Pra quem acordou nessa manhã de sexta, e ficou ligado nos jornais e redes sociais até esse começo de noite, esteve à mostra uma página única da história sendo escrita.
De alguma forma, os últimos acontecimentos relembram uma página marcante da nossa história. Mais especificamente, o fim da era Vargas. Num dado momento de prosperidade econômica, se firmou acordos que garantiam antes de tudo – inclusive antes dos direitos dos trabalhadores – o cumprimento de todos os interesses das elites econômicas, nacionais e internacionais. Estratégia repetida pelos dois líderes. E que falhou – quando o lado mais abonado ganhou um pouco menos – também com os dois líderes.
Lula e o PT organizarem esse ato de resistência na sede do Sindicato dos Metalúrgicos simboliza a vinda dum grande novo capítulo na história brasileira. Ou no mínimo a possibilidade de algo radicalmente diferente.
A totalidade do processo que envolve a condenação de Lula traz com clareza que sua figura, não pessoal, mas representativa, não é mais bem vinda nos planejamentos e nos desarranjos do Brasil ainda colônia.
Isso implica na absoluta necessidade de uma grande tomada de consciência política. Para aqueles que buscam reeleger Lula mais uma vez é preciso que fique muito claro que o que foi feito na era petista, de maneira nenhuma, pode ser repetido. O lulismo não tem condições materiais,- isto é, nem políticas, muito menos econômicas – de ser feito de novo. Economia mundial está em total contra mão das bases que possibilitam isso, e no sistema político nacional…sua rejeição por setores determinantes é imensa.
Nesse momento Lula bate o pé e diz que não se entregará. E se de fato assim for, tem o poder de mudar a história. Por um lado, pode convocar milhares de pessoas das camadas populares, além de poder contar com apoio – para esse caso – da maioria das forças políticas de esquerda. E assim capaz de liderar – ou participar – dum novo movimento social forte, mais radical, que mostra para que veio, e busca mudar estruturalmente o País.
Ou pode se acovardar. Se mostrar pequeno enquanto líder. Acreditar mais uma vez na remotíssima possibilidade de liberdade perante a justiça. Chamar a população apenas para jogar confete e o saudá-lo. E talvez ir preso. Tentar se transformar num mártir. Para no máximo concorrer a presidente e tentar repetir o que ele sempre fez.
Uma vez Karl Marx afirmou que não se deveria atiçar as massas, sugerir a insurreição, sem querer levá-la as últimas consequências. Se Lula se acanhar, fatalmente irá prejudicar não apenas a si mesmo, como também seu partido e toda a esquerda. Se desobedecer a ordem, jogará muita pimenta na história.
Contudo, não é isso que deve acontecer. Pelas atitudes tomadas pelos líderes do partido nos últimos anos, o mais provável é que o interesse maior nesse momento é voltar ao poder – não importando muito o que será feito nele. O que importa mesmo é estar lá.
Já em 2013, Dilma e o partido tiveram gigantesca oportunidade de mudar o rumo do País diante das manifestações populares. Acabaram por se mostrar incapazes e medrosos diante da possibilidade de popularização da política. Não conseguiram negociar nem com a burguesia, com os corruptos mercenários, e muito menos com o povo.
E ainda repetiram a insanidade em 2016. Nem quando estavam sendo derrubados injustamente do poder foram capazes de introduzir as massas para dentro da dinâmica política e assim reorganizar o jogo.
Agora possuem mais uma grande oportunidade de mudar a história. Ou se apequenam, ou dão ao povo o estatuto que merecemos.
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