Por Rosiene Carvalho, da Redação
O governador do Amazonas, José Melo (Pros), afirmou nesta sexta-feira que qualquer projeto político do grupo que ele integra para 2018, diferente do que ocorreu em 2016, passará por seu crivo. De maneira determinada, disse que ou vai participar da composição da chapa, indicando o vice que quiser, ou ele próprio apontará um candidato do Pros para sua sucessão. “Quem quiser meu apoio vai engolir o vice do Pros ou indicarei o candidato a governo”.
O governador também adiantou que no dia 15 de janeiro vai anunciar trocas de secretários no governo e que vai assumir o comando das negociações para unificar a base na ALE (Assembleia Legislativa do Estado) e não permitir que um “elefante” assuma a presidência. “Eu deixei e não interferi neste processo (…) Dei a chance de todo mundo se viabilizar. Agora, a partir de segunda-feira, eu entro para juntar as coisas. Até agora ninguém me apresentou eleição garantida”, disse o governador.
Em mais um evento público em que exibe seu ânimo e os resultados de não atraso do salário do funcionalismo público e a popularidade, posando para fotos e recebendo afagos de servidores presentes na sede do governo, o governador José Melo deu uma entrevista exclusiva ao ATUAL. Em apenas doze minutos, após a coletiva sobre as matrículas da rede pública de ensino, falou de projetos para as Eleições 2018, disputa pela Mesa Diretora da ALE, racha na base governistas e de sua tranquilidade em relação aos processos eleitorais que pedem a cassação de seu mandato.
Sem indicar um favorito para a presidência, José Melo afirmou nunca ter se comprometido com o deputado e ex-secretário da Sepror Sidney Leite (Pros) em relação à presidência da ALE e que está disposto a acolhê-lo novamente no governo.
Confira na íntegra a entrevista:
ATUAL – Fez bem ao senhor voltar a circular? Acha que estavam com saudades do senhor?
José Melo – Eu estava. É bom você fazer essa pergunta porque queria explicar o porquê do meu retraimento. Primeiro, eu sou economista e percebi que o País caminhava para o buraco. Percebi também que a estrutura que o Estado tinha era monstruosa, um elefante. Eu precisava pegar esse elefante e conformar num tamanho que pudesse suportar a crise que viria por aí. Eu tinha duas opções: continuar na rua fazendo política ou vir para dentro do governo e pessoalmente coordenar isso. Isso é uma coisa. Aí veio a campanha política e me escolheram como cabra para apanhar. Teve candidato aí que usou recursos só para denegrir a minha história e o governo.
ATUAL – Por que preferiu ficar calado?
José Melo – Do alto dos meus 70 anos, com ponderação, resolvi continuar encolhido e fazer este trabalho que agora apareceu. Esse dinheiro da educação, do financiamento e do décimo terceiro não vieram assim… (fácil). Vieram com luta. Eu fui para cima, etc, para aumentar a arrecadação do Estado. Agora estou solto, agora eu vou trabalhar, eu vou para a rua, agora eu vou fazer a gestão, que já está aí, e política. Porque sou um animal político também. Política num bom sentido né? Agora, eu vou ser assim. Vou ser elétrico. Um poraquê velho.
ATUAL – Suas declarações de agora, comparadas às de um ano atrás, mostram empoderamento das informações sobre a tramitação dos processos eleitorais. O senhor está mais tranquilo em relação aos mais de 20 processos de cassação?
José Melo – É. Na verdade é o seguinte: tenho absoluta confiança na Justiça do meu país e nos meus advogados. Entrego a eles e a Deus e cuido do governo.
ATUAL – O senhor declarou esta semana que o prefeito Arthur Neto e o senador Eduardo Braga fazem lobby em Brasília para acelerar a tramitação do seu julgamento no TSE.
José Melo – Me falaram em Brasília que o prefeito Arthur e o Eduardo ficavam peregrinando pelos corredores tentando tirar meu mandato. Como se os dois fossem ministros do TSE. Eu, ao contrário, não procurei nem um deles. Digo sempre que confio neles para fazer justiça. Porque meu processo está cheio de erros. Como pode me cassar se não tem ninguém dizendo que vendeu votos? Então, confio também nos meus advogados, diferentemente deles, que ficam lá nos corredores tentando que meu processo seja julgado e eu seja cassado.
ATUAL – O seu advogado no Amazonas é o Yuri Dantas, que há anos advoga para o PSDB e para o prefeito Arthur Neto. O senhor avalia que, em função deste lobby, será preciso trocá-lo?
