Pesquisa mostra ainda que número de endividamento na cidade chegou a maior nível desde 2010
Tem acontecido a cada mês. Um relatório produzido pela Fecomercio de São Paulo mostrou que o número de famílias envidadas e inadimplentes na capital paulista bateu novamente o recorde histórico da pesquisa, iniciada em janeiro de 2010. Em abril, quase oito em cada dez casas estavam com alguma dívida ativa (75%), segundo o estudo.
Em números absolutos, isso significa que 3 milhões de famílias viviam essa situação hoje na maior metrópole do país – número que jamais havia sido alcançado até então. Além disso, outros 24% dos lares conviviam com contas atrasadas, isto é, em condição de inadimplência. Em dados absolutos, são quase 1 milhão de lares.
Também é um recorde histórico o volume de famílias que dizem que não conseguirão quitar as dívidas atrasadas: 10%, o que representa uma em cada dez famílias paulistanas.
O mês de março já havia sido de recorde: naquele mês, o porcentual de famílias que não conseguiam quitar as dívidas dentro do prazo registrou recorde, batendo a marca dos 23%, o que representava um total de 927 mil lares com contas em atraso. Já o volume das que afirmavam que não conseguiriam pagar as dívidas estava no maior patamar desde outubro de 2018: eram 9,4% nessa situação.
Em meio ao cenário de endividamento, tem crescido também a busca dos varejistas por soluções para seus clientes, para que cada um deles renegocie Casas Bahias, Boticário, Ponto Frio e outros boletos vencidos em grandes cadeias. Esse tipo de dívida, que representava cerca de 12% da composição das contas das famílias na cidade subiu para 22% agora, muito por causa da dificuldade que os consumidores encontram para seguir fazendo compras em meio à crise.
No entanto, o principal vilão segue sendo o cartão de crédito: de acordo com a pesquisa, 93,7% dos lares estavam endividados com essa modalidade em abril, o que representa quase a totalidade dos entrevistados.
Para a FecomercioSP, o aumento na taxa Selic – de 2% para 11,75% ao ano (a.a.) – encareceu os financiamentos e dificultou o acesso ao crédito, levando a uma transferência maior da renda para o sistema financeiro, e não para o consumo. Isso significa que as pessoas estão “pagando mais em juros e têm menos recursos para compras e pagamento de contas”.
Além disso, a entidade aponta que a guerra na Ucrânia, ao impactar a inflação, “dificulta ainda mais o cenário com alta das commodities agrícolas, como o trigo e a soja, além do reajuste dos combustíveis e do aumento dos alimentos”. Com isso, as pessoas buscar crédito no sistema financeiro para manter o padrão de consumo em um cenário de aumento significativo dos preços.
A perspectiva da Fecomercio é que mais gente recorra ao sistema nos próximos meses, aprofundando o fenômeno da transferência de renda para o mercado e não para o consumo. Em abril, 8% das famílias consideravam obter algum recurso com bancos ou financeiras — sendo que, entre eles, 66% pretendiam isso para arcar com compras cotidianas e 31%, para pagamento de dívidas e de contas.