Da Redação
MANAUS – O professor aposentado Nivaldo Fonseca, 77, começou a desenhar letras para anúncios de promoções em comércios da sua cidade natal, Urucurituba (a 218,6 quilômetros de Manaus), quando era jovem, e não imaginou que muitos anos depois enfrentaria uma pandemia. A habilidade artística ajudou a superar a ansiedade gerada pelo isolamento social.
Pai de nove filhos e avó de 15 netos, Nivaldo diz que tem dificuldades para ficar longe dos familiares. Isolado com a esposa Isabel de Souza, 67, os filhos precisam falar com ele do portão para prevenir contra o risco da transmissão do novo coronavírus. Mesmo com os cuidados, ele foi infectado, passou alguns dias com sintomas leves e conseguiu se recuperar.
Um dia um dos filhos deu de presente telas, tinta e pincel. A arte passou a ser um exercício de terapia. “Comecei a fazer pintura e foi assim que venci essa pandemia, com essa luta, com essa maneira de viver, de tirar aquilo que estava fluindo de forma negativa”, disse.
Alguns dos quadros foram vendidos, outros doados. Ele também passou a reciclar antenas parabólicas com as quais fabrica escudos de times de futebol. “Pintar me trouxe um ânimo muito grande. Isso tirou 90% das coisas ruins que eu estava sentindo”, disse. “A arte me tirou a solidão, o mal-estar”, completou o professor.
Nivaldo não revelou o preço das obras negociadas. “Foi mixaria”, brincou.
Docência
Nivaldo começou a trabalhar aos 40 anos quando chegou a Manaus onde estudou para ser professor. Em 1984 ele começou a lecionar e passou 30 anos dando aulas. Ele diz que aprendeu principalmente com as crianças do ensino fundamental, com quem passou a maior parte do tempo de professor. Nivaldo disse não lembrar das disciplinas que lecionou.
“Depois que entrei na profissão de professor eu lidei com muitas crianças, de 1º a 8º séries do fundamental, e aí a gente vai vendo o que agrada as crianças e a gente usa muito dessas coisas. Eu sempre gostei disso”, diz.
Nivaldo afirma que a vida de professor não é fácil e precisa de estudo constante. ” Agente tem que estudar todo dia, tem que fazer os planos de aula, pegar no livro para estudar e ter aquela capacidade de agir. Não só como escrita, mas como habilidade para trabalhar com criança. Eu aprendi muita coisa”, diz.