José Melo – O Yuri separa o joio do trigo. É um profissional espetacular. Tenho inteira confiança nele. Naquilo que for a defesa do meu processo ele vai contra todo mundo, inclusive contra amigos queridos. Ele sabe separar. Ele é ético o suficiente para isso. Em nenhuma circunstância tiraria o Yuri, a não ser que ele queira sair.
ATUAL – O senhor já conversou com os deputados da base na ALE? Como está lidando com esse alvoroço de deputados aliados lhe criticando e elogiando adversários seus, próximo da eleição da Mesa Diretora?
José Melo – Veja só que governador diferente eu sou. No passado, um deputado que criticasse um governador, no outro dia levava um esporro público. Fiquei na minha e entendi. Tenho 70 anos. Aí pega um jovem, por exemplo, como o Platiny, que num momento de um discurso, no arroubo da juventude, ele fala coisas… Eu tenho obrigação de entender. Ele é muito jovem. Ele vai aprender. Mas ele é da minha base. E os meus amigos eu aceito com os defeitos e com os acertos. Eu também tenho acertos e defeitos. Então, eu deixei e não interferi neste processo. Porque têm quatro pessoas da minha base disputando: o Belão (deputado Belarmino Lins – PMDB), meu amigo queridíssimo; o Davizinho (deputado David Almeida – PSD), que é um amigo queridíssimo; o Sidney (Leite, do Pros), que foi meu secretário. Eu não interferi.
ATUAL – O senhor considera o deputado Bosco Saraiva, do PSDB, da base?
José Melo – O Bosco também. Ele sempre votou com o governo, então é da base.
ATUAL – Quando o senhor deixou de interferir?
José Melo – Bem, eu fiquei na minha. Mas eu tenho um dever. Eu não posso deixar que um elefante venha a ocupar a Mesa Diretora da Assembleia. Então, eu me auto-impus uma retração, um silêncio, até domingo agora. Depois, eu vou conversar com todo mundo. Para que a gente possa ver um denominador comum capaz de que a base chegue ao final do ano não esfacelada. Mas unida como estiveram.
ATUAL – Como está a relação com os deputados?
José Melo – Quero dizer que eu não tenho nada contra os deputados. Eles agiram da forma mais ética comigo, etc. Só na emenda impositva que eu não gostei. Mas no resto foram comigo os construtores de todas as leis que permitiram a gente chegar ao final do ano como chegamos. O Pará e o Amazonas são os dois Estados brasileiros mais equilibrados do País. Então, eu não tenho queixas da Assembleia.
ATUAL – Governador, o senhor ficou satisfeito com as emendas impositivas?
José Melo – Eu digo o que já disse para eles. Não vou esconder. Fiquei desconfortável com essa história de emenda impositiva de R$ 5,4 milhões. Porque vai ser muito difícil num orçamento curto do jeito que está, você fazer conformar isso. A não ser que aquelas emendas se direcionem para os programas que já existem: saúde, educação, segurança, etc. É um assunto que vai caminhar.
ATUAL – Este orçamento não estava prevista na LDO, e nem poderia já que a lei foi aprovada no meio do ano. Vai dar para garantir que os pedidos dos deputados, nas emendas, sejam atendidos?
José Melo – Comigo não precisa de emenda impositiva. Eu sempre ouvi os deputados. “Professor, tem um município tal que precisa de uma coisa, etc”. Eu faço. Então, obras que me pedem que eu faço representam muito mais que isso aí. A LDO já estava lá e o orçamento é menor que este aqui. O orçamento é como um vestido com um decote grande e uma saia curta. Puxou, puxou. Então, vamos agora ver de onde vai sair. Vai sair de onde, da segurança, da saúde?
ATUAL – Vai sair da saúde e da segurança?
José Melo – Não sei. Estou perguntando assim. Porque são eles lá que vão dizer. Não sou eu. Meu orçamento eu mandei. Os deputados têm direito, legitimamente, de apor emendas.
ATUAL – Como foi a conversa com os deputados sobre a emenda impositiva?
José Melo – Eles reuniram comigo falando da emenda impositiva. Eu disse não tinha nada contra e que podiam fazer. Acertamos um valor de mais ou menos R$ 3 milhões. Eu vou para Brasília arranjar dinheiro, inclusive para pagar o 13° deles, e quando voltei tinham aprovada uma de R$ 5,4 milhões. Aí causou um problema lá e aqui. Porque a de R$ 3 milhões eu sabia de onde tirar, a de R$ 5 eu não sei. Isso é problema que vamos resolver ao longo do próximo ano com a Assembleia.
