Por Patrícia Pamplona, da Folhapress
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O sexto dia da invasão russa da Ucrânia começou sob relativa calma na capital Kiev, mas o centro de Kharkiv, segunda maior cidade do país, foi bombardeado por Moscou na manhã desta terça-feira (1º).
O governante da região, Oleg Sinegubov, relatou que mísseis Grad e de cruzeiro atingiram áreas residenciais e o prédio oficial do governo, mas afirmou que a cidade segue resistindo. “Tais ataques são um genocídio do povo ucraniano, um crime de guerra contra a população civil”, disse Sinegubov.
Na mesma toada, o presidente do país, Volodimir Zelenski, classificou os ataques de “terrorismo de Estado” cometido pela Rússia. Um assessor do Ministério do Interior confirmou ao menos dez mortos e 35 feridos, mas disse que os números devem aumentar com a limpeza dos escombros. O Ministério das Relações Exteriores da Índia afirmou que um estudante do país foi morto no ataque.
Já a capital teve uma noite pacífica, apesar da ameaça de um comboio russo de 64 km que já está a cerca de 25 km a noroeste da capital, segundo imagens de satélite. Em mensagem no Telegram, a Prefeitura de Kiev relatou uma noite tranquila, mesmo com o registro de conflitos entre o que chamou de “terroristas e sabotadores”.
O governo municipal também afirmou que estão sendo montadas estruturas de proteção nas entradas da cidade e reforçou o pedido para que moradores não deixem suas casas nem se desloquem desnecessariamente. A partir desta terça, a venda de bebidas alcoólicas está proibida.
Há, na mídia local, porém, relatos de explosões nos arredores. O diretor da maternidade Adonis, em Buzova, a leste da capital, publicou no Facebook que uma granada atingiu o local, que foi esvaziado. Apesar do estrago, Vitalii Girin, chefe do hospital, diz não ter havido vítimas e que o edifício segue em pé.
Em Borodianka, a noroeste de Kiev, o centro de reabilitação do Ministério dos Assuntos dos Veteranos da Ucrânia foi bombardeado, relatou a ministra da pasta, Iulia Laputina. “É um ato de violação do direito internacional humanitário, um ato de violência que será punido”, afirmou. A cidade tem sido ocupada por tanques russos, que começaram a destruir infraestruturas e casas na cidade, segundo o jornal Pravda.
O Exército ucraniano alertou em uma postagem no Facebook que, nas últimas 24 horas, as forças russas acumularam blindados e artilharia para “rodear e tomar o controle de Kiev e de outras grandes cidades”.
Mariupol, por exemplo, está sob constante bombardeio, de acordo com o prefeito, e há tropas nos arredores de Kherson, próximo à península da Crimeia, no sul da Ucrânia.
O prefeito da cidade, Igor Kolikhaiev, publicou na madrugada desta terça que é difícil prever como a situação irá evoluir, mas que “Kherson é e continuará sendo ucraniana”. Nas redes sociais, incluindo alguns perfis da mídia local, vídeos mostravam forças russas entrando na cidade de 290 mil habitantes.
A inteligência britânica, por outro lado, diz que o avanço na capital progrediu pouco nessas últimas 24 horas devido a dificuldades logísticas. Ao mesmo tempo, o boletim do Ministério da Defesa relata o aumento do uso de artilharia no norte de Kiev e nas regiões de Kharkiv e Chernihiv.
O conselheiro do presidente Zelenski afirmou, nesta terça, que a Rússia está bombardeando ativamente as cidades, lançando mísseis e ataques de artilharia diretamente em áreas residenciais e locais do governo.
“O objetivo é claro: pânico em massa, vítimas civis e danos na infraestrutura”, disse Mikhailo Podoliak. Outro conselheiro, Oleksii Arestovich, disse que as forças russas tentam formar um cerco a Kiev e Kharkiv.
Para o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, em publicação no Facebook, o bombardeio de regiões pacíficas “é a prova de que eles são incapazes de lutar mais com ucranianos armados”.
Com tom de vitorioso, o chefe da pasta começa dizendo que, no quinto dia de intervenção, nesta segunda (28), os russos “revelaram-se incapazes de esconder que sua agonia começa”. Também ressaltou que na parte econômica Moscou também já sofreu “uma destruição devastadora”. Sob sanções ocidentais, o Banco Central do país disse que a situação é dramática e que tenta evitar asfixia e quebras financeiras.
Pelo lado ucraniano, mais de 70 militares foram mortos nesta segunda em um bombardeio em Okhtirka, no nordeste do país, segundo o governante da região, Dmitro Zhivitskii. Entre civis, o governo afirma que 350 já foram mortos, entre os quais 14 crianças. A ONU confirmou 102 óbitos e 304 feridos, além de mais de meio milhão de refugiados, apesar de reconhecer que os números podem ser maiores.
Reznikov afirma ainda que o fornecimento de armas dos europeus está aumentando. De acordo com a Força Aérea do país, 70 caças da União Europeia devem chegar à Ucrânia nesta terça, provenientes de Bulgária, Polônia e Eslováquia. A Austrália também prometeu fornecer mísseis antiblindados.
O clima de tensão segue enquanto há a expectativa de uma segunda rodada de negociações, após a primeira, realizada nesta segunda, na Belarus, acabar sem avanços claros. Os representantes dos dois países concordaram em voltar às suas capitais para discutir pontos da conversa e devem marcar um novo diálogo, informou a agência estatal russa RIA, citando um funcionário do governo ucraniano.