MANAUS – A Prefeitura de Manaus começou a discutir nesta semana os pilares do que deve ser o Plano de Mobilidade Urbana do município. As consultas começaram a ser feitas na última terça-feira, com um debate com o Conselho Regional de Arquitetura e Urbanos (CAU-AM). Nesta quarta-feira, duas reuniões foram realizadas: pela manhã, com o Câmara dos Dirigentes Logistas de Manaus (CDLM), e à tarde, na Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas (Adua), organizada pelo Movimento Educar para a Cidadania.
Nos encontros, o técnico da Oficina Consultores José Carlos Xavier Grafite faz uma apresentação dos estudos realizados pela consultoria desde 2011 em Manaus na área do transporte e trânsito, e depois abre-se o debate para a apresentação de propostas para compor o Plano de Mobilidade. Deste mês até a primeira quinzena de janeiro de 2015, de acordo com o presidente da Superintendência Municipal de Transportes Urbanos (SMTU), Pedro Carvalho, serão realizados esses encontros, que vão servir para debater o tema e colher sugestões.
Em janeiro, essas propostas serão compiladas e apresentadas em audiências públicas que serão realizadas a partir de fevereiro. Em março, pelo calendário montado pelos órgãos municipais envolvidos, será apresentada a proposta de legislação do Plano de Mobilidade Urbana para a Câmara Municipal de Manaus (CMM)
Discussão
Uma das propostas apresentadas durante o debate na Adua, nesta quarta-feira, foi a de que o município apresente uma proposta para o transporte coletivo que não seja de apenas uma gestão. O professor aposentado Alcebíades de Oliveira, cobrou que um plano de mobilidade precisa imprimir uma política de Estado, com projetos de longo prazo. “A cidade tem que ser planejada para 20 anos, e não um projeto que é iniciado agora e abandonado pelo próximo gestor”, disse.
A proposta de BRT, apresentada pelo prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), como o modal escolhido pela prefeitura para ser implementado pela atual gestão, foi criticado durante o debate. A principal queixa é que a decisão foi tomada antes de uma discussão ampla com a sociedade.
Pedro Carvalho justificou que o BRT é uma tecnologia adotada em mais de 120 cidades no mundo e nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo deste ano, nove optaram pelo modal. “É o modal que apresenta melhores resultados. Um BRT bem estruturado pode ter quase a mesma eficiência de um veículo leve sobre trilhos (VLT)”, disse o presidente.
Para o professor Alcimar Oliveira, do curso de Filosofia e presidente da Adua, além das mudanças estruturais necessárias para a mobilidade urbana, é preciso investir na educação para a cidadania. “Temos que passar por um processo de educação. Primeiro, porque não há salvação fora das cidades. Ou pensamos as cidades de modo sério e coletivo, ou vamos nos afogar cada vez mais num trânsito caótico. Não é possível pensar a cidade sob a ótica do indivíduo, do transporte individual”, disse. Ele deu o exemplo de um vizinho, com uma família de cinco pessoas e quatro carros na garagem.
O consultor José Grafite corrobora com o pensamento de Alcimar. Ele disse que nenhuma cidade do mundo resolveu o problema de mobilidade urbana a partir do transporte individual. Durante a apresentação, ele mostrou estudos que comprovam que o carro é o meio de transporte que permite o menor volume de pessoas transportadas nas vias. “Intervenções viárias são necessárias, mas não resolvem o problema do trânsito se não houver uma opção pelo transporte coletivo. No futuro, as pessoas vão ter que abrir mão dos carros”, disse.
Participaram do debate, pela prefeitura, além do presidente do SMTU, o diretor-presidente do Instituto Municipal de Engenharia e Fiscalização do Trânsito (Manaustrans), Paulo Henrique Martins. Segundo ele, as consultas serão feitas, também, por grupos de interesse. Um desses grupos que já tem reunião agendada é o dos ciclistas. “Nós vamos também fazer reuniões para discutir temas específicos, como os portos de Manaus, que tem relação direta com a mobilidade urbana”, afirmou.