobel da Paz como Obama. Mesmo assim tudo tem um limite. E quando os ventos mudarem, a Rússia estará novamente frente a frente com a maior máquina de guerra da história do homem… Sua única opção até agora, foi sempre recuar, pelo que me consta. Afinal, a outra opção não é nem considerada, ou Moscou vai ficar inabitável pelos próximos 22.000 mil anos. E dessa vez, nem as baratas sobreviverão.
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Antero Simões – facebook.com/antero.simoes.RI / twitter.com/AnteroSimoesRI
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