Por Felipe Campinas, do ATUAL
MANAUS – O rio parou de secar no Alto Solimões na primeira quinzena de outubro e agora começa o processo de cheia, segundo a pesquisadora em geociência Jussara Cury, do SGB (Serviço Geológico do Brasil). Em Manaus, o Rio Negro só deve começar a subir na segunda quinzena de novembro.
A seca atinge 604 mil pessoas no Amazonas, segundo boletim da FVS (Fundação de Vigilância em Saúde) divulgado nesta segunda-feira (23). Cinquenta e nove municípios estão em situação de emergência, 1 cidade em alerta, nenhum em atenção e 2 em normalidade.
“Há uma estabilidade no processo de subida desde a região que alimenta o Solimões, como é o caso dos Andes e das estações monitoradas no Peru, que apresentam o mesmo comportamento devido as chuvas isoladas na região. Mas, para que a gente saia desse cenário de estiagem e passe à estabilidade e o processo de subida, que seria o início da cheia, precisamos também de chuvas distribuídas ao longo da bacia. Isso ainda não aconteceu”, disse Cury.
No sábado (21), o Rio Solimões alcançou 20 centímetros em Tabatinga, no extremo oeste do Amazonas, segundo dados da Proa (Praticagem dos Rios Ocidentais da Amazônia). Neste domingo (22), a lâmina d’água alcançou 47 centímetros. Em Santo Antônio do Içá, também no Alto Solimões, o rio subiu de 0.18 centímetros abaixo do ponto zero no sábado para 0.02 acima da marcação no domingo.
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“Há um processo de recuperação da calha do Rio Solimões, desde a região a montante. Na semana passada, Tabatinga começou a subir, subiu de forma até com certa elevação. E agora podemos afirmar que a estiagem no alto Solimões se encerrou na primeira quinzena de outubro. Agora é um processo de recuperação. Assim, hoje a subida foi na ordem de 30 centímetros. Foi uma subida até com certa elevação e, de certa forma, com estabilidade”, disse Cury.
Ainda de acordo com a pesquisadora, o processo de recuperação do Rio Solimões apresenta alguns sinais, como a diminuição do processo de descida do nível em Coari, Tefé e Manacapuru. Isso indica que em Manaus, que atingiu nova marca recorde nesta segunda-feira (23), com a cota de 12,89, o rio deve começar a subir em até três semanas.
“Pode indicar uma certa diminuição desse processo de descida aqui em Manaus e também na região que vem depois de Manaus, como é o caso de Itacoatiara e Parintins, que também já atingiram as mínimas históricas recentemente”, afirmou Cury.
“Como os níveis da bacia estão muito baixos para a época, estão no intervalo das mínimas, vai levar um certo tempo para essa água que sai lá de cima, das cabeceiras se distribuir ao longo da bacia. Então, há regiões com níveis baixos que vão ser primeiramente abastecidas porque estão mais próximos. No caso, ali do alto Solimões. Há uma tendência de a gente iniciar novembro com pequenas descidas até poder estabilizar provavelmente ali no final da primeira quinzena de novembro”, completou Cury.
A recuperação do rio também depende das chuvas na região. “Para vocês terem uma ideia, essa estiagem foi muito forte em toda a bacia. Desde lá de Porto Velho, atingiu a mínima histórica, depois a gente também teve níveis muito baixo lá em Rio Branco, no Acre. E foi seguindo essa sequência de níveis muito baixos, inclusive, em Manaus, Manacapuru, Itacoatiara e mais recentemente em Parintins, que atingiram as mínimas históricas”, disse Cury.
Os níveis recordes dos efeitos da estiagem também foram registrados no Pará. “Isso também está sendo acompanhado lá no Pará, pelas estações de Óbidos e Almeirim, que também já atingiram as mínimas já registradas para o período. Então, é um período de observação. Precisamos primeiro estabilizar esse processo de descida para o rio começar a recuperar esse processo de subida”, afirmou a pesquisadora.
No Rio Negro, a vazante deve continuar por mais alguns meses, pois o pico da vazante é somente em fevereiro. “A vazante do Alto Rio Negro continua por mais um tempo. Então, lá para São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro, ainda vai continuar em processo de descida porque o pico da vazante lá é só em fevereiro”, afirmou Cury.
Em São Gabriel da Cachoeira, a dificuldade no recebimento de combustível para abastecer a usina termelétrica do município obrigou o racionamento dos serviços na cidade. A cada seis horas, um conjunto de bairros fica sem energia.
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