Da Redação
MANAUS – Uma área desmatada de pelo menos 4,5 mil quilômetros quadrados na Amazônia, equivalente a três vezes o município de São Paulo, está pronta para queimar, segundo nota técnica divulgada pelo Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) nessa segunda-feira, 8.
Resultado da soma do que foi derrubado no ano passado e nos primeiros quatro meses deste ano, e ainda não queimado, essa vegetação no chão pode virar fumaça com a estação seca que começa em junho em mais uma temporada intensa de fogo como registrada em 2019, alerta o Ipam. Se isso ocorrer, o número de internações por problemas respiratórios pode aumentar expressivamente, pressionando ainda mais o sistema de saúde da região, já afetado pela Covid-19.
Pelos cálculos dos cientistas, se o ritmo acelerado de desmatamento continuar nos próximos meses, quase 9 mil km2 poderão virar cinzas, já que a época mais intensa de derrubada e queima começa agora, com a chegada do período seco na região.
“Coibir as queimadas e o desmatamento neste ano, além de uma ação de proteção ambiental, é também uma medida de saúde”, afirma o pesquisador Paulo Moutinho. No ano passado, os municípios que mais registraram queimadas na Amazônia tiveram aumento de 53% na poluição do ar, em média, em relação a 2018.
Moutinho ainda pondera que “uma não ação dos poderes públicos na prevenção do desmatamento e das queimadas poderá representar perdas de vidas humanas para além das previstas com a pandemia”. “Precaução é a palavra chave agora”, conclui.
De acordo com o físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo, que colaborou com o trabalho, durante a temporada de fogo extensas áreas da Amazônia têm qualidade do ar pior que no centro da cidade de São Paulo devido às queimadas.
“Isso tem forte efeito na saúde, especialmente em crianças e idosos, que são as populações mais vulneráveis”, diz Artaxo. “Como a poluição das queimadas viaja por milhares de quilômetros, comunidades isoladas de índios respiram esta atmosfera insalubre, que é muito acima dos padrões de qualidade do ar da Organização Mundial da Saúde”, explica.
Quatro estados concentram 88% da área desmatada e não queimada: Pará (com 42%) dos 4,5 mil km2, Mato Grosso (23%), Rondônia (13%) e Amazonas (10%). Olhando com mais cuidado, onze regiões são especialmente preocupantes. Elas devem ser consideradas como prioritárias para ações de comando e controle, especialmente aquelas planejadas pelo governo federal, assim como para o planejamento de atendimento à saúde pelos governos estaduais.
O fogo é o próximo passo no processo de conversão de uma floresta em outro uso da terra, como pasto, explica Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam, que também assina a nota técnica.
“Por isso, quando temos uma taxa de desmatamento alta na Amazônia, a relação com o aumento de focos de calor é direta. Foi o que vimos acontecer em 2019 e, infelizmente, se nada for feito, é o que deveremos ver em 2020, já que a derrubada continua num ritmo elevado”, lamenta.
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