ATUAL – Secretários próximos do senhor anunciaram reforma administrativa para depois das eleições. Saíram alguns, mas não pela reforma, antes, da maneira como o senhor conceituou, “pegaram o beco em nome do considerado”. Quando haverá a reforma?
José Melo – O governo é dinâmico. Eu, por exemplo, se não fizer as coisas corretas, o povo me apeia do poder. Os secretários são todos demissíveis. É escolha pessoal do governador para cumprir uma missão. Meu irmão Evandro Melo estava perdendo dinheiro no governo e com a esposa doente. Ele me disse que precisava sair para cuidar da mulher e ganhar dinheiro, porque como dentista ele ganha três vezes mais do que ganha como secretário.
ATUAL – Há outros secretários nesta condição?
José Melo – Existem outros casos de colegas, que eu não posso falar o nome agora, que já chegaram comigo e disseram que ficarão até o final deste ano. As mudanças ocorrem e são absolutamente normais. O importante que na troca haja continuidade no serviço.
ATUAL – Em algumas trocas, o senhor admitiu técnicos da área. São soluções temporárias ou o senhor quer adotar esta postura para o governo?
José Melo – O meu governo, é o seguinte: preciso de um governo técnico para me dar resultados positivos. Para que eu e minha base aliada tenhamos o retorno político. Política faço eu com os meus aliados. Secretário que for lá pra fazer política está errado e vai dar muito problema. Coloquei um político como secretário, que foi o Sidney Leite, e ele foi ao tempo que estava como secretário extremamente ético. Fez todo trabalho técnico sem nenhum momento direcionar para a área política.
ATUAL – O que o senhor achou da saída dele do governo estreitando laços com políticos do PMDB?
José Melo – O Sidney tem todo direito de procurar os caminhos dele.
ATUAL – Ele acertou com o senhor este caminho?
José Melo – Não. Veja bem. Eu nunca prometi para o Sidney que ele seria presidente da Assembleia. Esse assunto nunca foi tratado. O que eu tinha de conversa com o Sidney era um trabalho no interior. E agora, você viu, estou anunciando milhões para a produção. Ele ia coordenar isso aí. Seria ou deputado federal, se quisesse com o meu apoio, ou seria o candidato do Pros a vice-governador. Porque quem quiser o meu apoio, daqui a dois anos, vai ter que engolir o vice do Pros. Ou eu vou ter candidato do Pros. Então, a pessoa que eu estava preparando era o Sidney. De repente ele veio comigo e disse que ia sair para disputar a presidência da ALE. E eu, como disse ainda há pouco, não digo não para ninguém. Disse: veja lá como você se viabiliza. Dei a chance de todo mundo se viabilizar. Agora, a partir de segunda-feira eu entro para juntar as coisas. Até agora ninguém me apresentou eleição garantida.
ATUAL – Nem o candidato da oposição está claro, ainda…
José Melo – Não está claro. Assim, eu perdi os cabelos vendo essas coisas acontecerem. É sempre assim na Assembleia. Mas as coisas sempre se ajeitam e se arrumam. É natural que todos queiram, mas chega o momento que o bom senso prevalece.
ATUAL – O deputado Sidney se precipitou, então, do ponto de vista do projeto político para 2018?
José Melo – A escolha é dele. A vida é dele. O que estou dizendo é o sonho que eu tinha para ele. Ele é um animal político que quer crescer politicamente. Eu fui um vice-governador do Omar, atuante. O Omar me deu todo espaço no governo. Eu fui um vice-governador que trabalhava e recebia. O vice-governador nem sempre é um zero à esquerda.
ATUAL – O deputado Sidney, caso não se torne presidente da ALE, volta ao seu governo?
José Melo – Se ele quiser, sim. Pode vir. Sidney é um quadro espetacular. Isso não quer dizer que, depois de tentar, ele não seja acolhido no ninho de novo. Sem nenhum problema.
ATUAL – Os secretários que manifestaram interesse de deixar o Governo deram data para o senhor? Em quais pastas haverá mudança?
José Melo – Até o dia 15 de janeiro. Não posso dizer para não causar tumulto interno, estou fechando o balanço. Nenhum secretário meu sai sem antes uma conversa prévia de amigo com ele. Eu não dispenso secretário pela televisão, rádio como fizeram sempre. Chamo, converso, agradeço o trabalho e explico o novo momento. Eles saem meus amigos.