MANAUS – Ainda bem que não prosperou a Resolução 726/2018 do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), que obrigava os motoristas a passar por um curso obrigatório na hora de renovar a Carteira Nacional de Habilitação. Os argumentos que justificavam a medida eram os mais estapafúrdios. O principal deles era a medida reduziria os acidentes de trânsito.
No Brasil, todos sabem, esses cursos só têm servido para encher os bolsos de donos de autoescolas. Os cursos não capazes sequer de despertar o interesse dos alunos para a busca de conhecimento sobre as normas e legislação de trânsito. Muitos passam na prova de múltipla escolha na base do “chutômetro”.
Os cursos de direção são outro problema. Os instrutores, com raríssimas exceções, ensinam mal e porcamente o básico do básico, alguma coisa insuficiente para o aluno fazer o exame de direção. Muitos concluem o curso, passam no exame, mas são incapazes de dirigir nas ruas movimentadas de Manaus.
Conheço pessoas que podem servir de exemplo nos dois casos. No caso do curso de legislação, conheci uma pessoa que foi reprovada pelo menos quatro vezes. Desde a primeira vez, passou a estudar sozinha, em aplicativos disponíveis na internet. Sem a ajuda de ninguém, um dia ela foi aprovada. Na autoescola, não faltou proposta de pagamento de propina para aprovação, coisa que ela nunca aceitou.
Fez como se fazia antes da criação das autoescolas: o candidato a motorista comprava um material impresso em banca de revista e estudava em casa. Fazia os exames de praxe e marcava a data da prova de legislação. Estudava em casa e se submetia à prova no Detran.
No caso do curso de direção, a situação é ainda pior. Falo das autoescolas de Manaus. Mesmo os alunos que tem alguma noção direção veicular tem dificuldades. Conheci uma pessoa que concluiu o curso e não sabia acelerar o carro. Estancava o veículo pelos menos duas a cada três vezes que tentava sair. Fui aluno e sei bem como funciona. Os instrutores orientam os alunos a não acelerar até que o carro ande sozinho, com o motorista soltando apenas a embreagem, na primeira marcha. Essa instrução serve para quem nunca dirigiu um veículo, mas depois das primeiras aulas, é necessário ensiná-los a acelerar e soltar a embreagem, como fazem os motoristas profissionais.
Como o aluno fica rodeado pelo fantasma do estancamento, mais da metade dos que se submetem à prova de direção é reprovada e precisa refazer o exame. Isso representa um custo maior nas elevadas despesas para se tirar a CNH: pagamento de uma nova taxa ao Detran e pagamento de aluguel do carro para o próximo exame. Na maioria das vezes, o aluno se submete a novas aulas de direção, como se o problema fosse ele e não as autoescolas.
A Resolução 726/2018 era mais uma sangria no bolso da população brasileira. E mais um presentão para as autoescolas. Felizmente, o Ministério das Cidades se deu conta de que a medida não passava de um fardo para os motoristas brasileiros e decidiu revogá-la.