Da Redação
MANAUS – Mais idosos e menos trabalhadores formais e maior consumo de energia elétrica comprometerão a Previdência no País até 2035. Na Amazônia, o uso e conservação de recursos naturais e o aumento da pressão (nacional e internacional) sobre os recursos hídricos terão impactos diretos nas políticas públicas na região. Esses cenários constam no estudo ‘Brasil 2035 – Cenários para o Desenvolvimento’, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), apresentado nessa quarta-feira, 4, em Manaus.
A pesquisa estima quatro cenários para o País em 2035. As análises incluem 18 megatendências, entre elas mudanças demográficas e crescimento da demanda por energia. Empresários do Amazonas querem desenvolver um estudo semelhante para Manaus.
Conforme o Ipea, o estudo tem o objetivo de “identificar elementos que subsidiem a formulação de estratégias de desenvolvimento para o Brasil”. A intenção era produzir subsídios que contribuam para a tomada de decisão e a formulação de estratégias de longo prazo.
Entre as 18 megatendências para os próximos anos estão a manutenção das mudanças demográficas, que, segundo Curado, vão causar impactos nas políticas públicas, especialmente nas relacionadas à Previdência. “O que nós temos é uma quantidade maior de pessoas que, no futuro, serão afetadas por uma quantidade menor de pessoas para sustentá-las. Os mais velhos serão mais numerosos e os que os sustentarão serão menos. Isso é um perigo para o sistema previdenciário de uma maneira geral”, disse Maurício Fleury Curado, coordenador do Núcleo de Cenários e Estudos Perspectivos da Diretoria de Estudos e Relações do Ipea, recomendando que a população reduza o consumo e poupe para a velhice.
O estudo cita, ainda, o crescimento da demanda por energia. Para o pesquisador, o Brasil é referência em modelo energético por ter buscado fontes não usuais. “A matriz energética brasileira já é bem mais sustentável que a grande maioria das matrizes energéticas dos outros países, que usam ainda muito carvão mineral, muito petróleo. Nós temos, por exemplo, a energia hidroelétrica, que é uma energia mais limpa com uma participação muito relevante na nossa matriz energética. Esse protagonismo do Brasil com relação à política energética já ocorre há alguns anos e pode continuar ocorrendo porque o Brasil tem se preocupado, sim, na descoberta e no uso de novas fontes. A energia eólica ainda é incipiente, mas cresce a taxas muito altas mesmo, do mesmo modo que a energia fotovoltaica (solar)”, explicou.
Amazônia
“O desafio é perceber o valor da água, a importância que ela terá cada vez mais daqui pra frente, e conseguir fazer um ajuste com relação aos seus usos múltiplos. A água serve para tudo. Ela é uma grande fonte de insumo para a agricultura, para a indústria, para as famílias”, disse Maurício Fleury Curado, sobre as demandas da região. “É fundamental que haja um arranje de forma que seja possível que todos possam ou, em certa parte pelo menos, possam ter acesso à água. O uso sustentável, o manejo da água, é uma questão fundamental para o desenvolvimento e para a sustentabilidade de uma população, até de uma nação”, avaliou.
O representante do Ipea destacou que o estudo contou com a contribuição de militares que destacaram a importância da Amazônia. “Essa participação (dos militares) se refletiu num espaço mais destacado que normalmente a Amazônia não tem em outros estudos. Não é apenas a biodiversidade, não é apenas a diversidade étnica e cultural, não é apenas a disponibilidade de água, não é apenas o potencial de recursos naturais, minerais. É todo esse conjunto e o próprio espaço físico que é muito relevante para o País, até mesmo em termos geopolíticos”, ressaltou.
O professor José Alberto, que é conselheiro no Codese Manaus, foi um dos especialistas ouvidos durante a pesquisa realizada pelo Ipea. “O estudo é um grande guarda-chuva para quem quiser fazer qualquer planejamento no Brasil, seja de Manaus, de Belém, de onde for. A gente pode fazer projeções de cenários, pensamento de longo prazo sem ser apenas na base do ‘eu acho’ ou na base de uma lista de intenção, de uma lista de ideias. Nós podemos usar ferramentas técnicas, recursos metodológicos fundamentados cientificamente para trazer à tona tudo isso que, de fato, é relevante para o futuro de uma comunidade, de um estado, de uma sociedade como nós aqui no Amazonas”, afirmou.
De acordo com o presidente do conselho, Antonio Azevedo, a instituição está buscando uma parceria com o Ipea, para desenvolver um estudo semelhante, com foco em Manaus. “Nós vamos ter uma conversa com o Maurício para ver uma forma de viabilizar esse trabalho que foi feito a nível nacional, fazer localmente, olhar os possíveis cenários para o Amazonas em 2038, já pensando 20 anos na frente. Esse vai ser um grande desafio. Se nós conseguirmos, junto com a universidade, junto com todos aqueles que participaram aqui, que estão muito interessados, viabilizar vai ser uma grande conquista para Manaus”, destacou.
Cenários
Com os resultados do estudo, o Ipea prospectou quatro cenários fictícios para o Brasil daqui a 17 anos. A ideia é identificar que caminho o País poderá trilhar até 2035 para construir um ambiente desenvolvido, com uma sociedade mais livre, justa e solidária em 2100. O primeiro deles seria o cenário ‘Vai levando’, com permanência da cultura de curto prazo. Nesse cenário, o Estado age de forma reativa e desordenado, respondendo apenas a pressões emergenciais.
No cenário ‘Crescer é o lema’, os governos priorizam o crescimento econômico, mas as riquezas não foram distribuídas a todos. A dívida social, deixada em segundo plano, provocaria tensões sociais.
O Ipea chama o terceiro cenário fictício de ‘Novo Pacto Social’, em que sucessivos governos priorizam a dívida social, o que provoca o crescimento moderado da economia. No entanto, os investimentos seguiriam focados em setores tradicionais sem espaço para inovação.
O quarto cenário é chamado de ‘Construção’. Nesse ambiente, 2035 será um ano em que o Brasil avançou de forma lenta, conciliando políticas econômicas e sociais e se utilizando de uma estratégia de crescimento sustentável. Isso seria resultado de acordos firmados e do planejamento de longo prazo. Haveria coordenação duradoura entre os investimentos públicos e privados, “na construção das bases de uma sociedade mais dinâmica e inovadora”.