Por Daniel Carvalho, da Folhapress
BRASÍLIA – Renan Calheiros (AL), 63, será o candidato do MDB à presidência do Senado. Ele derrotou Simone Tebet (MS), 48, por 7 votos a 5 nesta quinta-feira, 31, na disputa pela indicação do próprio partido.
Assim, a eleição prevista para noite desta sexta-feira (1º) deve ser a mais disputada desde a redemocratização, com até dez candidatos.
Além de Renan, disputam Davi Alcolumbre (DEM-AP), Major Olímpio (PSL-SP), Alvaro Dias (PODE-PR), Angelo Coronel (PSD-BA), Esperidião Amin (PP-SC), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Regguffe (sem partido-DF). O senador Fernando Collor (AL), que nesta semana trocou o PTC pelo Pros, não admite candidatura, mas é dado como candidato por outros senadores.
A sessão promete ser tensa, com a apresentação de ao menos três questões de ordem que problematizam se a votação será aberta ou fechada, se pode haver segundo turno e se Alcolumbre, único remanescente da Mesa Diretora anterior, pode presidir a votação mesmo sendo candidato. Opositores de Renan cogitam, inclusive, esvaziar a sessão para adiar a votação.
Na reunião que sacramentou o nome de Renan Calheiros, apenas o senador Jarbas Vasconcelos (MDB-PE) não compareceu. Fora do governo e sem ter conseguido reeleger nomes como o atual presidente do Senado, Eunício Oliveira (CE), e o presidente da sigla, Romero Jucá (RR), o MDB tem nesta eleição sua principal perspectiva de manutenção de poder.
Há 24 anos no Senado, Renan já presidiu a Casa quatro vezes. Até entrar na reunião da qual saiu vitorioso, negava estar disputando qualquer cargo. Para o público, queria aparecer já ungido pela bancada.
“Nunca postulei candidatura porque sempre tive a compreensão de que a bancada majoritariamente que vai escolher. Quem vai falar primeiro é a bancada. Vamos aguardar”, afirmou ao chegar para o encontro. Mas, nos bastidores, Renan vinha fazendo campanha desde o final de 2018.
Para diminuir a resistência do governo de Jair Bolsonaro a ele e tentar mostrar sintonia com a onda de renovação que marcou as eleições de outubro, criou dois personagens: o “Renan velho”, um “sobrevivente” e de perfil “estatizante” e o “Renan novo”, um “liberal”, nas palavras dele, defensor das reformas prioritárias do ministro Paulo Guedes (Economia).
O ex-senador Wellington Salgado, que no ano passado intermediou um encontro entre Renan e Guedes acompanhou as discussões. Salgado também é amigo de Bolsonaro e, segundo emedebistas, tem feito a ponte entre a família do presidente e Renan. A confiança de integrantes do Palácio do Planalto no senador emedebista não é plena devido ao histórico político dele.
O senador alagoano tem a seu favor a habilidade política de ter sido presidente do Senado quatro vezes e a postura firme na defesa dos seus pares diante da Justiça e do Ministério Público. “Vejam porque nunca cogitei e não postulei ser presidente do Senado. O Ministério Público Federal jamais iria me apoiar”, escreveu em uma rede social nesta quinta-feira.
Contra ele pesa, principalmente, a pressão popular que cobra renovação e levanta bandeira anticorrupção. O senador tem no currículo 18 inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal), nove deles arquivados.
O senador alagoano também é personagem de delações da Lava Jato. Na quinta-feira, a Folha de S.Paulo revelou áudios de interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal que mostram que, como presidente do Senado, Renan procurou o empresário Joesley Batista para discutir uma nomeação para o Ministério da Agricultura. Ele reagiu dizendo não haver gravação que o incrimine.
Simone Tebet tentou derrotá-lo na bancada. Apostava na onda de renovação, que garantiu a reeleição de apenas 8 senadores e trouxe 46 novos nomes para o Congresso. Mas ela começou a dar sinais de fragilidade depois que foi derrotada na bancada, no início da semana, ao defender o voto aberto.
Na manhã de quinta-feira, Tebet foi pressionada a trocar o MDB pelo Podemos para garantir o apoio de outras legendas que resistem a formar aliança com o partido de Renan. Mas, no fim da tarde, ela decidiu continuar no partido ao qual é filiada desde 1997. Uma eventual mudança de partido jogaria por terra seu discurso de que disputava para garantir que a maior bancada da Casa -13 senadores- continuasse na presidência.