
Por Milton Almeida, do ATUAL
MANAUS – O consumidor no Amazonas não sentirá imediatamente a redução da “tarifa zero” do Imposto de Importação para os alimentos da cesta básica, anunciada pelo governo federal, porque envolvem outros custos e condições climáticas que afetam o cultivo das lavouras, afirma especialistas consultados pelo ATUAL.
Entre os produtos com tributo zero está a carne bovina, o café, açúcar e o azeite de oliva que tem alíquota atual de 9% e a produção está relacionado às mudanças climáticas. É o mesmo caso do café. Lavouras do produto nos maiores países produtores foram afetadas por eventos climáticos.
“O problema do café é que o preço internacional está em elevação. O Brasil teve um problema na sua safra, o Vietnã teve um problema na sua safra também, que é o segundo produtor mundial do produto. Não vejo que o impacto dessa medida vai ser imediato. O que nós vamos ter, no caso do café, é um estímulo ao aumento de produção”, diz José Giacomo, agrônomo e doutor em Engenharia de Produção.
Entre os itens contemplados pela isenção de imposto estão o azeite, o milho, o óleo de girassol, sardinha, biscoitos, macarrão, café, carnes e açúcar. “As oliveiras, na Europa estão sendo muito afetada pelo aquecimento global. Então a produção de azeite de oliva também é afetada. O Brasil produz quase nada e importamos”, diz Giacomo.
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Ainda segundo o especialista, a baixa de preços dos produtos como o trigo, que afeta a produção de massas alimentícias, está relacionada com o fortalecimento do real frente ao dólar e deve-se ter em conta a cadeia de produção de cada produto em questão.
“Há muito tempo o trigo é um produto que a gente depende muito da importação. As panificadoras no Brasil compram trigo de fora. Muitas vezes compram o trigo e as farinheiras processam aqui no Brasil”, afirma.
A mesma linha de pensamento é compartilhada por Luiz Roberto Coelho, professor de Economia da Ufam (Universidade Federal do Amazonas). “A redução da inflação dos alimentos passa pela valorização do real frente ao dólar, ajuda aos pequenos produtores na logística de transporte e melhoras na capacidade de processamento de alimentos. Ou seja, a estrutura de oferta de alimentos tem que responder na medida exata o movimento da demanda”, diz.
A presidente do Corecon-AM/RR (Conselho Regional de Economia), Michele Aracaty, também não vê redução do preço dos alimentos para o consumidor final de forma imediata com as medidas do governo. “As medidas devem beneficiar grandes importadores e distribuidores, mas não necessariamente o consumidor final, pois temos diversos outros custos: transporte, armazenagem, margem de lucro, intermediários que continuaram pressionando o valor do produto”, diz.
A economista diz que a medida pode gerar um rombo nas contas públicas e dificultar os trabalhos da equipe econômica que busca zerar o déficit público. “A medida do governo de zerar alíquota de importação dos alimentos para combater a inflação devem ocasionar um peso de R$ 1 bilhão nas contas públicas, em 12 meses, exigindo uma compensação da arrecadação. Ademais, o impacto será enorme sobre a arrecadação comprometendo também investimentos em saúde, educação e infraestrutura”.
“O que realmente deveria ser feito é fortalecer a capacidade produtiva do país, crédito facilitado e acessível para a safra, corrigir os problemas infraestruturais, melhorar o investimento para reduzir o custo de produção, mais apoio à colheita da safra, além de melhorar a cadeia produtiva nacional”, acrescenta a economista.
A reportagem entrou em contato com a Sefaz (Secretaria de Estado da Fazenda do Amazonas) para saber haverá redução do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) proposto pelo governo federal, mas até a publicação desta matéria não houve resposta.
Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro da Indústria, Desenvolvimento e Comércio, reconheceu, na segunda-feira (10), que as medidas do governo federal para reduzir os preços dos alimentos não terão efeitos imediatos nas prateleiras dos supermercados, mas prevê uma redução gradual.
Alckmin pediu que os estados isentem os produtos da cesta básica do ICMS. “Nós entendemos a realidade de cada estado, por isso não é obrigatório, é uma proposta. E também não precisa zerar todos”, disse.
Fórmula antiga
Para os economistas, a “pechincha” ainda é eficiente para o consumidor final na hora de comprar alimentos mais baratos. Optar por produtos a granel, quando for possível, e substituir algumas marcas importadas por marcas nacionais proporcionam economia extra.
Outra dica é aproveitar promoções e comprar em maiores quantidades itens que têm maior duração, como açúcar, café e massas alimentícias.
Acompanhar os preços e planejar bem as compras é a melhor estratégia para economizar sem abrir mão da qualidade dos alimentos, orientam os especialistas.