Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – Bacias hidrográficas que influenciam a cheia do Rio Negro em Manaus estão entrando no período de máxima precipitação de chuvas, segundo Renato Senna, meteorologista do Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia) e responsável pela publicação do boletim hidrometeorológico da Amazônia Ocidental.
Na apresentação do segundo alerta de cheias deste ano, na sexta-feira, 30, Renato Senna afirmou que as bacias do Rio Branco (com foz na margem esquerda do Rio Negro na divisa entre Roraima e Amazonas) e do Rio Negro tiveram grande quantidade de chuvas no começo deste ano, sobretudo em janeiro.
“Final do ano passado se mostrava em condições muito boas. No final de janeiro criou-se uma condição absurda de chuvas, principalmente no norte da nossa região, bacia do Rio Negro e bacia do Rio Branco, dois grandes tributários do nosso sistema como um todo”, diz.
O meteorologista afirma que em fevereiro houve uma redução. “Deu uma esperança de que esse problema não iria se alterar muito”, disse. No entanto, o índice pluviométrico voltou a subir no final de março. “Então a gente continua nessa condição de chuva muito intensa, basicamente na bacia do Negro e do Branco, e ainda nas bacias do Purus e do Juruá”, afirma.
Gráficos apresentados por Senna ajudam a compreender o nível de chuvas em que estão as duas principais bacias em relação à condição de normalidade. O azul claro é o mínimo para ter a condição de normal e o azul mais escuro o máximo.
Apesar do alto nível de chuvas nas regiões, o meteorologista alerta para o fato de que as bacias ainda estão entrando no período de maior precipitação. “O importante detalhe é que essas duas bacias que vão contribuir especialmente para essa cheia do Rio Negro aqui em Manaus, elas estão entrando no seu período de máxima de precipitação. A do Branco um pouquinho mais atrasada, vai chegar um pouquinho depois da nossa cheia, mas todas elas aparentemente anteciparam esse período de cheia”, informa.
As bacias do Ucayali, Javari, Juruá e Solimões também tiveram, nesses quatro meses, aumento no índice pluviométrico. “Então a gente está vendo essa condição e algumas bacias começam a apresentar esse sinal com uma intensidade mais forte”, diz Senna.
O aumento de precipitação é atribuído ao fenômeno climático La Niña, que apareceu entre setembro e novembro do ano passado. Ele afeta as condições dos oceanos, que por sua vez, influenciam na formação de nuvens, explica Senna.
O fenômeno tornou as águas superficiais do Oceano Pacífico mais frias. Ao mesmo tempo, foi registrado no Oceano Atlântico águas mais aquecidas mais ao norte do que o normal, e águas em padrão de neutralidade no hemisfério sul.
“Isso faz com que se desloque uma zona de convergência intertropical, que é uma zona de formação de nuvens, e empurra essa formação de nuvens para áreas mais ao norte da região. Ela sai da região central da calha do Rio Amazonas e vai mais para o norte da sua posição climatológica. Isso faz com que o fluxo de umidade comece a se concentrar nessas regiões. Em vez de passar na parte mais central da Amazônia, começa a ficar na borda, tentando correr pela Cordilheira dos Andes em direção ao sul do país”, explica Senna.
Senna afirma que o fenômeno foi perdendo força em fevereiro e neste mês está se encerrando. Porém, os efeitos que provoca podem permanecer por um tempo. “Entretanto, o encerramento do fenômeno não garante que as condições cessem imediatamente, essas condições de formações de nuvens. Esse padrão, a alteração do padrão de circulação, mesmo depois do final do evento, dura cerca de 30 a 90 dias”, afirma.
A previsão do Sipam para o trimestre de maio, junho e julho é que as chuvas estejam acima dos padrões no sul de Roraima e norte e noroeste do Amazonas. Para este último, o problema são as bacias do Rio Negro, Japurá, Içá, curso do Amazonas no Peru e calha do Solimões.